«16 Linhas Cravadas»
Namorados/ Cândido Portinari
801- «16 LINHAS CRAVADAS»
Lu foi comprar o queijo que Dalmo queria para o lanche. Na
rua, encontrou Miro, que namorava quando tinha 15 anos e era virgem. Foram
andando na companhia das lembranças. As novenas… o cinema nas matinés de
domingo… os bailes no clube dos Marujos, os dois dançando sempre ao fundo do
salão porque, se o pai dela visse o agarramento, era escândalo na certa e o
soco do velho Justa doía mais que coice de mula… o mato escuro no fim da rua…
- Eu moro aqui. Quer entrar?
Miro foi o primeiro homem de sua vida e, na época, ela ficou
sem saber direito o que isso é. O rapaz tinha 17 anos e também era virgem.
- Quer entrar?
Lu cedeu à curiosidade, entrou e conheceu delícias. Naquela
noite, Miro ia a São Paulo, ela foi junto. De lá, seguiram para a Europa,
Lisboa, Madrid, Paris, Roma, Berlim, Londres… Céus de diversos tons de azul,
colchões e rostos diferentes… Um dia ela pensou no que fizera a Dalmo: nem
sequer um telefonema de adeus. Ele não merecia. Tão amoroso, gentil. Estavam em
Stutgart, Miro dormia o sono solto. Correu para o aeroporto. Era o fim de tarde
quando Lu entrou em casa e, antes que Dalmo quisesse saber a razão daquela
ausência de dois anos e meio, ela mostrou o embrulho e falou como se tivesse
saído ainda há pouco.
- O queijo que você quer para o lanche.
Mário Lago
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