sábado, 13 de agosto de 2016

OUTROS CONTOS

«A Maçã», por H. G. Wells.

«A Maçã»
As Três Graças/ Raphael Sanzio

852- «A MAÇû

- Preciso desfazer-me dela! – falou, rompendo bruscamente o silêncio, o homem que estava sentado a um canto do compartimento.

Não tendo ouvido bem, Hinchcliff levantou a cabeça. Até então tinha estado absorto a contemplar sua borla de estudante, atada com um cordão às calças da maleta de viagem, como um sinal exterior e visível da sua posição pedagógica recém-adquirida; deixara-se ficar imerso no deslumbramento que lhe causavam aquela borla e as agradáveis perspectivas que ela lhe desvendava, Hinchcliff acabara de matricular-se na Universidade de Londres e ia ocupar um lugar de segundo assistente no Colégio de Holmwood, situação essa bastante invejável. Fitou, intrigado, o seu companheiro de viagem.

- Por que não me desfazer dela? – repetiu o desconhecido. – dá-la!... Por que não?

Era um homem alto, moreno, de tez queimada pelo sol, o rosto pálido. Conservava os braços estreitamente cruzados sobre o peito e apoiava os pés em um pequeno banco à sua frente. Alisava o bigode negro, enquanto olhava fixamente para os bicos dos sapatos.

- Porque não? – tornou a dizer.

Hinchcliff tossiu.

O desconhecido ergueu os olhos – uns olhos de cor cinzenta escura, penetrantes – e durante coisa de um minuto fitou Hinchcliff como se não o visse. Depois seu rosto pareceu assumir uma expressão de interesse.

- Sim, - disse lentamente, - por que não? E acabar de uma vez com isto?

- Penso que não o estou compreendendo muito bem – disse Hinchcliff, tossindo novamente.

- O senhor não está me compreendendo? – perguntou, maquinalmente, o desconhecido, enquanto seus olhos iam de Hinchcliff para a maleta, onde se ostentava a borla acadêmica, e voltavam a examinar o rosto penugento de Hinchcliff.

- O senhor falou um pouco de repente – disse Hinchcliff , à guisa de desculpa.

- E não haveria de falar? – replicou o desconhecido, como a seguir o curso de seus pensamentos. – O senhor é estudante, não?

- Sou estudante por correspondência da Universidade de Londres – respondeu Hinchcliff com indisfarçado orgulho e levando nervosamente a mão à gravata.

- Anda em busca do saber – falou o desconhecido. E com um rápido movimento tirou os pés de cima do banco, pôs a mão sobre os joelhos e fitou Hinchcliff como se nunca em sua vida tivesse visto um estudante. – Anda, sim! – e apontou para ele com o dedo em riste.

Depois levantou-se, tirou do porta-bagagem a sua maleta e abriu-a. Sem dizer uma palavra, apanhou lá dentro um objeto de forma arredondada, envolvida em grande quantidade de papel prateado, que desdobrou cuidadosamente. Estendeu o objeto a Hinchcliff: era um pequena fruta de cor dourada, muito macia ao tato.

Hinchcliff permaneceu um instante boquiaberto, os olhos arregalados. Não fez nenhum gesto para pegar no objeto – se é que lhe estava sendo oferecido.

- Isto aqui – disse o desconhecido, articulando lentamente as palavras – é a Maçã da Árvore da Ciência do Bem de do Mal. Olhe para ela: pequenina, brilhante, maravilhosa... A Ciência do Bem e do Mal!... E vou lhe dar.

Hinchcliff teve um minuto de penoso esforço mental, depois lhe ocorreu a explicação evidente, que esclarecia toda a situação: estava diante de um louco – um louco de temperamento galhofeiro. Inclinou a cabeça, num gesto de condescendência.

- A Maçã da Árvore da Ciência do Bem e do Mal, hein? – falou Hinchcliff, olhando para a fruta e simulando um profundo interesse: tornou a encarar o seu interlocutor. – Mas por que não a come o senhor mesmo? E, além disso, como é que ela veio ter às suas mãos?

