quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

LITERATURA

Era o ano distante de 1865, mais precisamente o dia 30 de Dezembro. Nascia em Bombaim Joseph Rudyard Kipling, laureado com o prémio Nobel da literatura em 1907. Prosa, poesia, contos curtos e clássicos de literatura infantil, preenchem a obra de um dos mais populares escritores de Inglaterra de finais do séc. XIX e inícios do séc. XX.
Poet'anarquista
Rudyard Kipling
Escritor
BIOGRAFIA

Escritor britânico. Nasce na Índia onde o seu pai, pintor, é conservador de um museu. Enviado para a Grã-Bretanha para estudar, passa ali uns anos de solidão infantil num internato. Desta experiência sai posteriormente uma descrição: Bee, bee, Ovelha Negra. Em 1878 ingressa num centro educativo de filhos de oficiais e funcionários, de rigorosa moralidade e rígido ambiente (que lhe serve de inspiração para Stalky e Companhia).    

Em 1882 volta à Índia como jornalista; nesta época preocupa-se com os temas que são uma característica da sua obra: a relação entre os dominadores brancos e a população indígena, a função civilizadora dos Britânicos, a memória da remota civilização indiana... Tudo isso está recolhido nos seus primeiros ensaios narrativos: Três Soldados, Contos das Colinas, obras com as quais consegue notoriedade.  

Canções de Caserna é a obra que o torna verdadeiramente popular; trata-se de textos poéticos sobre o sentido político e ético da acção inglesa na Índia, se bem que estão muito abertos à criação individual. As grandes obras de Kipling são Kim e O Livro das Terras Virgens.Esta última conserva, sob as estruturas da fábula, um delineamento ideológico centrado no problema da relação do indivíduo com a sociedade e a primazia da lei moral sobre os impulsos e instintos existenciais. Convencionalmente considera-se que é uma obra infantil. Estes temas e delineamentos reaparecem em Kim, mas mais aprofundados e com reflexões sobre as regiões orientais. Em ambas as obras sobressaem a agilidade narrativa e a solidez formal.  

De grande êxito são as suas brilhantes narrações de aventuras, como Capitães Intrépidos. Quanto à sua obra poética, muito popular até aos anos 20 e depois esquecida, tem um ritmo vigoroso, revela uma notável habilidade no uso da métrica e possui uma sinceridade na expressão dos factos que chega a provocar ressentimentos entre personalidades públicas. O seu livro de versos mais interessante é Os Sete Mares   

Em 1907, Kipling recebe o Prémio Nobel da Literatura. Considera-se Kipling o principal representante da literatura imperialista, mas esta interpretação é superficial. O que Kipling mostra, mais que a presunção do propagandista, é a preocupação do moralista. Preocupa-o certamente o futuro do império britânico, que sabe que vai acabar por desaparecer, mas sustenta que as suas instituições devem defender-se a partir de uma postura ética. Para Kipling, a acção do homem recupera significado na sua dimensão social. Por isso lhe interessam tanto as comunidades militares e escolares e, inclusive, a singular associação dos animais da selva.
Fonte: Vidas Lusófonas

QUANDO O ÚLTIMO RETRATO DA TERRA FOR PINTADO

quando o último retrato da terra for pintado
e os tubos torcidos e secos,
quando as cores mais antigas morrerem,
e o crítico mais novo falecer,
descansaremos precisando da fé estendida
por uma era ou duas,
até que o mestre de todos os bons trabalhadores
nos ponha a trabalhar de novo.
e aqueles que forem bons deverão sentir-se felizes,
sentar-se na cadeira dourada;
salpicar-se-ão na grande tela com tintas
e cabelo de cometas,
encontrarão santos autênticos para pintar
- Madalena, Pedro e Paulo;
trabalharão por uma idade longa e nunca
sentirão o cansaço.

e apenas o mestre rezará por nós, e apenas
o mestre se culpará;
e ninguém trabalhará por dinheiro, ninguém
o fará por dinheiro,
cada um o fará pela alegria de trabalhar
e cada um, na sua estrela,
deverá desenhar a coisas como vê para que o deus
das coisas os veja como cada um é.

Rudyard Kipling


SE

Se consegues manter a calma
quando à tua volta todos a perdem
e te culpam por isso.
Se consegues ter confiança em ti
quando todos duvidam de ti
e aceitas as suas dúvidas
Se consegues esperar sem te cansares por esperar
ou caluniado não responderes com calúnias
ou odiado não dares espaço ao ódio
sem porém te fazeres demasiado bom
ou falares cheio de conhecimentos
Se consegues sonhar
sem fazeres dos sonhos teus mestres
Se consegues pensar
sem fazeres dos pensamentos teus objectivos
Se consegues encontrar-te com o Triunfo e a Derrota
e tratares esses dois impostores do mesmo modo
Se consegues suportar
a escuta das verdades que dizes
distorcidas pelos que te querem ver
cair em armadilhas
ou encarar tudo aquilo pelo qual lutaste na vida
ficar destruído
e reconstruíres tudo de novo
com instrumentos gastos pelo tempo
Se consegues num único passo
arriscar tudo o que conquistaste
num lançamento de cara ou coroa,
perderes e recomeçares de novo
sem nunca suspirares palavras da tua perda.
Se consegues constringir o teu coração,
nervos e força
para te servirem na tua vez
já depois de não existirem,
e aguentares
quando já nada tens em ti
a não ser a vontade que te diz:
"Aguenta-te!"
Se consegues falar para multidões
e permaneceres com as tuas virtudes
ou andares entre reis e pobres
e agires naturalmente
Se nem inimigos
ou amigos queridos
te conseguirem ofender
Se todas as pessoas contam contigo
mas nenhuma demasiado
Se consegues preencher cada minuto
dando valor
a todos os segundos que passam
Tua é a Terra
e tudo o que nela existe
e mais ainda,
tu serás um Homem, meu filho!

Rudyard Kipling

1 comentário:

Ana Paula Fitas disse...

Kabé,
Obrigado por partilhares a mensagem profundamente humana e importante de Rudyard Kipling :))
Um beijinho