quarta-feira, 19 de outubro de 2016

OUTROS CONTOS

«Meditação sobre um Cabo de Vassoura», por Jonathan Swift.

«Meditação sobre um Cabo de Vassoura»
Por Jonathan Swift

903- «MEDITAÇÃO SOBRE UM CABO DE VASSOURA»

Esse cabo que você contempla agora jogado naquele canto, eu uma vez o vi florescente numa floresta: ele estava cheio de seiva, cheio de folhas, e cheio de ramos: mas agora, em vão tenta a ocupada arte humana porfiar com a natureza, amarrando esse seco feixe de gravetos a seu tronco sem seiva: agora ele é, quando muito, nada mais que o reverso daquilo que já foi, uma árvore posta ao contrário, os ramos no chão, e a raiz no ar; agora ele é manuseado por qualquer criada, condenado a fazer para ela um trabalho monótono, e, por conta de um destino caprichoso, destinado a limpar outras coisas, permanecendo ele mesmo deplorável: depois de um largo período, reduzido a um toco pelo serviço das empregadas, ele é ou jogado fora, ou condenado a um último uso, avivando alguma chama. Quando contemplei tal coisa, suspirei, e disse para mim mesmo, “certamente o homem é como um Cabo de Vassoura!” A natureza o mandou ao mundo forte e cheio de vida, em pleno desenvolvimento, com seu próprio cabelo na cabeça, conveniente folhagem desse vegetal racional, até que o machado da intemperança venha cortar seus ramos e deixá-lo com um tronco seco: ele então volta-se para as artes, põe uma peruca, se auto-valorizando com um cacho de cabelo artificial (e com o rosto todo coberto de pó), cabelo que não cresceu em sua cabeça; mas agora que nosso cabo de vassoura pretende entrar em cena, orgulhoso das características de faia que nunca teve, e todo coberto de poeira, apesar da limpeza empreendida no quarto da mais fina dama, devemos estar aptos a ridicularizar e desprezar sua vaidade. Como somos juízes parciais de nossas próprias excelências e dos defeitos dos outros!

Mas um cabo de vassoura, talvez, você dirá, é um emblema de uma árvore de cabeça para baixo; quanto ao homem, não passa de uma criatura invertida, suas faculdades animais perpétuamente instaladas em sua racionalidade, sua cabeça onde os calcanhares deveriam estar, humilhando-se sobre a terra! E mesmo assim, com todos os defeitos, ele ergue-se para ser um reformador universal e corretor de abusos, um eliminador de ofensas, que limpa todo canto prostituído da natureza, trazendo corrupções escondidas à luz, e levanta uma poderosa poeira onde antes não havia nenhuma; sempre compartilhando profundamente da poluição que ele pretende varrer; seus últimos dias são consumidos sob a escravidão de mulheres, e geralmente sob as que menos merecem; até que, reduzido a um toco, ele é ou chutado fora, ou usado para avivar chamas ao redor das quais outros podem se aquecer.

Jonathan Swift

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