segunda-feira, 30 de junho de 2014

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

THE PSYCHEDELIC FURS
«All That Money Wants»
All That Money Wants by The Psychedelic Furs on Grooveshark
Poet'anarquista

TODO ESSE DINHEIRO QUER

Céu da cidade desce como chuva
Por todos os becos para o mar
Ouço os passos cada vez mais alto
Afogando em meu sono
Pintadas mentiras nos lábios pintados
Essa promessa o céu gosto assim
Eu não acredito que eu acreditei em você
Todo o dinheiro que quiser

Todo o dinheiro que quiser
Todo o dinheiro que quiser

Criança
Do domingo cairá através da fé
Eu sinto que eu estou caindo fora da graça
Céu cinzento da cidade desce como chuva
Para me afogar em meu sono
Pessoas desaparecem e eu te esqueço
Ouço passos vejo seus rostos
Mas tudo não significa nada para mim agora

Todo o dinheiro que quiser
Todo o dinheiro que quiser
Todo o dinheiro que quiser

Céu da cidade desce como chuva
Por todos os becos para o mar
Eu ouço seus passos ficando mais alto
Eu estou me afogando em meu sono
Pintadas mentiras sobre lábios quebrados
Essa promessa o céu gosto assim
Chegou em casa empurrada e cheia de pinos

Criança
Do domingo cairá através da fé
Eu sinto que eu estou caindo fora da graça
Vejo o céu descer como chuva
Para me afogar em meu sono
Pessoas desaparecem e eu te esqueço
Ouço passos rostos gelados
Mas tudo não significa nada para mim
Todo o dinheiro que quiser

Todo o dinheiro que quiser
Todo o dinheiro que quiser
Todo o dinheiro que quer

Psychedelic Furs

OUTROS CONTOS

«O Pecado», por Olavo Bilac.

«O Pecado»
Conto de Olavo Bilac

191- «O PECADO»

A Anacleta ia caminho da igreja, muito atrapalhada, pensando no modo porque havia de dizer ao confessor os seus pecados... Teria a coragem de tudo? E a pobre Anacleta tremia só com a ideia de contar a menor daquelas cousas ao severo padre Roxo, um padre terrível, cujo olhar de coruja punha um frio na alma da gente. E a desventurada ia quase chorando de desespero, quando, já perto da igreja, encontrou a comadre Rita.

Abraços, beijos... E lá ficam as duas, no meio da praça, ao sol, conversando.

— Venho da igreja, comadre Anacleta, venho da igreja... Lá me confessei com o padre Roxo, que é um santo homem...

— Ai! comadre! — gemeu a Anacleta — também para lá vou... e se soubesse com que medo! Nem sei se terei a ousadia de dizer os meus pecados... Aquele padre é tão rigoroso...

— Histórias, comadre, histórias! — exclamou a Rita — vá com confiança e verá que o padre Roxo não é tão mal como se diz...

— Mas é que meus pecados são grandes...

— E os meus então, filha? Olhe: disse-os todos e o Sr. padre Roxo me ouviu com toda a indulgência...

— Comadre Rita, todo o meu medo é da penitência que ele me há de impor, comadre Rita...

— Qual penitência, comadre?! — diz a outra, rindo — as penitências que ele impõe são tão brandas!... Quer saber? contei-lhe que ontem o José Ferrador me deu um beijo na boca... um grande pecado, não é verdade? Pois sabe a penitência que o padre Roxo me deu?... mandou-me ficar com a boca de molho na pia de água benta durante cinco minutos...

— Ai! que estou perdida, senhora comadre, ai! que estou perdida! — desata a gritar a Anacleta, rompendo num pranto convulsivo — Ai! que estou perdida!

A comadre Rita, espantada, tenta em vão sossegar a outra:

— Vamos, comadre! que tem? então que é isso? sossegue! tenha modos! que é isso que tem?

E a Anacleta, chorando sempre:

— Ai, comadre! é que, se ele me dá a mesma penitência que deu á senhora,

— não sei o que hei de fazer!

