domingo, 7 de setembro de 2014

OUTROS CONTOS

«Palavras de Um Certo Morto», conto poético por Antero de Quental.

«Palavras de Um Certo Morto»
Desenho a Carvão de JPGalhardas

259- «PALAVRAS DUM CERTO MORTO»

Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo, à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto...

Só o espírito vive: vela absorto
Num fixo, inexorável pensamento:
“Morto, enterrado em vida!” o meu tormento
É isto só... do resto não me importo...

Que vivi sei-o eu bem... mas foi um dia,
Um dia só ‑ no outro, a Idolatria
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me

Como se eu fosse alguém! como se a Vida
Pudesse ser alguém! — logo em seguida
Disseram que era um Deus... e amortalharam-me!

Antero de Quental

PS- Outros Contos referente ao dia 06. 09. 2014
Poet'anarquista

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