''O Poeta é um Pinga Amor"
Maria Da Graça versus Pessoa
O diálogo podia ser...
Mote
(Excerto de Autopsicografia)
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Fernando Pessoa
1334- ''O POETA É UM PINGA AMOR"
Chega a ser comovente
Esta quadra de Pessoa,
Não há quem lhe não doa
Fingir assim certamente.
Um trocadilho inteligente
Dá à quadra outro sabor,
Realça mais o seu valor
E põe a cabeça a pensar...
Acreditem, sem duvidar,
O poeta é um fingidor!
Se alegre, finge estar triste,
Se triste, finge-se alegre,
Chega a ser um milagre
A tanto fingir que resiste.
Da palavra nunca desiste
Parecendo às vezes contente,
Está triste, e assim mente...
De tudo um poeta é capaz
Para o seu interior ter paz,
Finge tão completamente!
Se pensa uma rima contrária
Ao que sente o coração,
Foge-lhe d’ imediato a razão
Na sua escrita literária.
Esta luta involuntária
Entre o ódio e o amor,
Da beleza ao horror
Com mentira ou verdade...
Tal é a sua veleidade
Que chega a fingir que é dor!
Oscila o seu estado d’alma
Como o pêndulo dum relógio,
Todo o seu ego em contágio
Advém da pressa ou calma.
Escreve que se desalma
Chega mesmo a ficar doente,
Mesmo assim ele desmente
Para não dar parte de fraco...
Esconde então num buraco
A dor que deveras sente!
Lenam d' Orig
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