O Primeiro Dia
Tomada de Consciência
«Enquanto não tomarem consciência não se revoltarão, e enquanto não se revoltarem não poderão tomar consciência.»
George Orwell, in “1984”
Nos dias de hoje o poder de manifestação na rua esbateu-se profundamente perante uma sociedade cada vez mais conformada, comodista e absorta da realidade. Conformada com os direitos adquiridos em lutas anteriores, pelas gerações passadas, do 5 de Outubro ao 25 de Abril. Comodista devido a um espírito quase ‘niilista’ que se vai apoderando gradualmente da juventude actual. Absorta da realidade por forte influência de um mundo ilusório e carregado de subterfúgios que é diariamente apresentado através dos ecrãs de televisão. A manifestação na rua deixou de fazer sentido neste contexto, metamorfoseando-se numa espécie de fenómeno absurdamente anacrónico, alvo de indiferença e menosprezo generalizados. Para gáudio absoluto do sistema instituído. Pois os privilégios de alguns e as injustiças cometidas sobre outros deixam de sofrer contestação, tornando-se factos consumados sem qualquer tipo de protesto ou reivindicação.
Os meios de comunicação convencionais, dos jornais às televisões, conferem uma importância cada vez menor a manifestações cívicas, sobretudo se não estiverem envoltas num clima de polémica e de suspeição, garantias de boas audiências, com os correspondentes dividendos em publicidade. O que contribui decisivamente para um desinteresse geral dos cidadãos perante o seu próprio direito cívico de manifestação, protesto e reivindicação. Para quê protestar se ninguém nos vê? Para quê reivindicar se ninguém nos ouve? Parece que já não vale a pena. As pessoas são desencorajadas a tomar atitudes críticas desde a juventude. A diferença é sempre punida, a independência nunca é recompensada. Estamos a formar mentes adormecidas e conformadas. Pessoas incapazes de sugerir sequer um caminho diferente, uma alternativa. Uma espécie de rebanho bem-comportado, facilmente manipulável. Vivemos praticamente, em suma, no mundo vaticinado por George Orwell na obra “1984”.
Neste sentido, hoje em dia toda e qualquer manifestação cívica é preponderante para contrariar o caminho forçado por onde nos querem levar contra a nossa vontade. O caminho que mais interessa aos privilegiados que preenchem as restritas esferas do poder. Os que nunca atravessam dificuldades, à custa da miséria de muitos outros. Mais do que um direito, a manifestação na rua torna-se num dever cívico de cada cidadão. E no 1º de Maio, um dia de solidariedade internacional de todos os trabalhadores do mundo, mais do que nunca, as pessoas devem sair para a rua e elevar a sua voz, demonstrar que existem, reivindicar o cumprimento dos seus direitos. Tomar consciência da revolta que necessitam urgentemente de empreender. “Pelo pão, pelo trabalho e pela paz!”
VAMOS LÁ FAZER UM GRANDE 1º MAIO!
O Dia do Trabalhador foi pela primeira vez assinalado, em múltiplos países em simultâneo, inclusive em Portugal, no 1º de Maio de 1890.
Cumprindo prontamente a orientação que havia emanado dos dois Congressos Operários de Paris, realizados no ano anterior, o operariado português também saiu às ruas nesse dia, reclamando a redução da jornada de trabalho. A iniciativa foi conduzida pela Associação dos Trabalhadores da Região Portuguesa.
A partir dessa data, o 1º Maio nunca mais deixou de ser comemorado como dia da solidariedade internacional de todos os trabalhadores.
HISTÓRIA E MOTOR DE PROFUNDAS TRANSFORMAÇÕES
Maio tem sido, ao longo dos anos, sinónimo de liberdade e motor de profundas transformações sociais e políticas: País onde não se comemore o 1º de Maio é país oprimido, com um povo reprimido.
O princípio deste movimento internacionalista está ligado a acontecimentos bem trágicos, ocorridos quatro anos antes, no dia 4 de Maio de 1886, em Chicago, EUA.
Os operários da cidade, encontrando-se em greve geral desde o dia 1 de Maio do mesmo ano pela jornada de oito horas, realizam um comício sindical na praça Haymaiket, perante uma forte presença policial.
O ambiente está carregado de tensão e ansiedade. A provocação está preparada. Uma bomba explode. A confusão instala-se. As forças policiais disparam sobre a multidão, em pânico. São feitas prisões em massa. Oito dos detidos são transformados em bodes expiatórios, através dum processo judicial viciado e manipulado que termina com a condenação à morte por enforcamento de todos eles.
