Mulheres Protestando
Cavalcanti
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Durante séculos, o papel da
mulher incidiu sobretudo na sua função de mãe, esposa e dona de casa. Ao homem
estava destinado um trabalho remunerado no exterior do núcleo familiar. Com o
incremento da Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, muitas
mulheres passaram a exercer uma actividade laboral, embora auferindo uma
remuneração inferior à do homem. Lutando contra essa discriminação, as mulheres
encetaram diversas formas de luta na Europa e nos EUA.
LENDA E REALIDADE
A lenda do Dia Internacional da
Mulher como tendo surgido na sequência de uma greve, realizada em 8 de Março de
1857, por trabalhadoras de uma fábrica de fiação ou por costureiras de calçado
- e que tem sido veiculada por muitos órgãos de informação - não tem qualquer
rigor histórico, embora seja uma história de sacrifício e morte que cai bem
como mito.
Em 1982, duas investigadoras,
Liliane Kandel e Françoise Picq, demonstraram que a famosa greve feminina de
1857, que estaria na origem do 8 de Março, pura e simplesmente não aconteceu
(1), não vem noticiada nem mencionada em qualquer jornal norte-americano, mas
todos os anos milhares de orgãos de comunicação social contam a história como sendo
verdadeira («Uma mentira constantemente repetida acaba por se tornar verdade»).
Verdade é que em 1909, um grupo
de mulheres socialistas norte-americanas se reuniu num "party’, numa
jornada pela igualdade dos direitos cívicos, que estabeleceu criar um dia
especial para a mulher, que nesse ano aconteceu a 28 de Fevereiro. Ficou então
acordado comemorar-se este dia no último domingo de Fevereiro de cada ano, o
que nem sempre foi cumprido.
A fixação do dia 8 de Março
apenas ocorreu depois da 3ª Internacional Comunista, com mulheres como
Alexandra Kollontai e Clara Zetkin. A data escolhida foi a do dia da
manifestação das mulheres de São Petersburgo, que reclamaram pão e o regresso
dos soldados. Esta manifestação ocorreu no dia 23 de Fevereiro de 1917, que, no
Calendário Gregoriano (o nosso), é o dia 8 de Março. Só a partir daqui, se pode
falar em 8 de Março, embora apenas depois da II Guerra Mundial esse dia tenha
tomado a dimensão que foi crescendo até à importância que hoje lhe damos.
A partir de 1960, essa tradição
recomeçou como grande acontecimento internacional, desprovido, pouco e pouco,
da sua origem socialista.
(1) Se consultarmos o «calendário
perpétuo» e digitarmos o ano de 1857, poderemos verificar que o 8 de Março
calhou a um domingo, dia de descanso semanal, pelo que, em princípio, nunca
ocorreria uma greve nesse dia. Há quem argumente, no entanto, que, durante o
século XIX, a situação da mulher nas fábricas dos Estados Unidos era de tal
modo dramática que trabalharia 7 dias por semana.
Pesquisa efectuada por Maria
Luísa V. Paiva Boléo
CONSAGRAÇÃO DO 8 DE MARÇO COMO O
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Desde 1975, em sinal de apreço
pela luta então encetada, as Nações Unidas decidiram consagrar o 8 de Março
como Dia Internacional da Mulher.
Se, nos nossos dias, perante a
lei da maioria dos países, não existe qualquer diferença entre um homem e uma
mulher, a prática demonstra que ainda persistem muitos preconceitos em relação
ao papel da mulher na sociedade. Produto de uma mentalidade ancestral, ao homem
ficava mal assumir os trabalhos domésticos, o que implicava para a mulher que
exercia uma profissão fora do lar a duplicação do seu trabalho. Foi necessário
esperar pelas últimas décadas do século XX para que o homem passasse, aos
poucos, a colaborar nas tarefas caseiras.
Mas, se no âmbito familiar se
assiste a uma rápida mudança, na sociedade em geral a situação da mulher está
ainda sujeita a velhas mentalidades que, embora de forma não declarada,
cerceiam a sua plena igualdade.
O número de mulheres em lugares
directivos é ainda diminuto, apesar de muitas delas demonstrarem excelentes
qualidades para o seu desempenho. Hoje as mulheres estão integradas em todos os
ramos profissionais, mesmo naqueles que, ainda há bem pouco tempo, apenas eram
atribuídos aos homens, nomeadamente a intervenção em operações militares de
alto risco.
Nos últimos anos, a festa
comemorativa do Dia Da Mulher é aproveitada por muitas delas, de todas as
idades, para sair de casa e festejar com as amigas, em bares e discotecas, o
dia que lhes é dedicado, enquanto os homens ficam em casa a desempenhar as
tarefas que, tradicionalmente, lhe são imputadas: arrumar a casa, fazer a
comida, tratar dos filhos...
Se a sua esposa, irmã, mãe ou avó
ainda é daquelas que, não obstante as suas tarefas laborais no exterior, ainda
encontra tempo e paciência para que nada lhe falte, o mínimo que poderá fazer
será aproveitar este dia para lhes transmitir o seu apreço. Um ramo de flores,
mesmo que virtual, será, certamente, bastante apreciado. Mas não se fique por
aqui. Eternize este dia, esquecendo mentalidades preconcebidas, colaborando
mais com elas nas tarefas diárias e olhando-as de igual para igual em todas as
circunstâncias, quer no interior do seu lar, quer no seu local de trabalho. Quando todos assim procedermos, não haverá mais necessidade de um dia dedicado
à mulher.
Fonte: O Leme
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