segunda-feira, 30 de maio de 2016

OUTROS CONTOS

«16 Linhas Cravadas», por Mário Lago.

«16 Linhas Cravadas»
Namorados/ Cândido Portinari

801- «16 LINHAS CRAVADAS»

Lu foi comprar o queijo que Dalmo queria para o lanche. Na rua, encontrou Miro, que namorava quando tinha 15 anos e era virgem. Foram andando na companhia das lembranças. As novenas… o cinema nas matinés de domingo… os bailes no clube dos Marujos, os dois dançando sempre ao fundo do salão porque, se o pai dela visse o agarramento, era escândalo na certa e o soco do velho Justa doía mais que coice de mula… o mato escuro no fim da rua…

- Eu moro aqui. Quer entrar?

Miro foi o primeiro homem de sua vida e, na época, ela ficou sem saber direito o que isso é. O rapaz tinha 17 anos e também era virgem.

- Quer entrar?

Lu cedeu à curiosidade, entrou e conheceu delícias. Naquela noite, Miro ia a São Paulo, ela foi junto. De lá, seguiram para a Europa, Lisboa, Madrid, Paris, Roma, Berlim, Londres… Céus de diversos tons de azul, colchões e rostos diferentes… Um dia ela pensou no que fizera a Dalmo: nem sequer um telefonema de adeus. Ele não merecia. Tão amoroso, gentil. Estavam em Stutgart, Miro dormia o sono solto. Correu para o aeroporto. Era o fim de tarde quando Lu entrou em casa e, antes que Dalmo quisesse saber a razão daquela ausência de dois anos e meio, ela mostrou o embrulho e falou como se tivesse saído ainda há pouco.

- O queijo que você quer para o lanche.

Mário Lago

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