domingo, 7 de novembro de 2010

POESIA BRASILEIRA

Cecília Benevides de Carvalho Meireles, grande poetisa do simbolismo literário brasileiro, comemoraria hoje o seu centésimo nono aniversário. Poet'anarquista recorda esta pérola da poesia brasileira!
Poet'anarquista
Cecília Meireles
Poetisa


BREVE BIOGRAFIA 

Cecília Meireles é uma das grandes escritoras da literatura brasileira. Os seus poemas encantam os leitores de todas as idades. Nasceu no dia 7 de novembro de 1901, na cidade do Rio de Janeiro e seu nome completo era Cecília Benevides de Carvalho Meireles.

A sua infância foi marcada pela dor e solidão, pois perdeu a mãe com apenas três anos de idade e o pai não chegou a conhecer (morreu antes de seu nascimento). Foi criada pela avó Dona Jacinta. Por volta dos nove anos de idade, Cecília começou a escrever as suas primeiras poesias.  

Formou-se professora, e com apenas 18 anos de idade, no ano de 1919, publicou o seu primeiro livro "Espectro" (vários poemas de caráter simbolista). Embora fosse o auge do Modernismo, a jovem poetisa foi fortemente influenciada pelo movimento literário simbolista. 
No ano de 1922, Cecília casou-se com o pintor Fernando Correia Dias. Com ele, a escritora teve três filhas.  

As sua formação como professora e interesse pela educação levou-a a fundar a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro no ano de 1934. Escreveu várias obras na área de literatura infantil como, por exemplo, "O cavalinho branco", "Colar de Carolina", "Sonhos de menina", "O menino azul", entre outros. Estes poemas infantis são marcados pela musicalidade (uma das principais características da sua poesia). 

O marido suicidou-se em 1936, após vários anos de sofrimento por depressão. O novo casamento de Cecília aconteceu somente em 1940, quando conheceu o engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira.  

No ano de 1939, Cecília publicou o livro Viagem. A beleza das poesias trouxe-lhe um grande reconhecimento dos leitores e também dos acadêmicos da área de literatura. Com este livro, ganhou o Prémio de Poesia da Academia Brasileira de Letras. 

Cecília faleceu em sua cidade natal no dia 9 de novembro de 1964.
Fonte: Sua Pesquisa
RETRATO
Cecília Meireles
RETRATO                                                                                                                                                         
"Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração que nem se mostra. 
Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles

SONETO ANTIGO

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando 

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento

Cecília Meireles

MOTIVO

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada

Cecília Meireles

1 comentário:

Anónimo disse...

E aqui as homenagens continuam... Na data que lembra o nascimento de nossa querida e grande Cecilia.

Belos sim são os 3 poemas, dos quais não se pode dizer qual seja o melhor, o mais expressivo, o mais contundente, não é mesmo?

Cecília, cada palavra em seu lugar e com uma função inequívoca! Assim é ela em toda sua obra.

Obrigado a ambos, a Camões pelo mais que belo conteúdo. E a Anônimo pelo acréscimo de mais umas quadras cecilianas, do instigante Cancioneirao da Inconfidência (Que já li duas vezes) Cecília, na poesia em língua portuguesa, arrebata!