domingo, 16 de agosto de 2015

SONETO DE ANTÓNIO NOBRE

«Não Repararam Nunca»
Por António Nobre

NÃO REPARARAM NUNCA

Não repararam nunca? Pela aldeia,
Nos fios telegráficos da estrada,
Cantam as aves, desde que o Sol nada,
E, à noite, se faz sol a Lua cheia.

No entanto, pelo arame que as tenteia,
Quanta tortura vai, numa ânsia aiada!
O Ministro que joga uma cartada,
Alma que, às vezes, d’Além-Mar anseia:

- Revolução! - Inútil. - Cem feridos,
Setenta mortos. - Beijo-te! - Perdidos!
- Enfim, feliz! - ? - ! - Desesperado. - Vem.

E as boas aves, bem se importam elas!
Continuam cantando, tagarelas:
Assim, António! deves ser também.

António Nobre

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