Décimas pela mão do poeta popular João Romão Borges, natural do Monte das Piçarrinhas, onde nasceu a 14 de Setembro de 1926. Residente na aldeia de Montes Juntos, freguesia de Santo António de Capelins do concelho de Alandroal, foi de profissão motorista e ocupou o cargo de Presidente da Junta de Freguesia de Ferreira de Capelins. Começou a fazer poesia ainda muito jovem, contava apenas catorze anos. O mote que dá origem às décimas que agora se publicam da autoria de João Romão Borges, serviu igualmente de mote para as décimas escritas por Matias José, homenageando o poeta popular já falecido. Ficam então registadas nesta publicação especial «Poetas do Concelho d' Alandroal», as décimas populares de João Romão Borges e a dedicatória de Matias José ao seu homólogo.
Poet'anarquista
João Romão Borges
Poeta Popular
Mote
Quero e não posso esquecer-te
Devo odiar-te e não quero
Sinto perder-me em perder-te
Não tenho esperança mas espero
Glosas
1ª
Estou por ti de amores perdido
Tanto amor, tanta incerteza
Donde nasce a tristeza
De não ser correspondido.
Tanto te tenho seguido
Para tentar convencer-te
Queria feliz fazer-te
Tais são os meus pensamentos,
Que até em certos momentos
Quero e não posso esquecer-te
2ª
Tanto tempo atrás de ti
Tempo tão mal empregado
Os passos que eu tenho dado
São os passos que perdi.
Se o que quero não consegui
Mesmo assim não desespero
Estás reduzida a zero
Teu amor é só desdém,
Eu para me portar bem
Devo odiar-te e não quero.
3ª
Não sei o que hei-de fazer
Para que estejas contente
Nunca pensei ter na frente
Osso tão mau de roer.
Não queres compreender
O que eu quero oferecer-te
Seria comigo ver-te
A maior satisfação,
E com o teu rotundo não
Sinto perder-me em perder-te.
4ª
Com esta esperança perdida
Eu sofro desgostos tais
Que daqui em diante mais
Nada me interessa na vida.
Não ficas diminuída
Pelo que eu te considero
E para te ser sincero
Por mais ninguém o faria,
Que sejas minha algum dia
Não tenho esperança mas espero.
João Romão Borges
***
Matias José
Poeta Popular
Mote
Quero e não posso esquecer-te
Devo odiar-te mas não quero
Sinto perder-me em perder-te
Não tenho esperança mas espero.
JRBorges
DÉCIMAS (DESAMOR)
Matias José
Glosas
1ª
Nada nos é dado como certo
(Poucas vezes nisso pensamos)
Esquecemos e não estimamos
O bem que temos por perto...
Depois de um coração aberto
Que mais posso oferecer-te?
Não sei se deva dizer-te
Mas deixei de saber inventar...
Foi-se a vontade de amar,
Quero e não posso esquecer-te!
Quero e não posso esquecer-te!
2ª
Querer-te mal não sou capaz
Só de pensar fico doente,
Não posso ficar indiferente
A quem tanto bem me faz...
Pode que encontre a paz
Onde talvez menos pondero,
Eu pretendo ser sincero
Quando digo nada saber…
Se hei-de ou não esquecer,
Devo odiar-te mas não quero!
3ª
Ando perdido num vai-vém
De cá pra lá sem decidir,
Quero e não posso sentir
O que nunca senti por ninguém (…)
Não sei se é mal ou bem
Nesse vai-vém desejar-te,
Pior então seria odiar-te
Só me vinha trazer tristeza...
Mas pra dizer com franqueza,
Sinto perder-me em perder-te!
4ª
Tenho um encontro marcado
Num tempo que já passou,
Não sei quem o marcou
Ou mesmo se era esperado (…?...)
Passo os dias neste estado
P'ra meu grande desespero,
Sem saber se reconsidero
Voltar de novo a acreditar…
Devo e não posso esperar,
Não tenho esperança mas espero!
Matias José
1 comentário:
Um bonito abraço de gerações. No Alandroal, os poetas são como os alcatruzes : uns vêm a seguir aos outros !
Obrigado !
Gostei muito.
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