quarta-feira, 25 de abril de 2018

OUTROS CONTOS

«Adolescentes», conto poético por Tomaz Jorge.

«Adolescentes»
Maternidade/ Lívio de Morais

1142- «ADOLESCENTES»

Não podes negar que bebeste leite
Da teta negra da mamã Ama

Tu mesmo o dizes
Teus lábios vermelhos
Como o sangue puro da mamã Ama
São quentes com palavras brandas

São a saudade da mamã Ama
Das brincadeiras antigas
Gajajeira e quintal de ripado
Sol nas casas de barro vermelho
Nós dois unidos em luta
Disputando o colo da mamã Ama

Nossas cabecinhas batendo
Nas tetas grandes da mamã Ama

Ela foi envelhecendo
Seus cabelos viraram brancura
Nós fomos crescendo

Do teu peito nasceram fontes de vida
Teus lábios ficaram mais cálidos
Minha menina branca por nebulosidade
Meu amor sem pecado

Meu peito também cresceu
Meu coração também cresceu
Amar-te?

Nego-me!
Agora seria desgostar a nossa mamã Ama
Seria fazê-la chorar lá no céu
Meu amor é pecado
Eu não sei a quem amo

A mamã Ama recomendou cuidado
Disse-nos que éramos irmãos

Minha branca de uma avó negra
Negra Isabel que faleceu desgostosa
Pela filha que não casou
Branca de um pai que se negou

Para mim
És aquela sempre menina bantu
— Minha irmã da infância
De olhos verdes de ternura
Boiando candidamente
Num corpo de nebulosidade nórdica

És a saudade da mamã Ama
Num corpo que faz lembrar
Um jardim de rosas brancas
Com toda a pureza de expressão bantu
Da nossa mamã Ama.

Tomaz Jorge

segunda-feira, 23 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

ROXY MUSIC - «End of the Line»

Poet'anarquista

FIM DA LINHA

Acho que vou sair na chuva
Chamou-me uma e outra vez
Eu fiquei sem resposta
Você foi
Atingindo o ponto sem retorno
Quanto mais eu vejo mais eu fico sozinho
Eu vejo o fim da linha
Alguma vez só?
Mistificado e azul?
Realizando apenas
Seu número está acima
Você está com ele
Fiz a minha parte vencedora
Agora é minha vez de perder
Depois de um começo justo
O jogo se passa
Eu sou completamente
Acho que vou sair na tempestade
Não há amor para manter-me quente por dentro
Espero que esteja bem no fim da linha
Agora é a hora de dar um mergulho
Experimente um passeio de tapete mágico
Tudo está errado
Você foi
Se você nunca sente falta de mim
Se eu cruzar a sua mente
Você sabe onde me encontrar
Eu estarei esperando, no final da linha

Roxy Music
Banda Britânica

OUTROS CONTOS

«Cinco Sentidos», conto poético por Alberto de Oliveira.

«Cinco Sentidos»
Os Cinco Sentidos/ Lubin Baugin

1141- «CINCO SENTIDOS»

Cinco sentidos são os cinco dedos
Com que o homem tacteia a escuridão,
Rodeado de sombras e segredos
De que busca, e não acha, a solução.

Mas decerto haverá mundos mais ledos
Onde outros seres, de maior visão,
Rompendo brumas, dissipando medos,
A treva finalmente vencerão.

E sendo sete as cores, e outros tantos
Os sons da escala, mas com mil matizes
Que prolongam seu eco e seus encantos,

Talvez nos seja um dia transmitido,
Por esses mundos fortes e felizes,
Um novo sexto e sétimo sentido! 

Alberto de Oliveira

domingo, 22 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

PETER FRAMPTON - «Greens»

Poet'anarquista

Peter Frampton
Guitarrista, Cantor e Compositor Britânico

OUTROS CONTOS

«Singelo Almoço», por Somerset Maugham.

«Singelo Almoço»
Conto de Somerset Maugham

1140- «SINGELO ALMOÇO»

Dei conta da sua presença no teatro e, em resposta ao seu aceno, fui ter com ela durante o intervalo e sentei-me ao seu lado. Já fazia muito tempo desde a última vez que a vira e, se alguém não tivesse mencionado o seu nome, penso que dificilmente a teria reconhecido. Dirigiu-se-me esfuziante.

- Bom, já passaram muitos anos desde que nos encontrámos a primeira vez. Como o tempo voa! Nenhum de nós está a ficar mais jovem. Lembra-se da primeira vez que o vi? Convidou-me para um singelo almoço.

