terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

OUTROS CONTOS

«O Don Silencioso», por Mikhail Sholokhov.

«O Don Silencioso»
Romance de Mikhail Sholokhov

981- «O DON SILENCIOSO»

[Excertos]

- Cale-se, mujique!

- E os mujiques não são homens, como você?

- São mujiques, feitos de casca de árvore e recheados de mato.

Cerca de quatro dias mais tarde, os vagões vermelhos dos trens carregados de tropas levavam os regimentos de cossacos e suas baterias para a fronteira russo-austríaca.

"Guerra"…

Os vagões zumbiam de conversas e canções. Olhares inquisitivos e benevolentes saudavam os cossacos nas estações, e o povo contemplava as listras das calças dos soldados.

"Guerra…"

Mulheres acenavam com lenços, sorriam e atiravam cigarros e doces para os soldados. Uma vez, pouco antes que o trem chegasse a Voronej, um velho ferroviário enfiou a cabeça no vagão, onde estava Piotr Melekhov com mais vinte e nove camaradas e perguntou:

- Estão indo?

- Sim. Entre e venha connosco, avozinho - respondeu um dos cossacos.

- Meu rapaz... bois para o matadouro! - disse o velho, sacudindo a cabeça em tom de reprovação.

- Então você é um bolchevista? - perguntou.

- O nome não importa - respondeu Lagutin. - Não é uma questão de nomes, mas do que está certo. O povo quer os seus direitos, mas estes lhe são sempre negados.

- É óbvio que os bolchevistas estão ensinando você! Não perdeu tempo na companhia.

- Ah, capitão, é a própria vida que tem ensinado às pessoas pacientes, os bolchevistas apenas puseram fogo no pavio.

Estava completamente exausto devido à guerra. Queria virar as costas ao mundo incompreensível, tempestuoso, hostil, cheio de ódio. 

(Narração sobre Grigóri Melekhov ao voltar pra casa)

É uma vida estranha, Aleksei! Os homens caminham às apalpadelas, como se fossem cegos; juntam-se e se separam de novo, às vezes se espezinhando uns aos outros… Aqui estamos, vivendo à beira da morte, e só podemos nos perguntar selvaticamente por que tudo isso? Acho que não há nada mais terrível no mundo do que os seres humanos. Faça o que fizer, você não chegará ao fundo deles… 

Aqui estou eu a seu lado e não sei o que você está pensando e nunca soube, e também não sei que tipo de vida você leva. Você tampouco sabe sobre a minha vida… Talvez eu esteja querendo matá-lo agora, e aí está você me dando um biscoito, sem qualquer ideia do que estou pensando… As pessoas sabem pouco sobre si mesmas. 

(Micha Kochevoi)

 Não. Sou forte. Não pense que haja homens feitos de aço. Somos forjados de um só material. Na vida real não há um homem que não tema a batalha, assim como não há nenhum que possa matar pessoas sem carregar… sem se sentir moralmente arranhado. 

(Iliá Buntchuk para sua namorada Ana Pogudko)

Mikhail Sholokhov

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