quarta-feira, 26 de outubro de 2016

OUTROS CONTOS

«O Fazedor de Viúvas», por Valter Hugo Mãe.

«O Fazedor de Viúvas»
Pequeno Excerto de Valter Hugo Mãe

907- «O FAZEDOR DE VIÚVAS»

[Pequeno Excerto]

“Todos o conheciam como o fazedor de viúvas. Era o fazedor de viúvas porque se metia com mulheres casadas que, breve tempo depois, enterravam os maridos. Ninguém podia garantir que as incentivasse a livrarem-se deles, ao menos não até a dona Hortênsia ter sido presa e saído de casa em braços do polícia Tito.

Mata aos berros aflitos, que ele, o Zequelino Cutelo, é que lhe tinha deixado um veneno para ratos nas mãos, que ele, o fazedor de viúvas, é que a tinha posto louca, uma mulher tão simples enganada por um homem tão perigoso. Era o que ele queria. Não queria mais nada. Só que elas matassem os maridos. Como se depois disso lhes perdesse o desejo, ou, de certeza, nem desejo algum lhes tivesse, só as queria deitar em perdição. Sim, porque sabia que andara com esta e com aquela e, ainda que viúvas em liberdade sem o azar da dona Hortênsia, ele já não as queria.

Mal o cornudo fosse à terra, ele desaparecia de beira delas. A minha avó, que pouco opinava sobre a amizade do meu avô com tão suspeito homem, no dia em que a dona Hortênsia foi presa disse alto à entrada da sala, esse homem é um assassino, não o quero em minha casa. O meu avô silenciou-se como se fosse culpado e ouviu, comigo, o bater da porta da frente. A minha avó saíra para ver a algazarra na praça.”

Valter Hugo Mãe

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