- Se me lembro?

Foi há vinte anos atrás e estava a viver em Paris. Tinha um pequeníssimo apartamento no Quartier Latin com vista para um cemitério e ganhava estritamente o necessário para manter o corpo e a alma juntos. Ela tinha lido um livro meu e tinha-me escrito sobre o mesmo. Respondi-lhe, agradecendo e tinha recebido, na altura, da parte dela uma outra carta dizendo que estava de passagem por Paris e que gostaria de conversar comigo; contudo o seu tempo era limitado e que o único momento que tinha era na quinta-feira seguinte; passaria a manhã no Louxembourg e se, entretanto, a convidaria para um singelo almoço no Foyot's. O Foyot's é o restaurante onde costumam comer os Senadores Franceses e encontrava-se tão além das minhas posses que nunca sequer tinha pensado em lá ir.

Mas sentia-me lisonjeado e era demasiado novo para saber dizer não a uma mulher. (Poucos homens, posso acrescentar, o aprendem até que tenham maturidade suficiente para o fazer sem qualquer consequência disso relativamente a uma mulher.) Tinha oitenta francos (francos de ouro) para o resto do mês e um modesto almoço não deveria custar menos de quinze. Se cortasse no café durante as próximas duas semana talvez conseguisse gerir o restante sem problemas.

Respondi dizendo que encontraria a minha amiga - por correspondência - no Foyot's, quinta-feira, às doze e trinta. Não era tão jovem quanto eu imaginava, impondo-se mais pela aparência que pela atracção. Era, efectivamente, uma mulher pelos quarenta anos (uma idade charmosa, mas não a ponto de provocar uma súbita e devastadora paixão à primeira vista) e dava até a impressão de ter mais dentes, brancos e largos, do que seriam necessários para o que quer que fosse. Era faladora, mas, desde que se mostrou interessada a falar sobre mim, preparei-me para ser um ouvinte atento.

Fiquei surpreso, quando trouxeram o menu, pelos preços serem muito mais elevados do que tinha previsto. Contudo, ela assegurou-me.

- Não como quase nada ao almoço, disse.

- Oh, não diga isso!, respondi-lhe generosamente.

- Nunca como mais que uma só coisa. Creio que as pessoas comem muito hoje em dia. Um pequeno peixe, talvez. Gostaria de saber se terão salmão.

Bem, não estávamos na época do salmão e nem sequer constava do menu, mas perguntei ao empregado de mesa se havia algum. Sim, um belíssimo salmão acabou de chegar, era o primeiro que tinham recebido. Pedi para a minha convidada. O empregado perguntou se ela desejava algo enquanto o prato era cozinhado.

- Não, respondeu ela, nunca como mais que apenas um prato. A não ser que tenham um pouco de caviar. Nunca digo não a caviar.

O meu coração apertou-se um pouco. Sabia que não podia pagar caviar, mas não podia, de forma alguma, dizer-lho. Disse ao empregado, como pude, para trazer o caviar. Para mim escolhi o prato mais em conta do menu, costeleta de carneiro.

- Creio ser muito imprudente ao comer carne, disse ela. Não sei como será capaz de trabalhar depois de comer algo tão pesado como costeleta. Sou incapaz de encher demais o meu estômago.

Veio então a questão da bebida.

- Nunca bebo nada ao almoço, referiu.

- Eu também não, respondi-lhe prontamente.

- Excepto vinho branco, continuou como se eu nem tivesse falado sequer.

- Estes vinhos brancos Franceses são tão leves. São excelentes para a digestão.

- Que deseja, então?, Perguntei-lhe, hospitaleiro mas não propriamente efusivo.

Lançou-me um sorriso brilhante e amigável com todos os seus dentes.

- O meu médico não me aconselha a beber nada a não ser champanhe.

Creio que cheguei a empalidecer. Pedi uma garrafa pequena. Mencionei, por mero acaso, que o meu médico me proibira, terminantemente, de beber champanhe.

- Que vai beber, então?

- Água.

Comeu o caviar e comeu o salmão. Falou alegremente de arte, de literatura, de música. Eu só pensava quanto seria a conta. Quando a minha costeleta chegou, dirigiu-se-me com a maior seriedade.

- Vejo que tem por hábito comer um almoço pesado. Estou certa que isso é um erro. Porque não segue o meu exemplo e come apenas uma só coisa? Tenho a certeza que se sentiria muito melhor assim.

- Eu vou comer apenas uma única coisa, retorqui enquanto o empregado trazia, de novo, o menu.

