domingo, 17 de março de 2013

POESIA - ANTÓNIO BOTTO

O poeta português António Tomás Botto, mais conhecido por António Botto, nasceu em Concavada no concelho de Abrantes, a 17 de Agosto de 1897. A sua obra mais conhecida, e também a mais polémica, é o livro de poesia Canções que, pelo seu carácter abertamente homossexual, causou grande agitação nos meios religiosos mais conservadores da época. Foi amigo pessoal de Fernando Pessoa, que se encarregou de traduzir em 1930 as suas Canções para o inglês, e com quem colaborou numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos. Assumindo a sua homossexualidade (apesar de ser casado com Carminda Silva), a sua obra reflete muito da sua orientação sexual e no seu conjunto será, provavelmente, o mais distinto conjunto de poesia homo-erótica de língua portuguesa. Morreu atropelado em 1959 no Brasil, para onde se tinha exilado para fugir às perseguições homófobas de que foi vítima, na mais dolorosa miséria. António Botto faleceu no Rio de Janeiro, a 16 de Março de 1959, e os seus restos mortais foram trasladados para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa, em 1966.
Poet’anarquista
António Botto
Poeta Português Quando Jovem 

Retrato de António Botto
Abel Manta (?)

António Botto
Poeta Portugês
SOBRE O POETA...

Escritor português, natural de Concavada, Abrantes, e que mais tarde se estabeleceu no bairro de Alfama, em Lisboa. Fernando Pessoa, de quem foi amigo, Gaspar Simões e José Régio escreveram, ao longo dos anos 20 e 30, vários artigos sobre a sua poesia. 

Estreou-se, no mundo da literatura, com as colectâneas poéticas Trovas (1917), Cantigas de Saudade (1918) e Cantares (1919), celebrizando-se com a publicação de Canções (1921), que Fernando Pessoa traduziria para inglês em 1930. A segunda edição desta obra, datada de 1922, foi apreendida, tornando-o num poeta maldito. Em 1930 surgiu uma terceira edição que englobava os livros de poemas Motivos de Beleza (1923), Curiosidades Estéticas (1924), Pequenas Esculturas (1925), Olímpiadas (1927) e Dandismo (1928) aos quais, dez anos depois, numa quinta edição, seriam acrescentados Ciúme (1934), Baionetas da Morte (1936), A Vida Que Te Dei (1938) e Os Sonetos (1938), livros entretanto publicados. As obras poéticas O Livro do Povo (1944) e Fátima — Poema do Mundo (1955) permaneceram excluídas de todas estas edições. 

A sua poesia caracteriza-se por algum decadentismo, associado à tendência modernista de vivência do quotidiano, pelo sentido do ritmo e a limpidez do estilo. Alguns dos seus melhores momentos poéticos estão nas descrições do quotidiano cinzento do bairro de Alfama ou na celebração da beleza masculina. Para além da poesia, Botto dedicou-se também à ficção, género que dominava com bastante à vontade e do qual se destacam as obras António (1933), Isto Sucedeu Assim (1940), Os Contos de António Botto (histórias para crianças, de 1942) e Ele Que Diga se Eu Minto (1945). Escreveu ainda a peça de teatro, em três actos, Alfama (1933), e colaborou com Fernando Pessoa numa Antologia de Poemas Portugueses Modernos.
Fonte: Astormentas

O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO O GIRASSOL (II)

O meu olhar
é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

António Botto

INÉDITO

Nunca te foram ao cu
Nem nas perninhas, aposto!
Mas um homem como tu,
Lavadinho , todo nu, gosto!

Sem ter pentelho nenhum
com certeza, não desgosto,
Até gosto!
Mas... gosto mais de fedelhos.

Vou-lhes ao cu
Dou-lhes conselhos,
Enfim... gosto! 

António Botto

ANDA VEM

Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha --- rosa de lume?

Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.

Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!

E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
--- Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!

Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!

António Botto 

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