- Nunca se estraga! Há três meses que a possuo e está sempre brilhante, lisa, madura e apetitosa, como a vê agora.

Pôs de novo a mão sobre o joelho e contemplou a maçã com ar sonhador, depois começou a embrulhá-la de novo no papel prateado, como se tivesse abandonado a idéia de oferecê-la.

- Mas como foi que a arranjou? – insistiu Hinchcliff, que tinha seu lado polêmico. – E como sabe que é o fruto da Árvore?

- Recebi este fruto – disse o desconhecido – há três meses, em troca de um gole d’água e de uma côdea de pão. O homem de quem o ganhei, por lhe ter salvo a vida, era um armênio. A Armênia! Aquele país de maravilhas, o primeiro de todos os países, onde a Arca de Noé permanece até o dia de hoje, sepultada nas geleiras do monte Arará! Aquele homem, como lhe dizia, ao fugir com outros diante dos curdos, que haviam caído sobre eles, foi ter a lugares desertos no alto das montanhas, lugares que ninguém na terra conhece. Fugindo diante de seus perseguidores, chegaram a uma encosta entre os picos das montanhas. Crescia ali uma erva verde, cujas hastes eram como lâminas que cortavam e dilaceravam impiedosamente todos aqueles que se aventuravam a atravessá-las. Os curdos iam-lhes no calcanhar e não lhes restava outra esperança de salvação a não ser embrenharem-se naquele ervaçal. E o pior foi que os atalhos que eles abriram à custa do próprio sangue serviram aos curdos para os seguirem. Todos os fugitivos foram mortos, exceto aquele armênio e um outro. Ele ouviu os gritos e gemidos dos companheiros e o farfalhar das ervas em volta daqueles que os perseguiam, pois essas ervas eram da altura de um homem. Ouviu então um brado e respostas e, quando ele enfim parou de correr, tudo estava em silêncio. Continuou em frente, sem nada compreender, com o corpo dilacerado e sangrando, até que chegou a uma escarpa que dava para um precipício. Dali pôde ver, atrás de si, o ervaçal incendiado e a fumaça erguendo-se com um véu entre ele e os inimigos.

O desconhecido calou-se por um instante.

- Bem, e depois? – quis saber Hinchcliff.

- Lá estava ele, pois, o corpo todo rasgado pelas ervas cortantes. Os rochedos escaldavam ao sol da tarde – o céu como latão fundido – e a fumaça do incêndio caminhando para ele. Não ousou permanecer ali. A morte não o atemorizava; mas a tortura! Ao longe, para lá da fumaça, ouviu gritos e súplicas. Eram as vozes das mulheres. Então ele começou a subir por uma garganta nos penhascos, por entre moitas de arbustos cujos ramos secos o espetavam como espinhos, até chegar ao topo da rocha, onde se ocultou. Encontrou ali o companheiro, um pastor, que também havia escapado. Como o frio, a fome e a sede eram nada em comparação com os curdos, ambos continuaram a escalada em meio à neve e ao gelo. Assim erraram durante três dias.

 “No terceiro, tiveram uma visão. Sei que é comum as pessoas famintas terem visões, mas no caso que lhe estou contando temos esta fruta aqui. – E mostrou na mão a fruta envolta em papel prateado. – Ouvi também esta narração da boca de outros montanheses, que conheciam algo da lenda.

“Súbito, o vale iluminou-se ao longe, muitas milhas ao longe, com uma chama dourada que vinha se aproximando pouco a pouco, fazendo as árvores parecerem negras como a noite, e envolvendo as encostas e suas próprias figuras num resplendor de ouro. Perante essa visão, os dois homens, que conheciam as lendas das montanhas, adquiriram a certeza de que estavam diante do Éden, ou da sentinela do Éden, e prostraram-se com o rosto no chão, como fulminados de morte.

Quando ousaram levantar os olhos, o vale estava de novo na escuridão; logo a claridade reapareceu, e era como âmbar ardente.