Ela acenou-lhe negativamente com um gesto airoso.

- Não, não, nunca como nada ao almoço. Só um pouco. Não mais que isso e, faço-o mais como desculpa para uma conversa que por outra coisa. Não seria capaz de comer mais nada - a não ser que tivessem alguns daqueles espargos gigantes. Lamentaria muito deixar Paris sem sequer os provar.

O meu coração apertou-se. Já os tinha visto nas lojas e sabia que eram terrivelmente caros. Muitas vezes cresceu-me água na boca ao deparar-me com eles.

- A Senhora deseja saber se têm alguns daqueles espargos gigantes, perguntei ao empregado.

Tentei por todos os meios possíveis levá-lo a dizer que não. Um sorriso de felicidade espalhou-se pelo seu rosto, como uma cara de padre, e garantiu-me que tinham alguns, tão grandes, tão esplêndidos, tão tão tenros que eram uma maravilha.

- Não tenho a mínima fome, referiu a minha convidada, mas se insiste, não me importo de provar os espargos.

Pedi-os.

- Não vai comer nenhum? 

- Não, nunca como espargos.

- Sei que há pessoas que não gostam. Mas, de facto, dá cabo do seu paladar com toda a carne que come.

Esperámos que cozinhassem os espargos. Fui invadido pelo pânico. Já não era uma questão de quanto dinheiro restaria até ao fim do mês mas se teria o suficiente para a conta. Seria mortificante ter dez francos a menos e ter de os pedir emprestados à minha convidada. Não podia permitir que isso me acontecesse. Sabia exactamente quanto tinha e se a conta fosse superior decidi que levaria a mão ao bolso e, com um grito dramático, desato a dizer que tinha sido roubado. Claro que seria embaraçoso se ela também não tivesse dinheiro para pagar a conta. Aí, a única coisa a fazer seria deixar o meu relógio e dizer que voltaria para pagar mais tarde.

Os espargos chegaram. Eram enormes, suculentos e apetecíveis. O odor da manteiga derretida tocou a minhas narinas como as narinas de Jeová são tocadas pelas ofertas que os virtuosos Semitas queimam. Dei conta de uma mulher deleitada a engoli-los em voluptuosas garfadas e, no meu jeito mais cordial, discursei sobre as condições do drama nos Balcãs. Por fim, terminou.

- Café?, perguntei.

- Sim, apenas um gelado e café, respondeu ela.

Já estava por tudo e pedi café para mim e gelado e café para ela.

- Sabe, há uma coisa em que creio convictamente, acrescentou enquanto comia o gelado. Qualquer pessoa devia levantar-se da mesa com a sensação de poder ainda comer qualquer coisa mais.

- Ainda tem fome?, perguntei quase desfalecendo.
- Oh, não, não tenho fome, está a ver, eu não almoço. Tomo uma chávena de café pela manhã e, depois, janto, mas nunca como mais que uma simples coisa ao almoço. Estava a falar consigo.

- Oh, estou a ver!

Então, algo de terrível aconteceu. Enquanto esperávamos pelo café o chefe de sala, com um sorriso insinuante num rosto falso, aproximou-se de nós com um grande cesto cheio de uns pêssegos enormes. Tinham a cor rosada de uma rapariga inocente; o rico tom da paisagem italiana. Com toda a certeza, não estávamos na época dos pêssegos? Deus sabia o quanto custavam. Eu soube também - um pouco mais tarde já que a minha convidada, enquanto continuava a sua conversa, distraidamente, pegou num deles.

- Está a ver, encheu o seu estômago com imensa carne - a minha miserável pequena costeleta -  e não consegue comer mais. Eu que apenas comi uma ligeira refeição, posso apreciar um pêssego.

Veio a conta e, quando a paguei, vi que tinha apenas o suficiente para deixar uma insignificante gorjeta. Os seus olhos fixaram-se por um instante nos três francos que deixei para o empregado e sabia claramente o que ela estaria a pensar. Enquanto caminhava para a saída do restaurante tinha todo o mês pela frente e nem sequer um cêntimo no bolso.

- Siga o meu exemplo, disse enquanto nos despedíamos com um aperto de mão, e nunca coma mais que uma só coisa ao almoço.

- Farei melhor que isso, retorqui. Nem sequer jantar esta noite.

- Brincalhão!, Gritou alegremente enquanto entrava para um táxi. Você é um brincalhão!

Tive, por fim a minha vingança. Não acredito ser um homem vingativo, mas quando os deuses imortais tomam o assunto em suas mãos é perdoável observar os resultados com complacência.

