segunda-feira, 12 de novembro de 2012

SONETOS DE AUGUSTO DOS ANJOS

Poeta brasileiro mais uma vez presente no espaço Amigos d'Arte, hoje com publicação dos sonetos «O Morcego», «O Meu Nirvana» e «Soneto». Ver aqui- «POESIA - AUGUSTO DOS ANJOS» ou ainda aqui- «VERSOS ÍNTIMOS», sobre vida e obra deste poeta brasileiro identificado como simbolista ou parnasiano, ou ainda classificado pelo poeta Ferreira Gullar de pré-modernista. Foi um dos poetas mais críticos do seu tempo, admirado tanto por leigos, como por literários. Augusto dos Anjos nasceu em Cruz do Espírito Santo, no Brasil, a 20 de Abril de 1884 e faleceu em Leopoldina, Brasil, a 12 de Novembro de 1914. Viva a poesia pela mão do poeta Augusto dos Anjos!
Poet'anarquista
Augusto dos Anjos
Poeta Brasileiro

O MORCEGO

Meia noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vêde:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o tecto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

Augusto dos Anjos

O MEU NIRVANA

No alheamento da obscura forma humana, 
De que, pensando, me desencarcero, 
Foi que eu, num grito de emoção, sincero 
Encontrei, afinal, o meu Nirvana!

Nessa manumissão schopenhauereana, 
Onde a Vida do humano aspecto fero 
Se desarraiga, eu, feito força, impero 
Na imanência da Idéa Soberana!

Destruída a sensação que oriunda fora
Do tacto — ínfima antena aferidora
Destas tegumentárias mãos plebéas —

Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
De haver trocado a minha forma de homem
Pela imortalidade das Idéas!

Augusto dos Anjos

SONETO

Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.

Bendito o riso assim que se desata
- Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!

Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos...

Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh'alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!

Augusto dos Anjos

4 comentários:

Anónimo disse...

Estamos, então, em mui boa companhia:

De ígneo Augusto que é dos Anjos...

Que rico mundo para nós sábio cria,

com o sonoro de cítaras e banjos!

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Já o amigo Camões constata que até versos o homem inspira! :)

Outra vez rendo-me ao seu bom gosto na seleção de conteúdos, prezado Carlos!

Um ótimo dia ao amigo e sua família, sincero, desejo!

Camões disse...

Amigo Ŭel Roŝa:

Se pretender conhecer poesia de minha autoria, basta escrever na busca do blogue- Matias José.

Os nomes «Matias José» e «POETA» são dois pseudónimos que utilizo na escrita poética.

Também ao escrever na busca do blogue- João Paulo Galhardas, irá ter acesso a pintura de um irmão meu que se suicidou com apenas 30 anos de idade.

Por vezes as pinturas poderão estar assinadas como «Palera», alcunha do artista desde tenra idade.

Tudo de bom para si e família...

Carlos Camões Galhardas

Anónimo disse...

Obrigado, Carlos.

Tomando devida nota!

Anónimo disse...

Acabo de visitar a galeria de seu irmão João Paulo Galhardas, onde se pode constatar o precoce talento de seu finado irmao.

Belo, seu gesto em trazer a público a arte dele!!!

Também tive a oportunidade de, lá, ler alguns versos feitos por você mesmo, com pseudônimo Matias José.

Muito valeu,
Carlos!***