“O pastor pôs-se de pé e, soltando um grande grito, deitou a correr para a luz, mas o outro estava assombrado demais para segui-lo. Deixou-se ficar, aturdido, estupefato, aterrorizado, vendo o companheiro atirar-se na direção daquele clarão que avançava. Mal porém o pastor dera os primeiros passos, ouviu-se um estrondo como de trovão, e um bater de asas invisíveis por sobre o vale – e desceu um grande e terrível medo; o homem que me deu esta fruta se voltou, para ver se ainda podia fugir. Tornou a subir a encosta o mais depressa possível, sentindo aquele tumulto atrás de si e, ao se chocar com uma daquelas árvores enfezadas, uma fruta madura caiu-lhe na mão. Esta fruta. Imediatamente desabou sobre ele o rumor de asas e de trovões. Rolou por terra e desmaiou. Quando voltou a si, achava-se entre as ruínas enegrecidas de sua aldeia, onde eu e alguns outros socorríamos os feridos. Fora uma visão? Mas ele ainda apertava na mão o fruto dourado da árvore. Havia ali outras pessoas que conheciam a lenda, e que sabiam que fruto podia ser esse.

Fez uma pausa.

- Ei-lo aqui.

Era sem dúvida uma história extraordinária para se contada num vagão de terceira classe da linha de Sussex. Era como se o real fosse apenas um véu do fantástico, e aqui o fantástico transbordava.

- É ele mesmo? – foi tudo quanto Hinchcliff pôde murmurar.

- Conta a lenda – prosseguiu o desconhecido – que aquelas árvores raquíticas que crescem ao redor de um jardim provêm da maçã que Adão segurava quando ele e Eva foram expulsos do paraíso. Sentiu qualquer coisa na mão, viu que era a maçã meio comida e, enraivecido, atirou-a longe. Desde então crescem ali aquelas árvores no meio do vale inóspito, rodeado de neves eternas, e a cuja entrada as espadas de fogo montam guarda até o Dia do Juízo.

- Eu julgava que todas essas histórias... – Hinchcliff fez uma pausa hesitante – eram apenas fábulas... vamos dizer, parábolas. Então o senhor quer dizer que na Armênia...

Em resposta à pergunta inconclusa, o desconhecido exibiu o fruto na mão espalmada.

- Mas o senhor não tem certeza alguma – disse Hinchcliff – de que este seja o Fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. Pode ser que o homem tivesse visto, digamos, uma espécie de miragem. Vamos supor...

- Olhe para ela, pediu o desconhecido.

Era, sem dúvida, um globo de aspecto estranho, não exatamente uma maçã, como Hinchcliff bem podia notar, e tinha uma curiosa cor dourada e brilhante, quase como se a luz fizesse parte de sua substância. Enquanto a contemplava, começou a ver de maneira mais vívida o vale isolado entre as montanhas, as espadas de fogo dos guardiões do jardim, de envolta com as estranhas imagens da Antiguidade que a história lhe suscitava.

Esfregou os olhos com o nó dos dedos.

- No entanto...

- Ela permanece como a recebi há três meses, talvez até alguns dias mais, lisa e fresca. Sem secar, sem murchar, sem apodrecer.

- Mas o senhor mesmo – disse Hinchcliff – acredita realmente que...

- É o Fruto Proibido.

Não podia haver dúvida quanto à seriedade nem quanto à perfeita sanidade mental do homem.

- O Fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal – repetiu ele.

- Admitamos que seja – disse Hinchcliff, após uma pausa e sem tirar os olhos da fruta. – Afinal de contas, esse não é o meu gênero de ciência, a espécie de conhecimento que me interessa. Quero dizer Adão e Eva já o comeram.

- Nós herdamos o pecado, não a ciência – replicou o desconhecido. – Comendo-o, tudo voltaria a ser claro e brilhante. Veríamos o âmago de todas as coisas, através de todas as coisas, até o mais profundo de todas as coisas.