Hoje, ela pesa uma tonelada.

Somerset Maugham

sábado, 21 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

IGGY & THE STOOGES 
«Unfriendly World»

Poet'anarquista

MUNDO INADEQUADO

Uma antiga revista de cinema
Envoltório de ouro no meio
Páginas amareladas com o tempo,
Está rasgando minha mente

Lembrança de floco de neve de plástico,
Uma cidade longe daqui,
Mas não se moveu em anos,
Estou me separando

Agarre-se à sua garota
Porque este é um mundo hostil

Cartões de aniversário de anos atrás
Estes vão te matar devagar
Vale a pena essa dor crescer?
Eu acho que nunca vou saber

Brinquedos de Natal e molduras,
Todas as fotos trancadas,
Não conviver com o dia a dia
Apenas um passeio pela estrada da memória

Agarre-se à sua garota
Porque este é um mundo hostil

Homens de negócios com truques desagradáveis
Seguidores de 666,
Fama e fortuna me deixaram doente
E eu não posso sair

Fora da janela há uma visão
Colinas gramadas e flores também
Amantes dos poucos escolhidos
Então talvez eu e você

Uma antiga revista de cinema
Embalagem de ouro entre
Páginas amareladas como eu
Eu serei sempre livre?

Agarre-se à sua garota
Porque este é um mundo hostil

Agarre-se à sua garota
Porque este é um mundo hostil

Iggy & The Stooges
Banda Norte-Americana

OUTROS CONTOS

«Satisfação», conto poético por Silvio Romero.

«Satisfação»
Pintura Abstracta/ James Wyper

1139- «SATISFAÇÃO»

Nada mais quero
Se encontrar:
Um amor de verdade
Que não julgue
Não maltrate
Meu coração
Cansado de sofrer
Com falsas realidades,
Com a dor da saudade
De amores perdidos
Que juraram amor eterno
E um puro prazer.
De ti, levam tudo
Não sobra nada,
Apenas um coração partido
E a doce ilusão
De um amor sofrido
Que parece não ter fim.

Silvio Romero

quinta-feira, 19 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

STEVE HACKETT
«Firth of Fifth/ Instrumental»

Poet'anarquista

Steve Hackett
Guitarrista e Compositor Britânico

SÁTIRA...

O Interrogatório
Sátira...

«O INTERROGATÓRIO»

- Sr. Pinto de Sousa caçado,
Espero resposta com sentido...
Verdade que foi corrompido
P’lo Dr. Ricardo Salgado?
- Senhor Procurador d’ Estado...
Como sou um tipo decente,
Respondo imediatamente:
Parto-lhe a boca e os dentes!...
Acontecem estes acidentes
A muito boa gente.

POETA

quarta-feira, 18 de abril de 2018

OUTROS CONTOS

«O Menino que Escrevia Versos», por Mia Couto.

«O Menino que Escrevia Versos»
Outros Contos...

1138- «O MENINO QUE ESCREVIA VERSOS»

De que vale ter voz
se só quando não falo é que me entendem?
De que vale acordar
se o que vivo é menos do que o que sonhei?

(VERSOS DO MENINO QUE FAZIA VERSOS)

— Ele escreve versos!

Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de montanha.

— Há antecedentes na família?

— Desculpe doutor?

O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias:

— Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol.

Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido lua-de-mel. Para ele, não fora senão período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas  confissões de amor.

Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito.

— São meus versos, sim.

O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida do homem se queda em ponto morto?

Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado.

— O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica.

Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe  espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar.

Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao menino:

— Dói-te alguma coisa?

—Dói-me a vida, doutor.

O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer os olhos e a enfrentar o miúdo:

— E o que fazes quando te assaltam essas dores?

— O que melhor sei fazer, excelência.
— E o que é?

— É sonhar.

Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu: longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe.

O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu:

— Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica.

A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente.

Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendidos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu.

— Não continuas a escrever?

— Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio.

O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente.

— Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços.

— Não importa — respondeu o doutor.

Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu.

Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios:

— Não pare, meu filho. Continue lendo...

Mia Couto

terça-feira, 17 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

PINK FLOYD
«Shine On You Crazy Diamond»

Poet'anarquista

CONTINUE BRILHANDO, SEU DIAMANTE LOUCO

Lembra quando você era novo?
Você brilhou como o sol
Continue brilhando, seu diamante louco
Agora há um olhar em seus olhos
Como buracos negros no céu
Continue brilhando, seu diamante louco

Você foi apanhado pelo fogo cruzado
Da infância e do estrelato
Fundido na brisa de aço
Venha, você alvo de risos distantes
Venha, seu desconhecido, sua lenda
Seu mártir, e brilhe!

