«O Don Silencioso»
Romance de Mikhail Sholokhov
981- «O DON SILENCIOSO»
[Excertos]
- Cale-se, mujique!
- E os mujiques não são homens, como você?
- São mujiques, feitos de casca de árvore e recheados de mato.
Cerca de quatro dias mais tarde, os vagões vermelhos dos
trens carregados de tropas levavam os regimentos de cossacos e suas baterias
para a fronteira russo-austríaca.
"Guerra"…
Os vagões zumbiam de conversas e canções. Olhares
inquisitivos e benevolentes saudavam os cossacos nas estações, e o povo
contemplava as listras das calças dos soldados.
"Guerra…"
Mulheres acenavam com lenços, sorriam e atiravam cigarros e
doces para os soldados. Uma vez, pouco antes que o trem chegasse a Voronej, um
velho ferroviário enfiou a cabeça no vagão, onde estava Piotr Melekhov com mais
vinte e nove camaradas e perguntou:
- Estão indo?
- Sim. Entre e venha connosco, avozinho - respondeu um dos
cossacos.
- Meu rapaz... bois para o matadouro! - disse o velho,
sacudindo a cabeça em tom de reprovação.
- Então você é um bolchevista? - perguntou.
- O nome não importa - respondeu Lagutin. - Não é uma
questão de nomes, mas do que está certo. O povo quer os seus direitos, mas
estes lhe são sempre negados.
- É óbvio que os bolchevistas estão ensinando você! Não
perdeu tempo na companhia.
- Ah, capitão, é a própria vida que tem ensinado às pessoas
pacientes, os bolchevistas apenas puseram fogo no pavio.
Estava completamente exausto devido à guerra. Queria virar
as costas ao mundo incompreensível, tempestuoso, hostil, cheio de ódio.
(Narração sobre Grigóri Melekhov ao voltar pra casa)
É uma vida estranha, Aleksei! Os homens caminham às
apalpadelas, como se fossem cegos; juntam-se e se separam de novo, às vezes se
espezinhando uns aos outros… Aqui estamos, vivendo à beira da morte, e só
podemos nos perguntar selvaticamente por que tudo isso? Acho que não há nada mais
terrível no mundo do que os seres humanos. Faça o que fizer, você não chegará
ao fundo deles…
Aqui estou eu a seu lado e não sei o que você está pensando e
nunca soube, e também não sei que tipo de vida você leva. Você tampouco sabe
sobre a minha vida… Talvez eu esteja querendo matá-lo agora, e aí está você me
dando um biscoito, sem qualquer ideia do que estou pensando… As pessoas sabem
pouco sobre si mesmas.
(Micha Kochevoi)
(Iliá Buntchuk para sua namorada Ana Pogudko)
Mikhail Sholokhov
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