domingo, 5 de março de 2017

RECORDANDO MANUEL LARANJEIRA...

«Diálogo»
Pintura de Guayasamin

O ÚLTIMO DIÁLOGO

Ao morrer, os olhos dizem:
 – “ Pára, Morte , e espera aí!
Vida não vás tão depressa,
Que eu inda te não vivi..."

E a Vida passa e a Morte
É que responde em vez dela:
– “Mas que culpa tem a vida
de que não saibam vivê-la?”

Manuel Laranjeira

DIÁLOGO

Perdi esperança em ver
Quem de mim anda fugida…
A vida é pra ser vivida,
Não há tempo a perder.
O que vier a suceder
Pode até que valorizem,
Outros depressa maldizem
E quem pouco lhe importe…
Seja a luz fraca ou forte,
Ao morrer, os olhos dizem!

Falas de mim apressada
Que não tenho paciência,
Eu com a minha vivência
Digo que estás enganada.
Vou em marcha sossegada,
Que bem se vai por aqui!...
Saudades do que não vi,
Quem viu, que as guarde…
Fica pra dizer mais tarde,
– “Pára, Morte, e espera aí!

Quando vem à memória
O meu passado distante…
Tudo acabou no instante,
Sem momentos de glória.
Ao recordar esta história
Que o tempo atravessa,
A vida mostra-se avessa
E teima seguir em frente…
Peço que sejas paciente,
Vida não vás tão depressa!

Ainda ontem menino
Que brincava ao pião,
Sentia o bater do coração
Às voltas com o destino.
Entrei em desatino
E de mim próprio fugi,
Segurar não consegui
Essa imagem do passado…
Vida, por ti aguardo,
Que eu inda te não vivi!

Corre um rio veloz
No seu leito a navegar,
Em intenso galopar
Até desaguar na foz.
O rio passou por nós
Com rumo sul-norte,
Desejo que leve sorte
A quem dela precise…
Se não houver deslize,
E a Vida passa e a Morte…

Ouço os sons da noite
Às voltas na correnteza…
Ninguém pela redondeza,
Não tem quem se afoite.
Talvez aqui pernoite
Com o luar por sentinela,
Deito a alma à janela
Num enorme rodopio…
Chamo a água, mas o rio,
É que responde em vez dela!

Dizes que tudo vai mal,
Por vezes de mal a pior…
Pra puder ir melhor,
Deves ser mais racional.
Não me parece normal
Essa conversa repetida,
A morte foi estabelecida
Não é nada de novo…
Escuta a voz do povo:
– Mas que culpa tem a vida?

Aproveita o momento,
Ele nunca volta atrás…
Todo o bem que se faz
Cai em esquecimento.
A luz no firmamento
Serás tu a acendê-la,
Abraçado numa estrela
Sem arranjar desculpa…
A vida não tem culpa
De que não saibam vivê-la!

Manel d’ Sousa

1 comentário:

Anónimo disse...

Nota máxima para para os dois poetas!