quinta-feira, 6 de outubro de 2011

POETA TOMAS TRANSTRÔMER - NOBEL DA LITERATURA 2011

É com enorme satisfação que publico a notícia do Prémio Nobel da Literatura 2011, atribuído ao poeta e cidadão sueco Tomas Transtrômer. Nasceu em Estocolmo, a 15 de Abril de 1931 e a sua poesia tem tido grande influência na escrita sueca, assim como em todo o mundo das letras. Com tradução em mais de trinta línguas, já havia recebido outros prémios na sua carreira, dos quais destaco o Prémio Literário do Conselho Nórdico entregue em 1990. Está de parabéns a literatura, e neste caso particular, a poesia. Daqui envio um abraço muito especial a Tomas Transtrômer!
Poet'anarquista
Tomas Transtrômer
Poeta Sueco
BREVE BIOGRAFIA

Tomas Tranströmer (Estocolmo, 15 de abril de 1931) é um poeta e tradutor sueco.
A poesia de Tranströmer tem uma grande influência na Suécia e em todo o mundo, sendo ele o poeta sueco mais traduzido: os seus poemas estão traduzidos em mais de trinta línguas. Recebeu numerosos prémios literários, como por exemplo o Prémio Literário do Conselho Nórdico em 1990 e agora o Prémio Nobel da Literatura em 2011.
Tranströmer iniciou-se na poesia aos 23 anos de idade. O seu primeiro livro intitulava-se «17 Dikter» (17 poemas). A maior parte da sua obra é escrita em verso livre, embora também tenha feito experiências com linguagem métrica. Na sua escrita nota-se uma certa disciplina horaciana.
Vive presentemente numa ilha, longe dos olhares do mundo e dos meios de comunicação. Foi psicólogo de profissão até 1990. Redigiu cerca de uma quinzena de obras numa longa carreira dedicada à escrita.
Em 1990 foi vítima de um acidente vascular cerebral que o deixou em parte afásico e hemiplégico. Continuou a escrever e publicou três obras, das quais se destaca «O Grande Enigma: 45 Haikus».
Fonte: Wikipédia

FUNCHAL

O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.

Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes, segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.

O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer bem, um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso, horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!

Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.

E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.

Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design, violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo quando tiramos as roupas.

Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz,expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na línguaestranha. “ um homem não é uma ilha.“ Por meio deles fortalecemo-nos, mas também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.

Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.

Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro se consegue ler.

Tomas Tranströmer

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