quarta-feira, 17 de julho de 2013

POESIA - JOÃO JOSÉ COCHOFEL

O poeta português João José de Melo Cochofel Aires de Campos, mais conhecido por João José Cochofel nasceu em Coimbra, a 17 de Julho de 1919. Pertenceu à geração neo-realista de Coimbra e foi um dos organizadores da coleção de poesia do Novo Cancioneiro, em 1941. Além de poeta, foi também ensaísta, crítico literário e musical. João José Cochofel faleceu em Lisboa, no dia 14 de Março de 1982.
Poet’anarquista
João José Cochofel
Poeta Português
SOBRE O POETA…

Poeta e ensaísta português do núcleo neo-realista de Coimbra, onde se formou em Ciências Histórico-Filosóficas. Colaborou na organização do Novo Cancioneiro (1941), colectânea de poemas ligados a este movimento literário, e em publicações periódicas (Altitude, Presença, Seara Nova, Sol Nascente, Vértice, etc.) foi crítico musical e esteve à frente da Academia de Amadores de Música de Lisboa. 

Dirigiu o Grande Dicionário da Literatura Portuguesa e de Teoria Literária. Da sua obra poética, caracterizada pela simplicidade retórica e por um forte tom melancólico, destacam-se Instantes (1937), Búzio (1940), Sol de Agosto (1941), Descoberta (1945), Os Dias Íntimos (1950), 46º Aniversário (1966), Uma Rosa no Tempo (1970), O Bispo de Pedra (1975) e Obra Poética (1989). De ensaios, deixou publicado um volume intitulado Iniciação Estética (1959) e Iniciação Estética Seguido de Críticas e Crónicas (1992).
Fonte: astormentas.com

PARAÍSO PERDIDO

Que vens aqui fazer, espírito velho
de tudo o que foi perdido
e nunca mais achei?

Então...
ainda eu olhava o mundo
com meus olhos de manhãs azuis,
e nos lábios
havia ainda a ternura dos beijos moços
como a relva dos prados.

Foi mais tarde...
que a vida me entardeceu.

(Tardes enevoadas e frias,
abandonadas,
ermas
tristes como eu... )
Foi mais tarde...
que a tal desgraça se deu. 

João José Cochofel

OS DIAS ÍNTIMOS

Mói música um realejo,
poético de convenção.
Mas é hoje o que agrada
ao meu coração.

Com castanhas assadas,
chuva na imaginação,
e luzes molhadas
no asfalto do chão,

Egoísmo de bicho,
simulado ou não,
mas que bem me sabe
esta solidão.

Ó comedida felicidade,
com teu ópio vão
sobre tanta náusea
passa a tua mão. 

João José Cochofel

PÓRTICO

Outros serão
os poetas da força e da ousadia.
Para mim
— ficará a delicadeza dos instantes que fogem
a inutilidade das lágrimas que rolam
a alegria sem motivo duma manhã de sol
o encantamento das tardes mornas
a calma dos beijos longos.
(Um ócio grande. Morre tudo
dum morrer suave e brando...

Que os outros fiquem com o seu fel
as suas imprecações
o seu sarcasmo.
Para mim
será esta melancolia mansa
que me é dada pela certeza de saber
que a culpa é sempre minha
se as lágrimas correm ...

João José Cochofel

1 comentário:

Rogério G.V. Pereira disse...

Injustiçados, os poetas esquecidos. Obrigado, por os ir lembrando!