- Então porque não a come? – indagou Hinchcliff, numa súbita inspiração.

- Foi com essa intenção que fiquei com ele. O homem já caiu em tentação uma vez. Simplesmente comê-lo de novo mal poderia...

- Saber é poder! – falou Hinchcliff.

- Mas será a felicidade? Sou mais velho que o senhor, tenho mais do dobro de sua idade. Muitas e muitas vezes tenho estado com este fruto nas mãos, e todas as vezes me faltou coragem, ao pensar em tudo quanto se poderia saber, naquela terrível lucidez... Suponhamos que de repente o mundo inteiro se lhe tornasse implacavelmente claro.

- Creio que isso – declarou Hinchcliff – constituiria, de modo geral, uma grande vantagem.

- Suponhamos que pudesse ler no coração e na mente daqueles que o rodeiam, até o mais recôndito de suas almas... de pessoas a quem o senhor ama e a cuja estima dá grande valor.

- Logo descobriria os embustes – disse Hinchcliff, visivelmente chocado com a idéia.

- E o que é pior, conhecer-se a si mesmo, despido das mais íntimas ilusões. Olhar para si mesmo com os olhos de ouro. Tudo que os desejos e as fraquezas o impediram de fazer. Ver-se friamente, sem misericórdia.

- Mas isso, também, seria uma coisa excelente. “Conhecer-te a ti mesmo”, não é?

- O senhor ainda é jovem – disse o desconhecido.

- Se não pensa em comer a maçã e se ela o incomoda, por que simplesmente não a joga fora?

- Acho que também neste ponto o senhor não me compreende. Para mim seria inconcebível jogar fora uma coisa como esta, esplêndida, maravilhosa. Quem a possui fica preso a ela. Mas, por outro lado, poderia dá-la. Dá-la a alguém que tenha sede de saber, que não sinta nenhum temor ante a idéia de uma percepção clara...

- É preciso lembrar – refletiu Hinchcliff -  que poderia tratar-se de uma fruta venenosa.

Nesse momento o seu olhar captou, pela janela, algo imóvel – a extremidade de uma grande tabuleta branca com letras pretas: ...MWOOD. Pôs-se de pé num salto, muito aflito.

- Valha-me Deus! Holmwood! – exclamou, e a realidade palpável imediatamente dissipou as fantasias que sua imaginação começava a tecer.

Num ápice, estava abrindo a portinhola do carro, a maleta na mão. Já o guarda-freios agitava a bandeira verde. Hinchcliff saltou.

- Tome! – gritou uma voz atrás dele. Voltou-se e viu os olhos negros e brilhantes do desconhecido, a fruta dourada na mão estendida através da portinhola. Hinchcliff apanhou-a instintivamente, quando o trem já se punha em movimento.

- Não!

Era o desconhecido que gritava, fazendo um gesto como para reaver a fruta.

- Cuidado! – bradou um empregado da estação precipitando-se para fechar a portinhola.

O desconhecido, com a cabeça e o braço para fora da janela, gritava excitadamente qualquer coisa para Hinchcliff, que não entendeu. Depois, a sombra da ponte encobriu-o e um minuto depois havia desaparecido. Atônito, com a fruta maravilhosa na mão, Hinchcliff viu o último vagão sumir na curva. Durante alguns segundos ainda, permaneceu naquele estado de confusão. Depois reparou que duas ou três pessoas na plataforma o observavam com interesse. Não era ele o novo professor do Colégio de Holmwood, que ia estrear nas suas funções? Ocorreu-lhe que aquelas pessoas podiam supor que ele, ingenuamente, queria refrescar-se chupando uma laranja. Ruborizou-se e escondeu a fruta no bolso do paletó, onde ela ficou fazendo uma saliência indiscreta. Mas não havia outro remédio e ele se dirigiu para as pessoas que o observavam, tentando embalde dissimular o seu embaraço, e indagou onde ficava o Colégio e a maneira como podia transportar para lá sua maleta e as duas caixas de metal que estavam na plataforma. – “Que gente imaginosa, capaz de inventar as histórias mais fantásticas!”

