sábado, 7 de setembro de 2013

SONETO DE PESSANHA

No dia 7 de Setembro de 1867, em Coimbra, nasce Camilo Pessanha, poeta simbolista de grande influência na geração de Orpheu. A sua obra está reunida em «Clepsidra».
Poet’anarquista
«Maria Madalena Lava os Pés a Jesus»
Obra de autor desconhecido

Ó MADALENA, Ó CABELOS DE RASTOS

...e lhe regou de lágrimas os pés, 
e os enxugava com os cabelos da sua cabeça. 
Evangelho de S. Lucas. 

Ó Madalena, ó cabelos de rastos, 
Lírio poluído, branca flor inútil, 
Meu coração, velha moeda fútil, 
E sem relevo, os caracteres gastos, 

De resignar-se torpemente dúctil, 
Desespero, nudez de seios castos, 
Quem também fosse, ó cabelos de rastos, 
Ensanguentado, enxovalhado, inútil, 

Dentro do peito, abominável cómico! 
Morrer tranquilo, - o fastio da cama. 
Ó redenção do mármore anatómico, 

Amargura, nudez de seios castos, 
Sangrar, poluir-se, ir de rastos na lama, 
Ó Madalena, ó cabelos de rastos! 

Camilo Pessanha

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