segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

OUTROS CONTOS

«O Deserto», por Álvaro Lapa.

«O Deserto»
Poema de Álvaro Lapa

1226- «O DESERTO»

O deserto sem nexo, inesperado, tal como surge metaforicamente sentido 
no imponderável percurso de além-tréguas.

Sobre cadência de algum meio-dia já percorrido, já esgotado (em corridas, em percursos múltiplos), e aí se anuncia um excedente percurso a acometer e nesse percurso se revela o deserto.

É a experiência pura da terra abrasada, desassombrada, enigmática de neutra. Estranha ao caminhante. Envolve a luz, a distância e a mortalidade consumada do caminhante. A finitude, e os vários amarelos dessas horas solares. Meio-dia, ou mais uma, duas, até sete meias-horas após o meio-dia: as horas magnas da imolação desértica. Em qualquer estrada anexa a um lugar povoado, ao sul. Espírito dos lugares circunvagantes, nas 7 meias-horas do meio-dia, ao sul. Experiência que pode ser instantânea, intervalar. Basta que surja sobre, a mais que, a cadência adquirida de uma manhã esgotada.

É nesse além-tréguas, nessa sobre intimidade que o deserto consiste. 
Ir de rastos, a-té-ao-fim-do-es-pa-ço.

Álvaro Lapa

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