Você alcançou o segredo cedo demais
Você chorou para a lua
Continue brilhando, seu diamante louco
Ameaçado pelas sombras da noite
E exposto a luz
Continue brilhando, seu diamante louco
Bem, você desgastou suas boas vindas

Com precisão aleatória
Cavalgou na brisa de aço
Venha, seu sonhador, seu visionário
Venha, seu pintor, seu flautista
Seu prisioneiro, e brilhe!

Ninguém sabe onde você está
Quão perto ou longe
Continue brilhando, seu diamante louco
Empilhe muitas camadas a mais
E estaremos nos unindo lá
Continue brilhando, seu diamante louco

E nós nos aqueceremos na sombra
Do triunfo de ontem
E velejaremos na brisa de aço
Venha, você menino, vencedor e perdedor
Venha, você minerador da verdade e da ilusão
E brilhe!

Pink Floyd
Banda Britânica

POEMA DE AIMÉ CÉSAIRE

A Palavra aos Abutres
Poema de Aimé Césaire

A PALAVRA AOS ABUTRES

Onde quando como de onde por que sim por que por que por que é que
as línguas mais celeradas não inventaram mais do que alguns ganchos
para pendurar ou suspender o destino.
Prendam este homem inocente. Todos de enganação.
Ele leva meu sangue em seus ombros. 
Ele leva meu sangue em seus sapatos.
Ele anuncia meu sangue em seu nariz. 
Morte aos contrabandistas. 
As fronteiras estão fechadas.

Nem os que se conhecem e nem os que se desconhecem todos.
Obrigado deus meu coração está mais seco que o Harmatã,[1] toda treva é minha presa.
Toda treva me é devida e toda bomba minha alegria.
Vós abutres em seus postos de rodopios e de bicar acima da floresta,
e tão longe quanto é a caverna cuja porta é um triângulo,
onde o guardião é um cão,
onde a vida é um cálice,
onde a virgem é uma aranha,
onde o rastro precioso é um lago 
que se destaca nos caminhos descendentes 
das tempestuosas nixes.[2]

Aimé Césaire

[1] Vento seco do Saara.
[2] Na mitologia Nórdica, espíritos que, imprevisíveis, ora fazem o bem, ora, o mal.

OUTROS CONTOS

«O Mistério da Palavra», Adolfo Simões Muller.

«O Mistério da Palavra»
Leitura/ Goya

1136- «O MISTÉRIO DA PALAVRA»

Porque será que uma palavra aflora
correspondendo logo ao nosso apelo,
com a medida justa, o justo emprego,
enquanto noutras vezes se demora
(rimmel, bâton, um jeito no cabelo…)
e chega em voo cego de morcego?

Porque será que uma palavra quase
vai buscar outra dentre a multidão,
e esta segunda, uma terceira e quarta,
e assim nasce de súbito, uma frase,
um belo verso, a quadra ou a canção,
a sentença de morte, a tua carta?

Porque será que uma palavra, impávida,
resiste aos séculos e fica jovem,
ou morre (cancro, enfarte, dor reumática),
enquanto outra, novinha, surge grávida,
e aos nove meses os filhinhos chovem
que é um louvar a Deus e à gramática?

Porque será que a rima atrai a rima,
e a rima nova é como o vinho novo
que salta e espuma e baila na garganta?
E outra rima! Outras rimas! A vindima
das palavras não pára… E, no renovo,
o poema é estrela que alumia e canta!

Porquê este mistério, Poesia?
És tal e qual a electricidade:
existe mas nem sempre a gente a vê.
Porque foges um ano e mais um dia
e voltas, alta noite, claridade?
Porquê? Porque será? Porquê? Porquê?

Adolfo Simões Muller

segunda-feira, 16 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

4 NON BLONDES - «What's Up?»

Poet'anarquista


O QUE ESTÁ ACONTECENDO?

25 anos e minha vida está parada
Estou tentando subir essa grande montanha da esperança
Para um destino

Eu compreendi rapidamente quando soube que deveria
Que o mundo era feito dessa
Fraternidade de homens
O que quer que isso signifique

E então eu choro às vezes
Quando estou deitada na cama
Só para me livrar disso tudo
Que está na minha cabeça
E estou me sentindo um tanto esquisita

E então eu acordo de manhã e piso lá fora
E respiro profundamente
E eu fico realmente bem
E eu grito do fundo dos meus pulmões
‘O que está acontecendo? ‘

E eu digo: Hey!
E digo: ‘hei, o que está havendo?’

