«O Deserto»
Poema de Álvaro Lapa
1226- «O DESERTO»
O deserto sem nexo, inesperado, tal como surge
metaforicamente sentido
no imponderável percurso de além-tréguas.
Sobre cadência de algum meio-dia já percorrido, já esgotado
(em corridas, em percursos múltiplos), e aí se anuncia um excedente percurso a
acometer e nesse percurso se revela o deserto.
É a experiência pura da terra abrasada, desassombrada,
enigmática de neutra. Estranha ao caminhante. Envolve a luz, a distância e a
mortalidade consumada do caminhante. A finitude, e os vários amarelos dessas
horas solares. Meio-dia, ou mais uma, duas, até sete meias-horas após o meio-dia:
as horas magnas da imolação desértica. Em qualquer estrada anexa a um lugar
povoado, ao sul. Espírito dos lugares circunvagantes, nas 7 meias-horas do
meio-dia, ao sul. Experiência que pode ser instantânea, intervalar. Basta que
surja sobre, a mais que, a cadência adquirida de uma manhã esgotada.
É nesse além-tréguas, nessa sobre intimidade que o deserto
consiste.
Ir de rastos, a-té-ao-fim-do-es-pa-ço.
Álvaro Lapa
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