«O Melhor Amigo de um Garoto»
Conto de Isaac Asimov
1008- «O MELHOR AMIGO DE UM GAROTO»
– Onde está Jimmy, querida? – perguntou o Sr. Anderson.
– Lá fora, na cratera – disse a Sra. Anderson. – Ele está
bem. Está junto com Robobo… Sabe se já chegou?
– Chegou. Está na estação de foguetes, fazendo os testes. Na
realidade, eu mesmo mal posso esperar para vê-lo. Não vi nenhum de verdade
desde que deixei a Terra, quinze anos atrás. Os que passaram nos filmes não
contam.
– Jimmy nunca viu nenhum – disse a Sra. Anderson.
– Porque ele nasceu na Lua e não pode ir à Terra. E é por
isso que estou trazendo um para cá. Acho que é o primeiro a aparecer na Lua.
– Custou bastante caro – disse a Sra. Anderson com um
ligeiro suspiro.
– Manter Robobo também não é barato – disse o Sr. Anderson.
Jimmy estava lá fora, na cratera, como sua mãe tinha dito.
Pelos padrões da Terra, ele era espigado, um tanto alto para os seus dez anos
de idade. Seus braços e pernas eram compridos e ágeis. Parecia mais gordo e
troncudo, vestido com o traje espacial, mas podia lidar com a gravidade lunar
como nenhum ser humano, nascido na Terra, seria capaz. O pai não podia
acompanhar-lhe os passos quando ele esticava as pernas e entrava no salto de
Canguru.
A face exterior da cratera inclinava-se para o sul, e a
Terra, que surgia baixa no céu meridional (onde sempre surgia, quando vista da
Cidade Lunar) estava quase cheia, de modo que todo o declive da cratera ficava
brilhantemente iluminado.
O declive era suave e mesmo o peso do traje espacial não
impedia que Jimmy disparasse em cima dele num salto flutuante que fazia a
gravidade parecer não-existente.
– Venha, Robobo – ele gritou.
Robobo, que podia ouvi-lo pelo rádio, guinchou e pulou
atrás.
Jimmy, embora fosse ágil, não podia correr mais depressa que
Robobo, que não precisava de um traje espacial e tinha quatro pernas e tendões
de aço. Robobo navegava sobre a cabeça de Jimmy, dando saltos imensos e
aterrando quase sob os pés do garoto.
– Não precisa se exibir, Robobo – disse Jimmy – e não saia
de vista.
Robobo guinchou outra vez o guincho especial que significava
“Sim”.
– Eu não confio em você, seu enrolador – gritou Jimmy,
subindo num último salto, que o conduziu sobre a curva da beira superior da
parede da cratera, e o largou do outro lado, num declive interno.
A Terra mergulhou abaixo do topo da parede da cratera e, de
imediato, ficou escuro como breu em volta de Jimmy. Uma escuridão amistosa e
quente, que dissipava a diferença entre solo e céu, exceto pelo brilho das
estrelas.
Na verdade, Jimmy não devia brincar no lado escuro da parede
da cratera. Os adultos diziam que era perigoso, mas isso acontecia porque nunca
estiveram ali. O chão era macio e ondulado, e Jimmy conhecia a localização
exata de cada uma das poucas rochas.
Além disso, como podia ser perigoso correr no escuro se
Robobo estava bem ali a seu lado, pulando em volta, guinchando e cintilando?
Mesmo sem cintilar, Robobo podia dizer onde estava, e onde Jimmy estava, pelo
radar. Jimmy não podia se machucar enquanto Robobo estivesse por perto,
detendo-o quando ele se aproximava demais de uma rocha, ou pulando sobre ele
para mostrar o quanto o amava, ou circulando em volta e guinchando baixo e
assustado quando Jimmy se escondia atrás de uma rocha, embora nessas ocasiões
Robobo soubesse todo o tempo, e suficientemente bem, onde ele estava. Certa
vez, Jimmy se esticou imóvel no chão e fingiu estar ferido. Robobo acionou o rádio
alarme e o pessoal da Cidade Lunar chegou ali às pressas. O pai de Jimmy
disse-lhe poucas e boas sobre aquele pequeno embuste, e Jimmy nunca mais o
repetiu.
