BOCAGE (1765-1805)
Retratado pelo pintor Elói
BIOGRAFIA
Foi o maior poeta português do século XVIII, que se irmana com Camões nas desventuras de uma existência repartida entre Portugal e a Índia. Manuel Maria l’Hedois de Barbosa du Bocage - de seu nome completo - era filho de um advogado e de uma senhora francesa de ascendência normanda. Órfão de mãe desde os dez anos, assentou praça em Setúbal em 1781, tendo-se alistado dois anos depois na recém-fundada Academia dos Guardas-Marinhas, em Lisboa. Conheceu então a boemia lisboeta, os botequins, o Nicola, onde o seu génio poético se afirmou no improviso e lhe ganhou aplausos. Subitamente, ao fim de dez meses de frequência do curso, Bocage abandonou os estudos, sendo dado como desertor em 6 de junho de 1784. Nomeado Guarda-Marinha, partiu para a Índia a 4 de Abril de 1786, fazendo escala no Rio de Janeiro, tendo chegado a Goa em 20 de Outubro.
A sua estada na Índia foi por ele comparada ao exílio de Ovídio entre os Getas - os "bárbaros" indianos que o rodeavam. Promovido ao posto de tenente, foi destacado em Damão, mas só aí permaneceu dois dias, 7 a 8 de Abril de 1789, refugiando-se em Macau de onde viajou para Lisboa, em 1790.
No seu regresso, Bocage aderiu à Nova Arcádia, onde assumiu o pseudónimo literário de Elmano Sadino. Em 10 de Agosto de 1797 foi preso por ordem do intendente Pina Manique, acusado de ser "autor de papéis ímpios e sediciosos". A peça principal do auto de acusação era o poema Pavorosa Ilusão da Eternidade. A 7 de Novembro do mesmo ano foi transferido para os cárceres da Inquisição, daí seguindo, a 22 de Março de 1798, para o Hospício de Nossa Senhora das Necessidades, dirigida pelos padres do Oratório. Pouco depois saiu do convento e um trabalho regular e remunerado tornou-se nele uma necessidade desde o momento em que procurou dar à irmã mais nova, Maria Francisca, um lar. E assim se instalou na travessa André Valente, no andar onde morreu e se encontra afixada uma placa comemorativa da sua presença.
Foi durante este período que travou uma polémica com José Agostinho de Macedo, ditando a um amigo no Nicola a Pena de Talião, sátira que ficou célebre na literatura portuguesa. Consumido por um quotidiano desregrado, contraiu um aneurisma, que o forçou ao recolhimento e o levou a reconciliar-se com as normas convencionais da existência e com os inimigos. Reduzido a extrema penúria, foi graças aos esforços de um amigo, José Pedro da Silva, que lhe recolheu os poemas compostos durante a enfermidade e os publicou, vendendo-os pela rua, que o poeta auferiu alguns recursos com que manteve o modesto lar. Os poemas desta fase final da sua vida mostra um passado de boémia e de irreverência, perdido o ardor que animara os verdes anos e o sustentara até à hora da doença. Morreu em 21 de Dezembro de 1805.
Toda a poesia de Bocage se nutre das suas vicissitudes biográficas. O amor e o erotismo, o ódio e a raiva das ofensas sofridas ou imaginadas, vibram nos seus versos com a intensidade do excesso, que a forma apurada e o rigor verbal dominam, tornando mais impressionante o seu efeito estético. O poeta cultivava com igual desenvoltura todos os géneros, desde o soneto de fina conceituação petrarquista ao verso fescenino, servindo-se ainda dos códigos de um discurso classicista, onde prorrompeu já um vigoroso individualismo em revolta com as normas e os tabus da sociedade vigente. A atitude do poeta contra a tirania e o despotismo não implicou, no entanto, na aceitação do radicalismo da Revolução Francesa, a que se opõe, nem a via do libertino, que o seduziu, esmoreceu nele as suas crenças e convicções de católico. Bocage foi um ser contraditório, que soube viver intensamente na sua poesia as suas contradições existenciais. O seu fascínio pela morte e a expressão da sua extrema emotividade fizeram dele um precursor do Romantismo, cujos desbordamentos evitou no apego à contenção clássica, impondo-se como um artífice do verso, o chamado elmanismo, que tanto atrairá os parnasianos portugueses e brasileiros.