— Porque, filha? porque?

— Porque... porque... afinal de contas... eu não sei como é que... hei de tomar um banho de assento na pia!...

Olavo Bilac

domingo, 29 de junho de 2014

CARTOON versus OITAVA

Superação Canarinha
HenriCartoon

«SUPERAÇÃO CANARINHA»

-Está em grande este Brasil…
Mesmo com adversidade,
Chegar aos quartos é baril!
-Mas qual a contrariedade?
O jogo nem sequer foi viril...?
Ganhou por uma penalidade!
-A bola parecia um quadrado...
Nos quartos, outro Cuadrado!!

POETA

CARTOON versus QUADRA

Os Traidores
HenriCartoon

«OS TRAIDORES»

-José Inseguro, qual a sua resposta
Sobre o apoio dos fundadores do PS,
Ao seu velho inimigo António Bosta?
-Fundidos traidores, não lhe parece?...

POETA

CARTOON versus QUADRA

Já não há Escolas como Antigamente
HenriCartoon

«JÁ NÃO HÁ ESCOLAS COMO ANTIGAMENTE»

Nunca pensei dizer isto um dia:
Não encontrar escola é secante,
Tenho saudade de ser estudante!
Sou eu que digo... quem diria!!?

POETA

OUTROS CONTOS

«O Pequeno Príncipe e a Rosa», por Antoine de Saint-Exupéry.

«O Pequeno Príncipe e a Rosa»
Conto de Antoine de Saint-Exupéry

190- «O PEQUENO PRÍNCIPE E A ROSA»

Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor. Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o principezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Podia ser uma nova espécie de baobá. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. O principezinho, que assistia à instalação de um enorme botão, bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto. Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma sua pétalas. Não queria sair, como os cravos, amarrotada. No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! Sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado.

E ela, que se preparava com tanto esmero, disse, bocejando:

- Ah! Eu acabo de despertar… Desculpa… Estou ainda toda despenteada…

O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:

- Como és bonita!

- Não é? Respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo que o sol…

O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente!

- Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim…

E o principezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor.

Assim, ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Um dia por exemplo, falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe:

- É que eles podem vir, os tigres, com suas garras!

- Não há tigres no meu planeta, objectara o príncipezinho. E depois, os tigres não comem erva.

- Não sou uma erva, respondera a flor suavemente.

- Perdoa-me…

- Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um pára-vento?

“Horror das correntes de ar… Não é muito bom para uma planta, notara o principezinho. É bem complicada essa flor…”

- À noite me colocarás sob a redoma. Faz muito frio no teu planeta. Está mal instalado. De onde eu venho…

Mas interrompeu-se de súbito. Viera em forma de semente. Não pudera conhecer nada dos outros mundos. Humilhada por se ter deixado apanhar numa mentira tão tola, tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe:

- E o pára-vento?

- Ia buscá-lo. Mas tu me falavas…

Então ela redobrara a tosse para infligir-lhe remorso.

Assim o principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela. Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.

“Não a devia ter escutado – confessou-me um dia – não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras, que tanto me agastara, me devia ter enternecido…”

Confessou-me ainda:

“Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava… Não devia jamais ter fugido. Devia ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar.”

Antoine de Saint-Exupéry

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

THE CHAMELEONS
«Thursday's Child»
Thursday’s Child by The Chameleons on Grooveshark
Poet'anarquista

CRIANÇA DE QUINTA-FEIRA

Onde estamos?
Primeiro e último
Estamos unidos em nosso passado
Muito cruel demais
Muito muito rápido
E muito muito rápido para raiva

Eu suponho
Anos atrás
Anos atrás, eu poderia ter conhecido
Eu suponho
Anos atrás

Armadilhas desnudadas
Na minha cara
Definir para me manter no meu lugar
Acene adeus à criança
E a vida, ao que parece, é mais fria

Eu suponho
Anos atrás, eu poderia ter conhecido
Eu suponho

Não
Por favor, deixe minha mente intacta
Como eu lentamente envelhecem

Onde estamos?
Cada um e todos
Criaturas correm e criaturas rastejam
Fiação aqui nesta esfera
Criaturas correm e criaturas rastejam

The Chameleons

sábado, 28 de junho de 2014

OUTROS CONTOS

«Contos Escolhidos», por Luigi Pirandello.

