sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

OUTROS CONTOS

«O Riso de Deus», por António Alçada Baptista.

«O Riso de Deus»
António Alçada Baptista

1123- «O RISO DE DEUS»

[Excertos]

“É que a gente ainda não se deu bem conta das virtudes das nossas fraquezas: às vezes, aquilo que faz do foguetão que nos coloca numa órbita donde se lança outro olhar sobre o planeta Terra, são os nossos medos, ou o nosso orgulho, ou a nossa incapacidade de agarrar formas de poder.

Outra coisa: acho que a nossa vida tem ciclos. Julgo que estou no fim de mais um ciclo e que vou começar outro. Então temos uma imensa vontade de nos olharmos por dentro para compreender e pôr em ordem as coisas que por lá andam em desalinho. Este ciclo é capaz de ser o último mas o mais decisivo: é o resultado de uma vida e por isso é preciso fazer uma paragem para ver se se encontra o caminho que vai dar ao amor. Dói muito o amor no Outono porque nos é agora muito evidente que andámos enganados, que temos de descobrir outra estrada e que, para isso, não é fácil arranjar companhia…o Malraux dizia que “quando os sistemas de valores se desmoronam, o homem não encontra mais que o seu corpo.”

(…)

Os que sonham a dormir sabem, de manhã, que isso era uma ilusão mas os que sonham de olhos abertos, acreditam que o estofo do futuro será feito desse sonho.”

***

“A letra de Deus nem sempre é decifrável e ninguém conhece a língua em que escreveu a alma humana.”

“A gente não pode perder a esperança na realização dos sonhos e temos de manter isso até à hora da morte.

… a gente vai aprendendo, aprendendo, e, quando já está a saber quase tudo, morre…”

“- Rita: eu acho que Deus tem assim um sorriso como o teu quando nos vê amargurados…

- E eu acho que ele se ri mas é daqueles que andam por aí, muito contentes e convencidos, a fazerem o mundo como está…”

“Possivelmente, o amor continua a chamar-nos do centro do labirinto e nós andamos às voltas sem sermos capazes de o encontrar.”

António Alçada Baptista

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