«Conheci-te»
Poema de José Agostinho Baptista
566- «CONHECI-TE»
Conheci-te
quando eras apenas o viajante sem nome,
a rapariga admirável de Vera Cruz.
Devagar
toquei a tua fronte escura — 'te acuerdas?'
O rosto, a nuca húmida, os ombros,
descendo,
descendo sempre
até ao cálido refúgio, ao centro
onde me perdi.
Revejo-te na solidão de uma pátria febril,
nestas mãos de peregrino da meia idade,
no furor do meu sangue estrangeiro,
na inteligível voz de uma alma devastada.
Amei-te quanto pude
sobre a terra dos antepassados,
sob o olhar ferido da águia azteca,
sobrevoando
o tempo alto e azul,
atenta sobretudo à loucura de Jeremias,
o homem que sou.
Tudo aconteceu assim,
invariavelmente na planície sufocante e na pura
neve dos sonhos,
na penumbra das tardes do Pacífico e no Golfo
onde renunciámos à paixão e à vida.
Conheci-te
quando eras apenas o viajante sem nome,
a rapariga admirável de Vera Cruz.
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