«Contos Escolhidos»
Conto de Luigi Pirandello

189- «CONTOS ESCOLHIDOS»

«Juro que não quis ofender o senhor Lavaccara,
nem da primeira nem da segunda vez, como andam a dizer na aldeia.

O senhor Lavaccara pôs-se a falar de um seu porco
e queria convencer-me de que era um animal inteligente.

Eu então perguntei-lhe:

- Desculpe, o porco é magro?

E eis que o senhor Lavaccara olha para mim como se a pergunta tivesse a intenção
de ofender, não o animal de que era proprietário, mas ele próprio.

Respondeu-me:

- Magro? Pesa mais de um quintal!

E eu então disse-lhe:

- Desculpe, julga que é inteligente?

Estávamos a falar do porco. Mas o senhor Lavaccara, com toda aquela sua rósea fartura de carnes tremulantes, julgou que eu depois de ofender o porco o quisesse ofender agora a ele, como se tivesse dito que em geral a gordura exclui a inteligência. Mas, repito, era do porco que estávamos a falar. Não tinha pois nada o senhor Lavaccara que fazer uma cara tão feia, nem que perguntar-me:

- Então eu, na sua opinião?…

Apressei-me a responder-lhe:

- Mas que é que o senhor tem que ver com isto, caro senhor Lavaccara? O senhor é porventura um porco? Desculpe. Quando o senhor come com esse belo apetite que Deus lhe conserve até ao fim da vida, para quem come? Come para si, não engorda para os outros. O porco pelo contrário julga que come para ele e está mas é a engordar para os outros.»

(…)

Luigi Pirandello

CARTOON versus QUADRA

O Fim do Pesadelo
HenriCartoon

«O FIM DO PESADELO»

-Anima-te, Zé… o pesadelo já acabou!
-O tanas! Só sonho com esse estupor...
Este fantasma ainda não me deixou,
E mais dois anos assim, é um horror!!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

BIM SKALA BIM - «Pete Needs a Friend»

sexta-feira, 27 de junho de 2014

CARTOON versus QUADRAS

Conselho de Estalo
HenriCartoon

«CONSELHO DE ESTALO»

-Senhodes, convoquei o Conselho de Estado
Pda discutid os pdoblemas que o país atdavessa,
Mas como calculam, isso pouco me intedessa…
A questão é:  podque foi Podtugal eliminado?

Traduzindo...

-Senhores, convoquei o Conselho de Estado
Pra discutir os problemas que o país atravessa,
Mas como calculam, isso pouco me interessa…
A questão é:  porque foi Portugal eliminado?

***

-Senhor Presidente, a resposta parece óbvia…
Despeça-se imediatamente o Paulo Sebento!

-Não digo tanto, mas assim eu não aguento…
Colocar na lateral o Veloso foi ideia pacóvia!

-E golos falhados pelo melhor do mundo!?...
 Qualquer cego marcava se tivesse olhinho…

-Salvou-se o William a libertar o Moutinho…
Haja pois esperança, que mau não foi tudo!

-E o Éder ponta de lança, lembra a alguém!?...
Só pode ter sido prá malta toda se divertir!

***

-Conselheidos, depois do que acabei de ouvid…
Sem esta selecção não ganhamos a ninguém!!

Traduzindo…

-Conselheiros, depois do que acabei de ouvir…
Sem esta selecção não ganhamos a ninguém!!

