quarta-feira, 20 de abril de 2011

POESIA - AUGUSTO DOS ANJOS

O poeta brasileiro Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho de Pau D'Arco, Paraíba, a 20 de Abril de 1884. A sua escrita poética foi considerada entre o simbolismo e o parnasianismo, porém para muitos críticos, e no caso particular o poeta Ferreira Gullar, identificam-no com o pré-modernismo por encontrarem nos seus poemas a influência nítida do expressionismo. Ficou conhecido como um dos poetas mais críticos da sua época, sendo a sua obra até aos dias de hoje muito admirada por leigos e literários. Faleceu em Leopoldina, Minas Gerais, no dia 12 de Novembro de 1914.
Poet'anarquista
Augusto dos Anjos
Poeta Brasileiro
BIOGRAFIA
20/04/1884, Engenho Pau D'Arco, (PB)
12 /11/1914 Leopoldina (MG)

«Vês?! Ninguém assistiu ao formidável/ Enterro de tua última quimera./ Somente a ingratidão, esta pantera / Foi tua companheira inseparável!»  Morte dos sonhos, solidão e pessimismo são algumas das marcas da poesia de Augusto dos Anjos que, mesmo roçando o mau gosto muitas vezes, é um dos poetas mais originais da literatura brasileira.

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no engenho Pau d'Arco, Paraíba. De uma família de donos de engenhos, assistiu à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes fábricas. Seu pai, licenciado, foi quem lhe ensinou as primeiras letras. Quando estava no curso secundário, Augusto começou a mostrar uma saúde delicada e um sistema nervoso abalado.

Em 1903, iniciou os estudos na Faculdade de Direito do Recife onde teve contacto com o trabalho "A Poesia Científica", do professor Martins Junior. Formado em 1907, preferiu não advogar e ensinar português. Casou-se, em 4 de Julho de 1910, com Ester Fialho.

No mesmo ano, em consequência de desentendimento com o governador, foi afastado do cargo de professor do Liceu Paraibano, onde havia estudado. Resolveu então mudar-se para o Rio de Janeiro, onde exerceu durante algum tempo o magistério. Leccionou geografia na Escola Normal, no Instituto de Educação,  no Ginásio Nacional e por fim no Colégio Pedro II, sem conseguir ser efectivado como professor. Em 1911, morreu prematuramente o seu primeiro filho.

Em fins de 1913 transferiu-se para Leopoldina, MG, por ter sido nomeado para o cargo de director de um grupo escolar. Morreu nessa cidade, vitimado pela pneumonia, com pouco mais de trinta anos. Ainda jovem, os sofrimentos físicos tinham-lhe dado um aspecto senil.

Quase toda a sua obra poética está no seu único livro «Eu», publicado em 1912. Apesar de praticamente ignorado a princípio, pelo público e pela crítica, a partir de 1919 o livro foi constantemente reeditado como «Eu e outros poemas». 

Escrita num momento de transição, pouco antes do período modernista de 22, a sua obra representa o sincretismo entre o parnasianismo e o simbolismo. No livro, Augusto dos Anjos faz da obsessão com o próprio «eu», o centro do seu pensamento. O egoísmo e angústia estão presentes («Ai! Um urubu pousou na minha sorte»); assim como o ceticismo em relação ao amor («Não sou capaz de amar mulher alguma, / Nem há mulher talvez capaz de amar-me»).

O poeta aspira à morte e à anulação da sua pessoa, reduzindo a vida a combinações de elementos químicos, físicos e biológicos («Eu, filho do carbono e do amoníaco,»). Tal materialismo tornou-o amargo e pessimista («Tome, doutor, essa tesoura e corte/ Minha singularíssima pessoa»). Contrapõe-se a inapetência para o prazer e um desejo de conhecer outros mundos, onde a força dos instintos não restrinja os vôos da alma («Quero, arrancado das prisões carnais,/ Viver na luz dos astros imortais»).
Fonte: UOL Educação
«Eu e Outras Poesias»
Augusto dos Anjos

MARTÍRIO DO ARTISTA

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!

Tarda-lhe a Idéia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sentem enxutos!…
É como paralítico que, à míngua
Da própria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, como os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua
E não lhe vem à boca uma palavra!

Augusto dos Anjos

SOLITÁRIO

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos,um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta…
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí,como quem tudo repele,
-Velho caixão a carregar detroços-

Levando apenas na tumbal carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!

Augusto dos Anjos

A ESPERANÇA

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de luz bendito,
Salve-te a glória no futuro – avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!

Augusto dos Anjos

1 comentário:

Anónimo disse...

Muitos talentos da literatura se foram em tão tenra idade, e pelo mundo afora.

Incrível como a carga de ser poeta, então, mais parecia desgraça que um bem.

Eles, os poetas, como que viviam para morrer em seus versos. E a morte, como uma bênção, os imortilizou!!!


Salve, Carlos Camões, por seu ardor para com a Poesia!***