Foi um tradutor rigoroso do latim e do francês, vertendo para o nosso idioma textos de Ovídio, Museu, Lacroix, Voltaire, Delille, Pierre Rousseau, entre outros.
Fonte: Passeiweb
MAGRO, DE OLHOS AZUIS, CARÃO MORENO
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bocage
11 comentários:
Ah!... se Elmano pudesse versejar...
ELMANO...
Teria muito o que contar,
Matéria não lhe faltaria!
Versaria: primeiro vou cagar...
Depois trato da porcaria!!!
POETA
Pois, em matéria de cagar
era mestre o nosso poeta;
e no assunto de fornicar
dizem todos: não era asceta!
Ah!... se Elmano pudesse versejar
diria com poética eloquência:
que às duas desejo observar
o olhinho da cusciência...
(pequeno arranjo para a censura)
Na questão do fornicar
Talvez asceta não fosse,
Alguém lhe ouviu: "foda-se!"...
Mas estava só a rimar.
POETA
(Sem censura, nós os poetas gozamos de certas liberdades quando escrevemos)
Elmano..., Elmano...
gostava de ser como tu
a escrever versos ao profano
e mandar, todos*, levar no c...
*todos, refiro-me a políticos, ovelhas ranhosas, mentecaptos, corruptos, ladrões..., etc...
A minha primeira quadra onde se lê "Depois trato da porcaria!!!", é óbvio que me estava a referir a todos os que fazes referência, e cito, "*todos, refiro-me a políticos, ovelhas ranhosas, mentecaptos, corruptos, ladrões..., etc...".
Para esses sim, terá que haver censura!
À parte- As quadras são-me familiares em sabedoria...
Já agora, deixo-te aqui umas quadras que publiquei uns dias atrás no blogue, e que o comentador e amigo xpto fez a seguinte referência:-
"Dignas do Manuel Maria do Bocage.
Um abraço
Chico"
PAIS PROÍBEM PETIZES DE TEREM EDUCAÇÃO SEXUAL
Proibímos assim a participação
Do nosso filho muito amado,
Nas aulas sexuais d'educação…
Tem tempo de ser assexuado!
Nesse antro pecaminoso? Nada!...
Onde expõem esse nojento pecado,
Da carne e inocência recatada…
Pra um petiz tão bem educado!
No berço protegido das imundas,
Como imorais tentações do demo…
Tais ideias só podem ser oriundas
De alguém depravado e blasfemo!
O que achas meu querido esposo?
Soberbo!… Tira-me as algemas…
Assino por baixo com o coiso,
Mas exigo mais coisas blasfemas!
POETA
Boni...iiito.
Gosto
Estão todos à altura.
Mas lembrem-se sempre que Bocage também sofreu, e não foi sempre o boémio porque ficou conhecido:
"Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura:
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio da razão seguisse pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente impia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Na aflição da partida deste mundo, excluindo os que são apanhados de surpresa, todos se arrependem dos pecados terrenos.
O tal medo da morte a isso obriga!
Foi boémio e conheceu a solidão,
pernoitou em alcovas elitistas!
E com nobre espírito de isenção
escreveu ideias vanguardistas,
ainda nas barbas da Santa Inquisição.
(Santa Inquisição: aqueles tipos que se dedicavam, em nome da Santa Madre Igreja, a fazer cócegas nos pés com lume brando...)
"Camões disse...
ELMANO...
Teria muito o que contar,
Matéria não lhe faltaria!
Versaria: primeiro vou cagar...
Depois trato da porcaria!!!
POETA"
Magnífica senhor POETA... MAGNÍFICA!
Maria
Enviar um comentário