POETA

CARTOON versus QUADRA

Os Melhores do Mundo
HenriCartoon

«OS MELHORES DO MUNDO»

Golos dos três melhores do mundo:
O terceiro leva 4 golos excelentes...
Outros tantos, já marcou o segundo…
O melhor? 4 penteados diferentes!!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

PETER MURPHY - «Subway (Epílogo)»
Subway (Epilogue) by Peter Murphy on Grooveshark
Poet'anarquista

METRO (EPÍLOGO)

É como se houvesse uma maneira recta você sabe, você sabe
Eu já lhe disse antes que seja tão fino como o gelo
Tão fina como a neve navalha
Não congelar na neve
Não assar no calor
Eu vou ser sua respiração
Há um lugar onde podemos nos conhecer
E me usar

Não dormir no metro
Não dormir na chuva

Por minha voz na minha meditação da meia-noite
Quando eu acordar, meu ser flutuação do coração
Vir e encher, venha e preencha a partir do estouro
Vem brincar, venha e jogue seu ser como um pássaro

Não dormir no metro
Eu estou precisando de você bem
Eu sinto que você, você está fechando sim
Chegar perto, falar através de mim
Chegar perto, manter firme comigo
Se você cair agora que poderia ser para sempre
Eu estou te dizendo a linha é fina agora
Eu já lhe disse antes este ódio é um pecado
Fora o vazio para o transbordamento
Deixe o amor começar

Há um lugar onde podemos nos conhecer

Peter Murphy

OUTROS CONTOS

«A Terceira Margem do Rio», por Guimarães Rosa.

«A Terceira Margem do Rio»
Conto de Guimarães Rosa

188- «A TERCEIRA MARGEM DO RIO»

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para. estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja, a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse, ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele aguentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranquilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Guimarães Rosa

quinta-feira, 26 de junho de 2014

CARTOON versus OITAVA

O Milagre
HenriCartoon

«O MILAGRE»

-Haverá milagre na selecção?
-Eu parece-me que pode haver…
Metade dela está com lesão,
A outra metade a envelhecer,
E o mister em fim de estação…
Por este andar ainda vamos ter
Uma equipa com gente normal,
E ganhar o próximo Mundial!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

LOVE & ROCKETS - «Sweet F.A.»
Sweet F.A. by Love and Rockets on Grooveshark
Poet'anarquista

DOCE F.A.

Eu estava rolando para baixo da janela do meu carro
E estava a pensar onde tinha o jogo me levado até agora
Não importa onde você está indo ou onde você está vindo
Ou é a sua vida como um grão de areia?
Foda-se tudo o resto

Bem eu estava rolando na estrada dos meus sonhos
E estava a pensar no pôr-do-sol e a tela de prata
Não importa onde você está indo ou onde você está vindo
Ou é a sua vida como um grão de areia?
Foda-se tudo o resto

Não importa onde estamos indo ou onde nós vamos partir
Ou a vida não é como um grão de areia?
Foda-se tudo o resto

Rolando na estrada em um sonho

Eu estava rolando na estrada em um sonho

Apenas rolando na estrada em um sonho

Só rolando...
Só rolando...

Love & Rockets

OUTROS CONTOS

«O Dente Quebrado», por Pedro Emílio Coll.

«O Dente Quebrado»
Conto de Pedro Emílio Coll

188- «O DENTE QUEBRADO»

Aos doze anos de idade, Juan Pena, brigando com uns moleques de rua, levou uma pedrada num dente; o sangue correu, lavando-lhe o sujo da cara, e o dente partiu-se em forma de serra. Nesse dia começa a idade de ouro de Juan Pena.

Com a ponta da língua, Juan passava o tempo a roçar o dente quebrado — o corpo imóvel, o olhar vago, sem pensar. Assim, de rebelde e brigão que era, fez-se calado e manso.

Os pais de Juan, fartos de ouvir queixas da vizinhança e dos transeuntes — vítimas das perversidades do garoto —, e que haviam esgotado toda espécie de repreensões e castigos, achavam-se agora estupefactos e aflitos com essa transformação.

Juan não dizia uma palavra, e passava horas a fio em atitude hierática, como em êxtase, enquanto lá dentro, na escuridão da boca fechada, sua língua acariciava o dente quebrado. Sem pensar.

— Esse menino não anda bem, Paulo — dizia a mãe ao marido.