Foi informado de que a bagagem podia ser levada num carrinho de mão, por meio xelim, e que ele próprio podia ir à frente, a pé. Pareceu-lhe haver uma nota de ironia na voz do seu informante. Devia estar causando uma impressão bem pouco lisonjeira.

A curiosa seriedade do seu companheiro de viagem e o fascínio de sua história haviam, por um momento, desviado o curso dos pensamentos de Hinchcliff, interpondo como que uma névoa que o fizera esquecer suas preocupações imediatas. Chamas que corriam de um alado para o outro... Voltou a concentrar suas idéias sobre as novas funções que assumira e sobre a impressão que deveria causar a Holmwood em geral e ao Colégio em particular. Antes de deixar a estação, sua mente já estava de novo serena.

Mas é extraordinário como uma fruta de um dourado brilhante, com apenas oito centímetros de diâmetro, pode prejudicar a boa aparência de um rapaz circunspecto. Dentro do bolso do casaco preto ela fazia uma protuberância que lhe estragava completamente a linha. Cruzou com uma velhinha miúda, toda de preto, cujo olhar caiu imediatamente sobre aquela excrescência no seu bolso. Como tivesse uma das mãos enluvada e levasse na outra a bengala, não havia como segurar a fruta. Em determinado trecho do caminho, propiciamente deserto, tirou-a do bolso e tentou metê-la no chapéu. Mas era grande demais, o chapéu ficou dançando de um modo grotesco; quando ia tirá-la, dobrou a esquina um empregado do açougue em seu veículo.

- Com todos os diabos! – exclamou Hinchcliff.

Podia comê-la sem mais delongas e entrar na posse da onisciência. Mas certamente o tomariam por um néscio se entrasse na cidade comendo uma fruta a escorrer suco – pois tudo indicava que era uma fruta sumarenta. Se acontecesse passar um dos alunos, poderia ir por água abaixo a disciplina que lhe caberia impor. O suco poderia também sujar-lhe o rosto e manchar-lhe os punhos. Ou talvez fosse ácido como o do limão e, caindo na roupa, a desbotasse.

Numa volta do caminho, divisou duas bonitas moças, iluminadas pelo sol. Caminhavam devagar, tagarelando, na direção da cidade; a qualquer momento poderiam olhar para trás e ver um rapaz de rosto afogueado levando na mão uma espécie de tomate amarelo e fosforescente. Certamente desatariam a rir.

- Para o diabo que o carregue! – e Hinchcliff, com gesto rápido, atirou aquele fruto incômodo por cima do muro de pedra de um pomar que margeava a estrada. Quando o viu desaparecer, sentiu um leve arrependimento, que não durou mais que alguns segundos. Logo tornou a segurar a luva e a bengala com a maior elegância e, a passos firmes, muito empertigado e senhor de si, ultrapassou as duas jovens.

Porém naquela mesma noite, tarde da noite, Hinchcliff teve um sonho. Viu o vale e as espadas flamejantes, as árvores raquíticas e retorcidas, e soube que aquele fruto que ele levianamente jogara fora era realmente da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. Acordou muito deprimido.

No correr da manhã, a penosa sensação foi desaparecendo, porém mais tarde o arrependimento veio de novo atormentá-lo. Contudo, o fato não lhe vinha à mente quando ele estava bem ou mergulhado em suas ocupações.

Por fim, numa noite de lua, por volta das onze horas, quando toda Holmwood estava adormecida, os remorsos acordaram dentro dele com redobrada intensidade e o impeliram à aventura.  Saiu do colégio às escondidas, galgou o muro do pátio de recreio e, atravessando a cidade silenciosamente, chegou ao caminho da estação, e pulou para dentro do pomar aonde havia atirado a fruta. Mas nada encontrou por entre a erva molhada e os frágeis e intangíveis glóbulos dos dentes-de-leão.

H. G. Wells

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