Cumpriria hoje, 13 de Setembro de 2010, 125 anos de idade o grande romancista português Aquilino Gomes Ribeiro. Poet'anarquista recorda-o com uma breve biografia, e um excerto de uma obra sua em que evoca a cidade de Lisboa.
Aquilino Ribeiro
Aquilino Ribeiro
Romancista
BIOGRAFIA
Aquilino Ribeiro nasce a 13 de Setembro de 1885 em Carregal de Tabosa, concelho de Sernancelhe. Aos dez anos, vai residir com os pais para Soutosa, onde faz a instrução primária. Transita depois para Lamego e Viseu, onde chega a frequentar o seminário, abandonando-o por falta de vocação. Em 1906 muda-se para Lisboa e, em pleno período de agitação republicana, começa a escrever os primeiros artigos em jornais. Em 1907, devido à explosão de uma bomba, é preso. Mas consegue evadir-se e, entre 1908 e 1914, divide a sua residência entre Paris e Berlim. Em 1914, com a eclosão da I Grande Guerra, volta a Portugal. Em 1918 publica o primeiro romance, "A Vida Sinuosa", que dedica à memória do seu pai, Joaquim Francisco Ribeiro. A convite de Raul Proença, entra em 1919 para a Biblioteca Nacional. A partir desse ano, escreve incessantemente: "Terras do Demo" (1919), "O Romance da Raposa" (1924), "Andam Faunos Pelos Bosques" (1926), "A Batalha Sem Fim" (1931) e muitos outros títulos. Envolvido em revoltas contra a ditadura militar, no Porto e em Viseu, exila-se por duas (1927 e 1928) vezes em Paris, onde casa pela segunda vez (a primeira mulher falecera). A partir de 1935 o seu labor literário torna-se mais fecundo: "Volfrâmio" (1944), "O Arcanjo Negro" (1947), "O Malhadinhas" (1949), "A Casa Grande de Romarigães" (1957), "Quando os Lobos Uivam" (1958), este último apreendido pela censura e pretexto para um processo em tribunal. Entretanto, viaja: Brasil, Londres, Paris. Em 1963, durante as comemorações do 50° aniversário do seu primeiro livro--promovidas pela Sociedade Portuguesa de Escritores, então presidida por Ferreira de Castro - adoece inesperadamente. Morre a 7 de Maio de 1963, no Hospital da CUF, com 78 anos.
Fonte: planetaclix
Eis um excerto de uma obra sua que muito tem a ver com Lisboa.
«(…) Eu via com os olhos não pasmados, que nunca soube o que era pasmo, mas abertos à compreensão, as grandes e amarelas tartarugas dos carros eléctricos vir rolando dos lados do Terreiro do Paço, tilintantes e pletóricas de gente. Logo após vinha o carro do Chora, com o automedonte de longos bigodes retorcidos a reger de chicote vivaz o tiro de três machos pimpões, o condutor de boné de pala, e atropeladamente naquela arca de Noé de peixeiras, vendedeiras de hortaliça e de coelhos mansos, operários com suas ferramentas, em suma, segundo o termo das Ordenações Manuelinas, os misquinhos de uma capital. (…) Todavia não pressenti o sumptuoso, nem o deliquescente de uma urbe meridional, de que os poetas e romancistas faziam cavalo de batalha nas suas especulações cantarizadas. Antes havia nela, nos habitantes, no céu, nas coisas, uma sobriedade afável que era grata de sentir. E por isto tudo, por essa desilusão literária, e porque representava para mim um degrau montante na escala dos conhecimentos, fiquei a adorar Lisboa desde esse dia.
«(…) Eu via com os olhos não pasmados, que nunca soube o que era pasmo, mas abertos à compreensão, as grandes e amarelas tartarugas dos carros eléctricos vir rolando dos lados do Terreiro do Paço, tilintantes e pletóricas de gente. Logo após vinha o carro do Chora, com o automedonte de longos bigodes retorcidos a reger de chicote vivaz o tiro de três machos pimpões, o condutor de boné de pala, e atropeladamente naquela arca de Noé de peixeiras, vendedeiras de hortaliça e de coelhos mansos, operários com suas ferramentas, em suma, segundo o termo das Ordenações Manuelinas, os misquinhos de uma capital. (…) Todavia não pressenti o sumptuoso, nem o deliquescente de uma urbe meridional, de que os poetas e romancistas faziam cavalo de batalha nas suas especulações cantarizadas. Antes havia nela, nos habitantes, no céu, nas coisas, uma sobriedade afável que era grata de sentir. E por isto tudo, por essa desilusão literária, e porque representava para mim um degrau montante na escala dos conhecimentos, fiquei a adorar Lisboa desde esse dia.
1 comentário:
Muito bem lembrado este grande romancista português!
Leiam agora o que disseram dele três personalidades portuguesas bem distintas:
"É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor."
António de Oliveira Salazar
"Conheci em Aquilino Ribeiro, de quem me prezo de ter sido amigo e de quem continuo, cada vez mais, com o passar dos anos e as sucessivas leituras, rendido admirador."
Mário Soares
"A força plástica e musical do mundo aquiliniano é admirável.
A serra portuguesa, a aldeia patriarcal, o rebanho transumante, vivem nos seus livros como a vida flamenga e holandesa nos quadros dos grandes pintores dos Países Baixos."
Vitorino Nemésio
Parabéns ao Poet'anarquista! Sem sombra de dúvidas, o melhor blogue de cultura do concelho do Alandroal.
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