— É preciso chamar o médico.

Veio o doutor, grave e pançudo, e fez o diagnóstico: pulso normal, bochechas sangüíneas, excelente apetite, nenhum sintoma de doença.

— Minha senhora — acabou por dizer o sábio, depois de longo exame —, a honestidade da minha pessoa impõe que lhe declare...

— O quê, senhor doutor de minha alma? — interrompeu a angustiada mãe.

— Que seu filho está são como um perro. O que é indiscutível — continuou, em voz misteriosa —, é que estamos em face de um caso fenomenal: seu filho, minha estimável senhora, sofre daquilo a que hoje chamamos o mal de pensar; numa palavra, seu filho é um filósofo precoce, um gênio talvez.

Na escuridão da boca, Juan acariciava o seu dente quebrado. Sem pensar.

Parentes e amigos fizeram-se eco da opinião do doutor, acolhida com indescritível júbilo pelos pais de Juan. Dentro em pouco, citava-se em toda a cidade o espantoso caso do “menino-prodígio”, e sua fama cresceu como um balão inchado de fumaça. Até o mestre-escola, que sempre o tivera como a cabeça mais lerda deste mundo, submeteu-se à opinião geral, visto que a voz do povo é a voz de Deus. E cada um trazia a confronto o seu exemplo: Demóstenes comia areia; Shakespeare era um malandrinho esfarrapado; Edison etc.

Cresceu Juan Pena entre livros abertos diante dos olhos, mas que ele não lia, distraído pela tarefa de sua língua ocupada em tocar a pequena serra do dente quebrado. Sem pensar.

E, com o corpo, crescia-lhe a reputação de homem judicioso, sábio e “profundo”, e ninguém se cansava de louvar o talento maravilhoso de Juan.

Juan ainda em plena mocidade, e as mais belas mulheres tratando de seduzir e conquistar aquele espírito superior, entregue a fundas meditações, segundo o julgamento de todos, mas que, na escuridão de sua boca, roçava o dente quebrado. Sem pensar.

Passaram-se meses e anos, e Juan Pena foi deputado, académico, ministro. E achava-se a pique de ser eleito presidente da República, quando a apoplexia o surpreendeu, acariciando com a ponta da língua o seu dente quebrado.

E os sinos dobraram; e foi decretado rigoroso luto nacional; um orador chorou, numa oração fúnebre, em nome da pátria; e caíram rosas e lágrimas sobre o túmulo do grande homem que não tivera tempo de pensar.

Pedro Emílio Coll

quarta-feira, 25 de junho de 2014

CARTOON versus QUADRAS

Suite Prisional
HenriCartoon

«SUITE PRISIONAL»

Ó senhor guarda prisional...
Agora que o Isaltino basou,
Posso ocupar a cela especial
E deixar o buraco onde estou?

Mas tu tás parvo, ou o quê?
Aqui as celas são todas iguais…
Algumas diferentes especiais
 Pra outros crimes, não se vê?...

Com obras de baixo a cima,
E a redecorar!…  além do mais,
Vai entrar um tal Duarte Lima
Pró lugar do Isaltino Morais.

POETA

OUTROS CONTOS

«A Carta», por George Orwell.

«A Carta»
Por George Orwell

187- «A CARTA»

“Para Noel Willmett“

 18-Mai-1944

10a Mortimer Crescent NW 6

Caro Sr. Willmett,

 Muito obrigado por sua carta. Você questiona se o totalitarismo, o culto a um líder, etc, estão realmente em progressão e usa como exemplo o fato de que eles não estão aparentemente crescendo neste país e nem nos EUA.