Os mártires proletários têm nome: August Spies, Albert Parsons, Adolph Fischer, Samuel Fielden, Georges Engel, Michael Schwarb, Óscar Neeb e Louis Ling.
Quando uma instância superior vem, tarde demais e por força dos protestos da sociedade americana, reparar a injustiça de que os operários tinham sido vítimas, quatro deles já haviam sido enforcados: Parsons, Spies, Engel e Fischer. Ling, na véspera da execução, suicidou-se com uma vela de dinamite. As penas de Fielden e Schwarb foram comutadas em prisão perpétua e a de Neeb em 15 anos.
Apesar da repressão, 50 mil dos operários em greve conquistaram imediatamente o dia de oito horas, enquanto que outros 200 mil conseguiram reduções menos significativas.
O exemplo dos operários de Chicago galvanizou os trabalhadores do mundo inteiro.
A partir daí, os trabalhadores ganharam o direito de intervir no estabelecimento dos seus horários de trabalho e consciencializaram-se da importância decisiva da sua unidade e da solidariedade internacionalista na luta pela emancipação e dignificação de quem trabalha.
UMA HISTÓRIA TAMBÉM PORTUGUESA, CONCERTEZA!
Em Portugal, o movimento sindical e laboral foi-se reforçando até ao derrube da Monarquia e a instauração da República. Com o novo regime político, algumas câmaras municipais decretaram o 1º de Maio como feriado oficial. A luta pela jornada de oito horas recrudesceu, o que levou a que ela fosse consagrada em 1919 para os trabalhadores da indústria e do comércio.
Sete anos depois, com o golpe militar do 28 Maio de 1926, as liberdades fundamentais são suprimidas e fascizados os sindicatos. O 1º de Maio é proibido e as iniciativas que os trabalhadores, um pouco por todo o lado, tentam concretizar são alvo da mais feroz repressão policial. Por essa razão, a jornada do 1º de Maio alia, crescentemente, a luta pelo Pão, pela Paz e pela Liberdade à contestação do regime.
Na longa noite fascista, o 1º de Maio de 1962 fica a constituir um raio de luminosa esperança. Nesse dia, em Lisboa, Porto, Setúbal e outras localidades, dezenas de milhares de pessoas saem à rua, protestando contra a falta de liberdades, contra a miséria e contra a guerra colonial que eclodira no ano anterior e que havia de vitimar e mutilar milhares e milhares de jovens trabalhadores.
Também nesta altura cerca de 200 mil assalariados rurais do Alentejo e do Ribatejo entram em greve, conseguindo, desta maneira, impor aos latifundiários e ao fascismo a jornada de oito horas. Punha-se fim, finalmente, ao trabalho de sol a sol.
O edifício da ditadura estremece, mas há-de demorar mais uma dúzia de anos a ruir.
Disso se encarrega, em boa hora, o Movimento das Forças Armadas que, interpretando os anseios de liberdade, democracia e justiça social do povo, toma em mãos o derrube do fascismo e devolve as liberdades aos portugueses.
O acto corajoso, cometido pelos dos jovens oficiais das Forças Armadas em 25 de Abril de 1974, é inequivocamente referendado pelos trabalhadores e pelo povo portugues, cinco dias depois, nas grandiosas manifestações do 1º de Maio. Foi o fim do corporativismo e a consagração, de facto, da liberdade sindical no nosso país.
1º DE MAIO 74: DO GOLPE À REVOLUÇÃO CONFIRMADA
O 1º de Maio de 1974 impulsionou uma dinâmica revolucionária que conduziu a profundas transformações políticas, económicas, sociais e culturais. Desencadeou, pode dizer-se, um processo verdadeiramente revolucionário, responsável por um período de desenvolvimento social e humano ímpar no nosso país.
Por isso o 1º de Maio precisa da máxima participação! Precisa de todos, porque os objectivos são de todos. Do mais Jovem que ainda estuda, ao trabalhador com contrato a termo, do trabalhador mais velho ou já reformado, à investigadora, ao funcionário público, à trabalhadora discriminada, da desempregada menos activa a quem, alem do trabalho, ocupa tempo e dedicação a causas comuns, a associações, a movimentos sociais…
TODOS TEMOS DE FAZER UM ENORMÍSSIMO 1º DE MAIO DE 2010 PARA GANHAR O FUTURO!
2 comentários:
Se fossemos unidos muitos podres da sociedade já estariam resolvidos. Mas cada um por si não é fácil...
A imagem arrepia o mais comum dos mortais. Um mar de gente irmanada em paz e liberdade!
Maria
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