domingo, 9 de dezembro de 2018

OUTROS CONTOS

«Ser Poeta», por Manuel Matias.

«Ser Poeta»
Poeta Pobre/ Carl Spitzweg

1201- «SER POETA»

Mote

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

Florbela Espanca

Glosas

As palavras do poeta
Dizem muito do seu sentir…
Algumas fazem-no rir,
Outras tristeza p'la certa.
A alma então desperta
Já as sabe de cor,
Ouvi-las ainda é melhor
Reconforta o coração…
Com muita abnegação
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior.

Ninguém pode imaginar
O que sente quem escreve,
Nem o próprio se atreve
Dizer o que está a pensar.
Fica horas a magicar
Sem saber o que deseja,
O que resta ou sobeja
Só a ele diz respeito…
Bem maior, com efeito,
Do que os homens! Morder como quem beija!

Saúdo-vos pobre mendigos
Desprezados na minha beira,
Uma despedida verdadeira
Junto aos vossos abrigos.
A vida infligiu castigos...
Falar deles, talvez não deva,
Há porém quem se atreva
Mostrar o seu sofrimento…
Viver só, no isolamento,
É ser mendigo e dar como quem seja.

Foi traçado o seu destino
Pela malfadada sorte,
Não vejo quem se importe
Com ‘Aquele’ pobre ‘Menino’.
Pensar nisso um desatino
Que me causa pavor,
As palavras sem favor
O procuram descrever…
Senhor do seu próprio ser,
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

Manuel Matias

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