Devo dizer que acredito, ou temo, que tomando o mundo como um todo, essas coisas estão a crescer. Hitler, sem dúvida, irá desaparecer em breve, mas apenas à custa do fortalecimento de (a) Stalin, (b) os milionários anglo-americanos e (c) os tipos de Fuhrers mesquinhos no nível de De Gaulle. Todos os movimentos nacionais em todos os lugares, até mesmo aqueles que se originam na resistência à dominação alemã, parecem tomar formas não-democráticas para ficar em torno de alguns Fuhrerssobre-humanos (Hitler, Stalin, Salazar, Franco, Gandhi e De Valera são exemplos variados) e a adotar a teoria de que o fim justifica os meios. Em todos os lugares, o movimento do mundo parece ser na direção das economias centralizadas que podem ser feitas para “trabalhar” em um sentido econômico, mas que não são democraticamente organizadas e que tendem a estabelecer um sistema de castas. Com isso vem os horrores do nacionalismo emotivo e uma tendência para não acreditar na existência de uma verdade objetiva, porque todos os fatos devem se encaixar nas palavras e profecias infalíveis de algum Fuhrer. A história, em algum sentido, já deixou de existir. Não existe tal coisa como uma história dos nossos tempos que poderia ser universalmente aceita, e as ciências exatas estão ameaçadas de extinção no momento em que se tenha necessidade de militar para colocar as pessoas de volta em seus lugares. Hitler diz que os judeus começaram a guerra, e que se ele sobreviver, isso se tornará a história oficial. Ele não pode dizer que dois e dois são cinco, porque, para os fins de, digamos, balística, tem que ser quatro. Mas se o tipo de mundo que receio chegar – um mundo de dois ou três grandes superestados que são incapazes de conquistar um ao outro – dois e dois podem se tornar cinco se o Fuhrer desejar. Isso, tanto quanto posso ver, é o rumo em que o globo vem tomando efetivamente – apesar de, é claro, o processo ser reversível.

Quanto à imunidade comparativa da Grã-Bretanha e dos EUA, o que quer que os pacifistas, etc, possam dizer, nós não nos tornamos totalitários ainda e isso é um sintoma muito esperançoso. Acredito profundamente – como expliquei em meu livro “The Lion and the Unicorn” – no povo inglês e em sua capacidade de centralizar sua economia sem destruir a liberdade ao fazê-lo. Mas é preciso lembrar que a Grã-Bretanha e os EUA não foram realmente tentados, não conheceram a derrota ou o sofrimento grave e há alguns sintomas ruins para equilibrar os bons. Para começar, há uma indiferença geral em relação à decadência da democracia. Você percebe, por exemplo, que agora ninguém na Inglaterra com menos de 26 anos tem direito ao voto e que até onde se pode ver, a grande maioria nessa idade não dá a mínima para isso? Em segundo lugar, há o fato de que os intelectuais são mais totalitários na perspectiva do que as pessoas comuns. No geral, a intelligentsia inglesa se opôs a Hitler, mas com o preço de aceitar Stalin. A maioria deles estão perfeitamente prontos para métodos ditatoriais, polícia secreta, falsificação sistemática da história, etc, desde que eles achem que é no “nosso” lado. Na verdade, a afirmação de que não temos um movimento fascista na Inglaterra, em grande parte, significa que o jovem neste momento vê seu Fuhrer em outro lugar. Não se pode ter certeza de que isso não vai mudar, nem se pode ter certeza de que as pessoas comuns não vão pensar daqui a dez anos como os intelectuais de agora. Espero que não, eu mesmo confiaria que não, mas se assim for, será à custa de luta. Se alguém simplesmente proclama que tudo é para o melhor e não aponta para os sintomas sinistros, este alguém está apenas ajudando a trazer o totalitarismo para perto.

Você também pergunta: se eu acho que a tendência mundial é na direção do fascismo, por que eu apoiaria a guerra? É uma escolha entre males – imagino que quase todas as guerras sejam assim. Eu sei o suficiente sobre imperialismo britânico para não gostar, mas gostaria de apoiá-lo contra o nazismo ou o imperialismo japonês, como o mal menor. Da mesma forma que eu iria apoiar a URSS contra a Alemanha, porque acho que a URSS não pode escapar completamente de seu passado e mantém bastante as ideias originais da Revolução para torná-la um fenômeno mais esperançoso do que a Alemanha nazista. Eu acho – e tenho pensado nisso desde o início da guerra, em 1936 ou por aí -     que a nossa causa é a melhor, mas temos que continuar a fazê-la a melhor, o que envolve críticas constantes.

