sexta-feira, 25 de novembro de 2011

POETAS DO CONCELHO D' ALANDROAL

A rubrica «Poetas do Concelho d' Alandroal» começa hoje a sua publicação neste espaço, proporcionando a leitura das décimas populares a todos os Amigos d'Arte que visitem o Poet'anarquista. Do livro de poesia «Cantadores de Alegrias, Mágoas e Mangações», editado pela Câmara Municipal de Alandroal em 1993, constam 38 poetas populares que agora vão ter os seus poemas publicados semanalmente, de forma aleatória e com uma breve nota introdutória dos mesmos. Para quem está menos familiarizado com este género de poesia, publica-se nesta 1ª edição uma nota explicativa das décimas populares a cargo do ilustre professor José Rabaça Gaspar. Boas leituras e bem-hajam os poetas do nosso concelho!
Poet'anarquista

TEMA: AS DÉCIMAS POPULARES? A MAGIA DA POESIA POPULAR? 
UMA LIGAÇÃO MEDIÁTICA COM OUTROS MUNDOS?

Uma ARTE MAIOR praticada por POETAS populares (sobretudo ao Sul de Portugal) a pedir um estudo sério e profundo a nível superior. É praticamente ignorada e/ou tida em menos conta em todos os níveis do ensino em Portugal, o que é de lamentar.

Entretanto, podemos considerar a DÉCIMA um pequeno prodígio de ARQUITECTURA FORMAL (da Métrica, ao Ritmo, à Rima, desde a Quadra Mote, à Glosa em quatro décimas espelhadas e de retorno a cada um dos quatro versos), como base e fundamento de uma ARTE SIMBÓLICA plurissignificativa.

A mera exigência FORMAL (a que raros eruditos se atrevem) é PRATICADA COMO EXERCÍCIO LÚDICO POR POETAS DO SUL, a maioria considerados analfabetos, por vezes em despiques ou descantes fortuitos em tabernas ou convívios sociais, pondo-a ao serviço de temas que vão desde a pura diversão, aos temas do quotidiano, à história, à crítica social ou política, até aos temas filosóficos da mais profunda sabedoria. (Beja, Abril,1996.)

Dizer uma Décima (os poetas que as dizem são conhecidos como «dezedores», entoá-la ou cantá-la, é uma arte, tanto para aquele que a diz, como para aquele que a ouve ou lê. Como arte, é algo que requer, muito de intuição e inspiração, aprendizagem e exercício.

Finalmente arriscamos afirmar que é uma Arte Superior, ou pode ser em princípio, só acessível aos que têm o dom de contactar ou ter acesso a formas de comunicação pouco comuns..., talvez uma certa magia..., algo só acessível aos deuses ou aos que podem comungar com a divindade!!! Será uma afirmação exagerada? Pouco ortodoxa? Que sai fora dos instrumentos de estudo e análise usuais? Mas quem sabe definir o que é a inspiração? O que são as «Tágides» ou as «Ninfas do Mondego» de Camões, as «musas» e os «dons» de que falam os poetas? Onde estão os donos e os mestres da Língua? E os da Poesia? É proibido inovar, ou não se deve falar daquilo que se não conhece? Arriscamos, enfim, a considerar as DÉCIMAS POPULARES como um PRODÍGIO DE ARQUITECTURA POÉTICA a exigir um prodigioso exercício de ginástica mental, praticado muitas vezes por poetas considerados analfabetos!
Texto - Professor José Rabaça Gaspar

I DÉCIMAS 

Décimas populares pelo poeta António José Ramalho Veladas, mais conhecido por Manguito, natural da aldeia de Hortinhas, freguesia de S. Pedro de Terena do concelho de Alandroal. Nascido no ano de 1951, foi de profissão «ganadeiro» e actualmente é funcionário da Câmara Municipal de Alandroal. Faz poesia desde os seus 35 anos.
Poet'anarquista
Manguito
Poeta Popular 

MOTE

Autênticas maravilhas
Existem no Alandroal
Suas Aldeias e vilas
Suas gentes sem igual

Glosas

É um concelho sozinho
Meus amigos podem crer
Tem todo o gosto em fazer
O bem para o seu vizinho.
Está metido num cantinho
Com respeito às outras ilhas
Tanto as mãe como as filhas
Pedem o bem para este povo
Desde o mais velho ao mais novo
Autênticas maravilhas.

É uma população
P'ra lhe falar a verdade
Fazer tudo com sinceridade
É a sua tradição.
Prestam-lhe sempre atenção
E nada levam a mal
É a razão principal
Que se vê no dia a dia,
Obras de grande valia
Existem no Alandroal.

Há quem sabe dar valor
A um concelho tão pobre
Até o rico e o nobre
Trabalham com o mesmo amor.
Há poetas e doutores
Que formados faziam fila
Ideias boas é segui-las
Isto no meu pensamento,
É para nós um momento
Suas aldeias e vilas.

Tu tens um lindo castelo
Tens a igreja matriz
Tens uma fonte e o chafariz
Que é de todos o mais belo.
Tens por tradição o amarelo
Que é uma cor natural
És dentro de Portugal
Aquele em que mais acredito,
Tens de tudo o que é bonito
Suas gentes sem igual.

Manguito

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa, Manguito !

Anónimo disse...

Mais uma vez POET'ANARQUISTA está de parabéns pela publicação desta nova Rubrica, que considero um verdadeiro "MIMO".
MUITO OBRIGADA.

Felicito, igualmente, TODOS os Poetas do nosso Concelho.

Quanto ao Sr. António José Ramalho Veladas (Manguito): MIL ESTRELAS!!!

Uma Alandroalense (L...)