O poeta português António Sardinha nasceu em Monforte, distrito de Portalegre, a 9 de Setembro de 1887. Principal figura da corrente integralista lusitana, de inspiração monárquica, defendeu fortemente uma visão conservadora do mundo. António Sardinha faleceu em Elvas, a 10 de Janeiro de 1925.
Poet'anarquista
António Sardinha
Poeta Português
SOBRE O POETA…
Escritor, pensador e político português, natural de
Monforte. Formado em Direito, aderiu à causa monárquica, sendo, em 1914, um dos
fundadores da revista de doutrinação filosófica Nação Portuguesa, órgão do
Integralismo Lusitano. Foi a grande figura deste movimento e, em 1917, passou a
dirigir o jornal A Monarquia. Foi deputado sob a presidência de Sidónio Pais e,
após o fracasso do golpe monárquico de 1919, no Porto, exilou-se em Espanha.
Regressado, em 1921, prosseguiu a sua acção de pensador, levando a cabo uma
revisão historiográfica e crítica divergente das interpretações, então
dominantes, da historiografia, do liberalismo e do republicanismo. Foi também o
teórico de uma peninsularidade (em Aliança Pensinular — Antecendentes e
Possibilidades, 1924) e um estudioso da geração dos primeiros românticos
portugueses e de certas figuras do grupo dos Vencidos da Vida, referências do
grupo integralista numa primeira fase.
Como poeta, esteve ligado a um tradicionalismo lusitanista,
nos volumes Tronco Reverdecido (1910, sob o pseudónimo de António de Monforte),
A Epopeia da Planície (1915) e Na Corte da Saudade (1922). Entre as suas obras
poéticas contam-se ainda Quando as Nascentes Despertam (1921), Chuva da Tarde
(1923), Era Uma Vez Um Menino (1926), O Roubo de Europa (1931) e Pequena Casa
Lusitana (1937).
A sua obra de doutrinário, ensaísta, polemista e
historiógrafo compreende os volumes O Valor da Raça (1915), Ao Princípio Era o
Verbo (1924), Ao Ritmo da Ampulheta (1925), Feira dos Mitos (1926), Purgatório
das Ideias (1929) e Processo dum Rei (1937). Defensor de uma monarquia
tradicionalista e não-parlamentar, influenciou fortemente pensadores
posteriores.
Fonte: Astormentas
VERSOS DO TRINCO DA PORTA
Versos do trinco da porta,
- Louvado seja o Senhor!
A casa é Deus quem ma guarda,
Ninguém a guarda melhor!
Batem os pobres à porta,
- Batem com ar de humildade.
"Eu sei que é pouco irmãozinho!
É pouco, mas de vontade!"
Quem é que a porta abriria,
Com modos de atrevimento?
São coisas da criadagem!
Não foi ninguém, - é o vento!
Mexem no trinco da porta.
- "Levante, faça favor!"
A entrada nunca se nega
Seja a visita quem for!
Não vês a porta batendo?
Que aragem essa que corta!
Em toda a volta do dia,
Não pára o trinco da porta!
Trinco da porta caindo
Sobre a partida de alguém...
Oh, quantos vão e não voltam?!
São os que a morte lá tem!
António Sardinha
Chegaram os camelos junto ao poço,
Quando Rebeca tinha a urna cheia.
Foram momentos esses de alvoroço,
Bem raros de encontrar em terra alheia.
Também meu coração, menino moço,
Nos cardos do caminho se golpeia.
Ouço-te os passos, dentro de alma eu ouço
O eco dos teus passos sobre a areia.
Busquei-te no deserto longamente...
Como Rebeca outrora, condoída,
Surgiste, calma, na poeira ardente.
De ânfora baixa, à boca da cisterna,
Ficaste assim, para toda a tua vida,
Matando a minha sede, que é eterna!
António Sardinha
VELHO MOTIVO
Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!
O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!
E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!
Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!
Soneto de Jacob, pastor antigo,
– soneto de Raquel, serrana bela...
Oh! quantas vezes o relembro e digo,
pensando em ti, como se foras Ela!
O que eu servira para viver contigo,
– tão doce, tão airosa e tão singela!
Assim, distante do teu rosto amigo,
em torturar-me a ausência se desvela!
E vou sofrendo a minha pena amarga,
– pena que não me deixa nem me larga,
bem mais cruel que a de Jacob pastor!
Raquel não era dele, e sempre a via,
enquanto que eu não vejo, noite e dia,
aquela que me tem por seu senhor!
António Sardinha
1 comentário:
Adorei estes poemas
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