Atenciosamente,

George Orwell

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...
(25 de Junho de 2009, morre o músico, cantor e compositor norte-americano, Michael Jackson)

MICHAEL JACKSON
«Black or White»
Black Or White by Michael Jackson on Grooveshark
Poet'anarquista

PRETO OU BRANCO 

Levei minha garota numa balada de sábado
Cara, essa menina está com você?
Sim, nós dois somos um
Agora eu acredito em milagres
É, um milagre aconteceu esta noite

Mas, se você está pensando em minha garota
Não importa se você é preto ou branco

Eles publicaram minha mensagem no jornal de Sábado
Eu tive que falar pra eles
Eu não estou atrás de ninguém
E eu falei sobre igualdade
E é verdade, esteja você certo ou errado

Mas, se você está pensando em minha garota
Não importa se você é preto ou branco

Eu estou cansado desse demónio
Eu estou cansado dessa coisa
Eu estou cansado desse negócio
Improviso quando a coisa fica preta
Eu não tenho medo do seu irmão
Eu não tenho medo de nenhum jornal
Eu não tenho medo de ninguém
Menina, quando a coisa fica feia

(L. T. B)
Protecção
Contra gangues, clubes e nações
Causando aflição nas relações humanas
É uma guerra de territórios numa escala global
Eu preferiria ouvir os dois lados dessa história
Veja, não se trata de raças
Apenas lugares, rostos

De onde vem seu sangue, é onde fica o seu lugar
Eu já vi o brilhante ficar mais opaco
Eu não vou passar a minha vida sendo uma cor

Não me diga que concorda comigo
Quando eu te vi chutando poeira em meu olho
Mas, se você está pensando em minha garota
Não importa se você é preto ou branco

Eu disse, se você está pensando em ser minha garota
Não importa se você é preto ou branco
Eu disse, se você está pensando em ser meu irmão
Não importa se você é preto ou branco

É preto, é branco
É duro para todos sobreviver
É preto, é branco, heer

É preto, é branco
É duro para todos sobreviver
É preto, é branco, heer

Michael Jackson

COMICHÃO ALHEIA

«Comichão Alheia»
Causadora de Cefaleia

Para um anónimo que enviou o seguinte comentário para o blogue:

«É tudo muito bonito, 
mas porque será que ninguém comenta?????»

COMICHÃO ALHEIA

É tudo muito bonito,
E ninguém aqui comenta?
Vejo que lamenta…
Eu não sei se o acredito!
Ó, senhor!... estou aflito
Com tamanha preocupação,
Peço à Senhora da Conceição
Nossa Santa Padroeira...
Afaste logo a má olheira
De quem sente comichão!

Matias José

terça-feira, 24 de junho de 2014

CARTOON versus QUADRAS

A Humildade de Ronaldo
HenriCartoon

«A HUMILDADE DE RONALDO»

No Mundial alguém «acarditou»?…
A nossa equipa é muito limitada
E com humidade, fica bloqueada…
Foi mau demais… ninguém jogou!

Depois tivemos o Pepe castigado…
Expulso, como toda a gente viu,
Mais o Fábio Coentrão lesionado…
O melhor do mundo? Não existiu!

 E pra não falar de outras lesões,
Dou aqui o assunto por encerrado...?
Ficar na «merdiana» nestas condições,
Era bastante «muita» mais complicado!!

POETA

CARTOON versus QUADRA

E Quem não Salta... - Mundial em Língua Gestual

HenriCartoon

«E QUEM NÃO SALTA…
MUNDIAL EM LÍNGUA GESTUAL»

-E salta Zé, olé, olé… e salta Zé…
E quem não salta é anormal...
-E dedos bem em riste, olé, olé…
E Mundial na língua gestual...