E eu digo: Hey!
E digo: ‘hei, o que está havendo? ‘

Ooh, ooh ooh

E eu tento, oh meu Deus, eu tento
Eu tento todo o tempo nesta instituição

E eu oro oh meu Deus, eu oro
Eu oro todo dia
Por uma revolução

E então eu choro às vezes
Quando estou deitada na cama
Só para me livrar disso tudo
Que está na minha cabeça
E estou me sentindo um tanto esquisita

E então eu acordo de manhã e piso lá fora
E respiro profundamente
E eu fico realmente bem
E eu grito do fundo dos meus pulmões
‘O que está acontecendo? ‘

E eu digo: Hey! hey, hey hey hey
E digo: ‘hei, o que está havendo? ‘

25 anos e minha vida está parada
Estou tentando subir essa grande montanha da esperança
Para um destino
Imagem relacionada
4 Non Blondes/ Banda Norte-Americana

SÁTIRA...

O Lado Positivo
Sátira...

«O LADO POSITIVO»

- Tristes notícias Zé
Dos ataques na Síria,
A coisa pode ser séria…
Guerra, é o que é!
- Pé ante pé
Seja que Deus quiser,
O que for será, mulher!
- Vejo-te confortável
Neste mundo deplorável…
- Morto não paga aluguer (?)

POETA

OUTROS CONTOS

«A Dama do Leque», por Anatole France.

«A Dama do Leque»
Dama com Leque/ Picasso

1135- «A DAMA DO LEQUE»

Tchonang-Tsen, nascido em Sung, era letrado que levava sua sabedoria ao desprendimento mesmo de todas as coisas terrenas.

Uma manhã, quando errava, à aventura, pela encosta florida da montanha, viu-se, com surpresa no meio de um cemitério, onde, segundo os costumes do país, os mortos repousavam sob montículos de terra revolvida. O sábio meditou sobre o destino dos homens.

— Ah! — exclamou. — Eis aqui a encruzilhada onde terminam todos os caminhos da vida. Quando, uma vez, se tomou lugar na morada dos mortos, já não se pode volver à luz.

Enquanto assim divagava seu pensamento através das tumbas, ele, de repente, se achou ao lado de uma jovem senhora vestida de luto, quer dizer — trajando um amplo vestido branco de fazenda ordinária e sem costura. Sentada próximo a um túmulo, ela agitava um leque branco sobre a terra fresca de um montículo funerário.

Curioso por conhecer os motivos de um ato tão original, Tchomang-Tsen saudou-a amavelmente e perguntou-lhe:

— Permite-me, senhora, perguntar-lhe que pessoa repousa tumba e por que se dá ao exaustivo trabalho de abanar a terra que a cobre?

A dama continuou a agitar o leque. Ruborizou-se, baixou a cabeça e murmurou algumas palavras que o sábio não pôde ouvir. E repetiu a pergunta por várias, mas em vão.

Tchonang-Tsen afastou-se com sentimento. Achava-se inclinado a sondar móveis das acções humanas e particularmente as das mulheres. Estas lhe inspiravam uma curiosidade brincalhona, mas muito viva e sagaz... Prosseguiu lentamente no seu passeio, voltando a cabeça para ver ainda o leque que agitava o ar como a asa de uma e mariposa, quando, de súbito, uma velha a que não tinha visto, até então, lhe fez sinal para  a seguisse.

— Escutei-o fazer uma pergunta à minha ama e à qual ela não respondeu. Mas eu satisfarei a sua curiosidade.

Tchonang-Tsen tirou uma moeda da carteira e a velha falou assim:

— Esta senhora, é a senhora Lu, viúva de um letrado chamado Tao, que morreu ha quinze dias, depois de longa enfermidade, e aquela tumba é de seu marido. Ambos amavam-se carinhosamente. O senhor Tão não podia conformar-se em deixá-la só no mundo na flor da idade e em pleno esplendor de beleza. Essa ideia era-lhe intolerável. A senhora Lu chorava, à cabeceira da cama. Tomava os deuses como testemunha para assegurar-lhe que não lhe sobreviveria.

Mas o sr. Tão lhe disse:

— Senhora, não faça esse juramento.

— Ao menos — replicou ela — se estou condenada pelos génios a continuar a viver, saiba que não consentirei jamais em ser a mulher de qualquer outro homem e que não terei mais que um esposo como não tenho mais que uma alma.

