«O Porqueiro», conto poético por Matias José.
«O Porqueiro»
Guardador de Porcos Alentejano
890- «O PORQUEIRO»
[Auto-Retrato/ Homenagem ao Guardador de Porcos]
Guardei porcos toda a vida
No montado alentejano,
Não vi outra saída
Pra comer durante o ano.
Pois nunca fui à escola,
Os meus pais pediam esmola
Pra me dar de comer.
Começou a suceder
Na mesa faltar comida,
Eu de cabeça perdida
Decidi ir trabalhar…
Para os poder ajudar,
Guardei porcos toda a vida.
Era então um rapazinho
Nesse tempo já ido…
Cheguei a estar perdido,
No meio do campo sozinho!
Pra encontrar caminho
Socorria-me do Bichano,
Guiava-me sem engano
De regresso até casa…
O cão era a minha asa
No montado alentejano.
Contra o frio ou calor
Se fazia a minha luta…
No montado, a labuta,
Ninguém lhe dava valor.
Vivia pois neste agror
Com a alma dividida,
Mas pra não andar à pida
Resolvi ser porqueiro…
À sombra d’um sobreiro,
Não vi outra saída!
Tempos difíceis passei
Quando pastava os porcos…
Deram-me alguns trocos,
Mas de letras nada sei!
Certa noite sonhei
Que ia à escola todo ufano,
A escrever em bom plano
Numa ardósia de xisto…
De lutar não desisto
Pra comer durante o ano.
Matias José
4 comentários:
Muito, mas mesmo muito bom!
Sensibilizou-me...
Mais umas décimas de grande qualidade que agradeço a este poeta da nossa terra. Também eu fiquei muito sensibilizado com o conteúdo das mesmas, lembrando tempos antigos quando existiam enormes privações. Era assim a vida do pobre, começar a trabalhar cedo para ganhar o sustento.
LINDO!!!
Excelente, amigo!
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