Yeh, yeh!!!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

JOY DIVISION - «Interzone»
Interzone by Joy Division on Grooveshark
Poet'anarquista

INTERZONA

Atravessei a pé os limites da cidade
Alguém me falou para fazê-lo
Atraído por alguma força de dentro
Tive que fechar meus olhos parar chegar perto disso
Virando numa esquina onde uma profeta jazia deitada
Vi o lugar onde ela tinha um quarto para ficar
Uma cerca de arame onde as crianças brincavam
Eu vi a cama onde jazia o corpo
E eu procurava um amigo meu
E não tinha tempo a perder
Yeah, procurava alguns amigos meus

Os carros cantaram pneu na areia e no pó
Ouviu um barulho, é só um carro do lado de fora
Azul-metálico transformado em vermelho pela ferrugem
Eu estacionei junto à lateral do prédio
Num grupo toda a juventude esquecida
Tinha que pensar, recolher todos os meus sentidos
Sintonizados numa vista de faca afiada
Encontro alguns lugares onde meus amigos não irão
E eu procurava um amigo meu
E não tinha tempo a perder
Yeah, procurava alguns amigos meus

Lá em baixo, na rua escura, as casas parecem as mesmas
Ficando mais escuro agora, os rostos parecem os mesmos
Fiquei andando em círculos
(Sem estômago, dilacerado)
Me pregue em um trem
Tive que pensar novamente
Tentando achar uma pista, tentando achar uma maneira de cair fora
Tentando se afastar, teve que se afastar e manter fora.

Quatro, doze janelas, dez seguidas
Atrás de uma parede, bem, eu olhei para baixo
A luz brilhava como um show de neon
Sinto o calor profundamente suave da luz
Sem lugar para parar, sem lugar par ir
Sem tempo a perder, tenho que continuar
Acho que eles morreram algum tempo atrás
Acho que eles morreram algum tempo atrás
E eu procurava um amigo meu
E não tinha tempo a perder
Yeah, procurava alguns amigos meus

Joy Division

CARTOON versus QUADRA

Costa Barbaramente Insultado
HenriCartoon

«COSTA BARBARAMENTE INSULTADO»

Traição! O Ésse está meio Inseguro...
Abaixo o Pê, esse Bosta pestilento,
Um oportunista, mas pouco seguro...
Fora daqui seu… seu reles Sebento!!

POETA

OUTROS CONTOS

«Esse Punhado de Ossos», conto poético por Ivan Junqueira.

«Esse Punhado de Ossos»
Conto Poético de Ivan Junqueira

186- «ESSE PUNHADO DE OSSOS»

Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.

Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.

Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez

a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram.

Ivan Junqueira

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CARTOON versus SONETO

Selecção no Buraco
HenriCartoon

«SELECÇÃO NO BURACO»

Tinha homens bem preparados
Para ganhar tudo neste mundial,
Agora o que tenho são aleijados
De malas aviadas pra Portugal...

Não sei o que nos correu mal…?
Pois… os árbitros são culpados,
O jogo acabava no golo inaugural;
Logicamente… fomos roubados!

Já podíamos estar despachados,
Mas um golo no desconto final
Não evitou sermos humilhados!

 Milagres são agora esperados
Contra uma equipa sem historial,
E muita GANA nos relvados!!

POETA

SONETO, POR NICOLAU TOLENTINO

«Jogando Gamão»
Pintura Medieval

«A DOIS VELHOS JOGANDO O GAMÃO»

Em escura botica acantonados,
Ao som de grossa chuva que caía,
Passavam de Janeiro um triste dia
Dois gingas no gamão encarniçados.

Corra, vizinho, corra-me esses dados,
Gritava um deles, que nem bóia via;
De sangue frio o outro lhe dizia
Mil anexins naquele jogo usados.

Dez vezes falha o mísero antiquário,
E ardendo em fúria o trémulo velhinho,
Atira c'uma tábula ao contrário:

O mal seguro golpe erra o caminho,
Quebra a melhor garrafa ao boticário
Que foi só quem perdeu no tal joguinho.

Nicolau Tolentino

Poet'anarquista