Mas o senhor Tão lhe disse:

— Senhora, não faça esse juramento.

— Oh, senhor Tão, senhor Tão! Deixe-me ao menos jurar que durante cinco anos completos não tornarei a casar-me.

— Senhora, não faça esse juramento — disse o moribundo. — Jure somente que guardara fidelidade à minha memória apenas enquanto a terra não tiver secado sobre o meu túmulo.

A senhora Lu jurou solenemente e o bom do senhor Tão cerrou os olhos para não mais os abrir. O desespero da senhora Lu foi superior a quanto se possa imaginar. Lágrimas ardentes devoravam seus olhos. Com suas unhas pontiagudas lacerava suas faces de porcelana. Mas, tudo logo estancou. Três dias depois a tristeza da senhora Lu tornava se mais humana. Soube que um jovem discípulo do senhor Tão desejava apresentar-lhe seus sentimentos de pesar. Julgou, com razão, que não poderia escusar-se de recebê-lo. E recebeu-o suspirando. Esse moço era muito elegante e tinha bela figura. Falou-lhe um pouco do senhor Tao e muito dela. Disse-lhe que era encantadora e que muito a amava. Prometeu voltar. Esperando-o, a senhora Lu, sentada à beira da tumba de seu marido, onde o senhor a viu, passa todo o dia a fazer secar a terra do sepulcro com o vento de seu leque.

Quando a velha terminou seu relato, o sábio Tchonang-Tsen pensou:

— A mocidade é curta. Alem do mais a senhora Lu e uma pessoa honesta que não quer trair seu juramento. É um exemplo para multas mulheres...

Anatole France

sexta-feira, 13 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E as músicas especiais de hoje são...
(Para JP Galhardas, no Cosmos)

DEEP PURPLE - «Child in Time»

Poet'anarquista

CRIANÇA NO TEMPO

Doce criança no tempo, você verá a fronteira
A fronteira que foi desenhada entre o bem e o mal

Veja um homem cego atirando ao mundo
Balas voando, levando tristeza

Se você tem sido mau, Senhor eu aposto que sim
E você não se feriu por uma bala perdida

Você deve fechar seu olhos
Você deve curvar sua cabeça

Espere o ricochete

Deep Purple

DEEP PURPLE - «When a Blind Man Cries»
Poet'anarquista

QUANDO UM HOMEM CEGO CHORA 

Se você está saindo, feche a porta
Eu não estou esperando mais ninguém
Ouça eu me afligindo, eu estou deitado no chão
Se estou embriagado ou morto eu já não estou certo
Eu sou um homem cego, eu sou um homem cego e meu mundo é pálido
Quando um homem cego chora, Senhor, Você sabe que não há conto mais triste

 Tive uma amiga certa vez num quarto
Tive um bom tempo mas acabou muito rápido
Num mês frio naquele quarto
Nós achamos uma razão para as coisas que fazíamos
Eu sou um homem cego, eu sou um homem cego e meu mundo é pálido
Quando um homem cego chora, Senhor, Você sabe que não há conto mais triste

Deep Purple
Banda Britânica

OUTROS CONTOS

«Aquele Português», conto poético por Jaime Salazar Sampaio.

«Aquele Português»
Poema de Jaime Salazar Sampaio

1134- «AQUELE PORTUGUÊS»

aquele português valente que encontrei outro dia
em paris, mostrou-me um artigo de jornal
onde todos os problemas portugueses, todos,
se resolviam em francês.
mexi com força o açúcar na chávena e o nosso
compatriota desapareceu.
de que lhe vale ser português (e valente)
se basta eu agitar a colher no café, 
para ele se perder no boulevard saint michel
ou na rua das pretas?
há muitos anos (vinte? trinta?) vivemos nós todos 
num país que não existe. Somos nove milhões,
quase, e não damos pela coisa.
alimentamo-nos de raiva, caruncho, montes
de anedotas e um vago amor à humanidade
que, pelo seu lado, talvez também não exista
(o amor? a humanidade?... como quiserem, é sempre duvidoso).