Quando estava se lembrando disso, Jimmy ouviu a voz do pai
no seu rádio individual de ondas longas.
– Jimmy, volte. Tenho uma coisa para lhe contar.
Jimmy tirou o traje espacial e se lavou. Você sempre precisa
se lavar quando vem de fora. Mesmo Robobo tinha de ser borrifado, mas ele
gostava disso. Ficava de gatinhas, o pequeno corpo, com menos de meio metro de
comprimento, tremia e exibia uma minúscula cintilação. A cabecinha, sem boca,
possuía dois grandes olhos vidrados e uma protuberância onde ficava o cérebro.
Ele guinchou até ouvir a voz do Sr. Anderson:
– Quieto, Robobo!
O Sr. Anderson sorria.
– Temos uma coisa para você, Jimmy. Ainda está na estação de
foguetes, mas estará connosco amanhã, depois de todos os testes terminarem.
Achei que tinha de lhe contar isso agora.
– É da Terra, papai?
– Um cachorro da Terra, filho. Um cachorro de
verdade. Um cãozinho “terrier” escocês. O primeiro cachorro na Lua. Não
precisará mais de Robobo. Não podemos ficar com os dois, você sabe. Ele ficará
com algum outro menino ou menina.
O Sr. Anderson pareceu esperar que Jimmy dissesse alguma
coisa.
– Você sabe o que é um cachorro, Jimmy. É a coisa real.
Robobo não passa de uma imitação mecânica, um robô boboca. Ê isso que seu nome
significa.
Jimmy fez cara feia.
– Robobo não é uma imitação, papai. É o meu cachorro.
– Não um cachorro verdadeiro, Jimmy. Robobo é apenas aço,
fiação e um simples cérebro positrónico. Não é um ser vivo.
– Ele faz tudo que eu quero que ele faça, papai. Ele me
compreende. Sem dúvida, é um ser vivo.
– Não, filho. Robobo é só uma máquina. É apenas programado
para se comportar do modo como se comporta. Um cachorro está vivo.
Você não vai mais querer Robobo depois de ter o cachorro.
– O cachorro precisará de um traje espacial, não é?
– Sim, naturalmente. Mas será um dinheiro bem empregado e o
cão se acostumará. E não precisará usá-lo na Cidade. Você vai ver a diferença
quando ele estiver aqui.
Jimmy olhou para Robobo, que estava guinchando outra vez, um
guincho lento, muito baixo, parecendo amedrontado. Jimmy estendeu os braços e
Robobo deu um salto para eles.
– Qual será a diferença entre Robobo e o cachorro? – Jimmy
perguntou.
– É difícil explicar – disse o Sr. Anderson – mas será fácil
de perceber. O cachorro realmente gostará de você. Robobo está apenas
ajustado para agir como se gostasse de você.
– Mas, papai, não sabemos o que há dentro de um cachorro ou
quais são as suas sensações. Talvez seja também apenas um modo de agir.
O Sr. Anderson franziu a testa.
– Jimmy, você saberá a diferença quando
experimentar o amor de uma coisa viva.
Jimmy segurou Robobo com força. Também estava franzindo a
testa e o olhar desesperado em seu rosto significava que não estava disposto a
mudar de ideia.
– Mas qual é a diferença no modo como eles agem? E
quanto ao modo como eu sinto? Eu gosto de Robobo e isso é o que
importa.
E o pequeno robô-boboca, que nunca fora abraçado com tanta
força em toda a sua vida, guinchou rápidos e altos guinchos… guinchos felizes.
Isaac Asimov
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