Jaime Salazar Sampaio

quinta-feira, 12 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

STEPPENWOLF
«I'm Your Hootchie Cootchie Man»

Poet'anarquista


(EU SOU SEU) HOMEM HOOTCHIE COOTCHIE

A cigana disse há minha mãe
Antes de eu nascer
Eu tenho um garoto vindo
Ele vai ser um filha da mãe
Ele vai fazer garotas bonitas
Pular e atirar
Então o mundo quer saber
sobre o que é isso tudo
Mas você sabe que eu sou ele
Todo mundo sabe que eu sou ele
Bem você sabe que eu sou o homem hootchie choochie
Todo mundo sabe que eu sou ele

Eu tenho um osso preto de gato
Eu tenho um dente talismã também
Eu tenho o charme do Johnny
Eu vou mexer com você
Eu vou pegar suas garotas
Leve-me pela minha mãe
Então o mundo irá saber
O homem hootchie cootchie
Mas você sabe que eu sou ele
Todo mundo sabe que eu sou ele
Oh você sabe que eu sou o homem hootchie cootchie
Todos sabem que eu sou ele

Na sétima hora
No sétimo dia
No sétimo mês
Os sete médicos disseram
Ele nasceu por boa sorte
E que você verá
Eu tenho setecentos dólares
Não mexa comigo
Mas você sabe que eu sou ele
Todo mundo sabe que eu sou ele
Bem você sabe que eu sou o homem hoochie coochie
Todo mundo sabe que eu sou ele

Steppenwolf
Banda Norte-Americana

OUTROS CONTOS

«Um Homem e Uma Mulher», conto poético por Mario Rivero.

«Um Homem e Uma Mulher»
Homem e Mulher/ Egon Schiele

1133- «UM HOMEM E UMA MULHER»

E o que esses dois são chamados, Joana e João,
ou mais simplesmente ainda, um homem e uma mulher?
A mulher usa com graça simples
um vestido de pano verde
divorciado de sedas e joias e peles,
e ele parece tão forte
como atleta ou atleta.

Eles estão felizes e talvez também embriagados
porque ambos riem felizes
isolados naquela pequena felicidade.

Como murmúrios de água clara,
você pode adivinhar sons, por trás dos rostos.
Você vê imediatamente que eles são amantes.
A pegada leve da carne,
ainda está sobre ele, disfarçado,
como uma luz que o cobria
nas partes mais macias do seu corpo.

De atração humana, inundada,
as mãos estão reunidas sobre a mesa,
prisioneiro de cada um dos gestos do outro,
Eles riem e riem, com uma verdura que é difícil de esquecer.

Eu me vejo olhando para eles e penso:
Deixe-me apenas estar perto.
Na porta das minhas têmporas o sangue frio, flui
e eu invejo aqueles pequenos momentos ensolarados,
que às vezes iluminam as vidas sombrias ...

Mario Rivero

SÁTIRA...

Desculpem Lá Qualquer Coisinha
Sátira...

«DESCULPEM LÁ QUALQUER COISINHA»

Mea culpa, máxima culpa,
Perdoem qualquer coisinha…
Vasculho a vossa vidinha,
A todos peço desculpa.
Facelook… upa, upa!...
Podem voltar à carga,
A voz se me embarga
Dentro deste Senado…
Sinto que sou culpado,
Mas o vício não me larga!

POETA

quarta-feira, 11 de abril de 2018

OUTROS CONTOS

«A Riviera», conto poético por Jacques Prévert.

«A Riviera»
Poema de Jacques Prévert

1133- «A RIVIERA»

Teus jovens seios brilhavam ao luar
Mas arremeti o
Gelo frio
Da pedra gélida do ciúme
Contra o rio
Que reflectia o
Dançar de tua nudez na Riviera
Pelo esplendor do Estio.

Jacques Prévert

terça-feira, 10 de abril de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

«AMADEUS QUARTET»

Poet'anarquista

Amadeus Quartet
Conjunto de Câmara Britânico

OUTROS CONTOS

«Madrigal», conto poético por Sebastião da Gama.

«Madrigal»
Poema de Sebastião da Gama

1132- «MADRIGAL»

A minha história é simples. 
A tua, meu Amor, 
é bem mais simples ainda: 

‘Era uma vez uma flor. 
Nasceu à beira de um Poeta...’ 

Vês como é simples e linda? 

(O resto conto depois; 
mas tão a sós, tão de manso 
que só escutemos os dois). 

Sebastião da Gama

SÁTIRA...

O Nosso Alimento
Sátira...

«O NOSSO ALIMENTO»

- Boas notícias, amigo Zé…
Vai terminar a secura
De euros prá cultura…
Quem é amigo, quem é?
- Não faças tanto banzé!…
O nosso entretenimento
Está num bom alimento;
Arroz, tomate e agrião,
Umas sopas de feijão...
Mas que rico sustento!!

POETA