A Política/ 1892
Ilustração de Rafael Bordalo Pinheiro
A POLÍTICA
Mote
Eis a política à portuguesa:
Mudam as moscas no poder,
Não há nenhuma surpresa…
Continua a merda a feder!
Glosas
I
Traço o retrato lastimoso
De quem governa o país,
Depois de apodrecer a raiz
Ainda dizem estar famoso.
Chega a ser vergonhoso
Já faltar o pão na mesa,
Ser cada vez mais pobreza
E uns quantos a engordar…
Amigos, não há que enganar:
Eis a política à portuguesa!
II
Sendo altura de promessas
Todos falam na mudança,
Prometem-nos a bonança
Com o tempo às avessas.
Nuvens negras dispersas...
Céu cinzento a escurecer,
O que hoje é, deixou de ser
Imediatamente a seguir…
Com tempestade a persistir,
Mudam as moscas no poder.
III
A mosca conhecido insecto
Gosta de zumbir voando…
Poisa no que estás cagando,
Como em qualquer dejecto.
Engana até o mais esperto
Poisando com subtileza,
De bom olfacto e destreza
Camufla-se no mau odor…
Na merda os ovos vai pôr,
Não é nenhuma surpresa.
IV
Merda é merda, cheira mal,
Só fedor pra ser diferente,
Mas ainda tem certa gente
Há procura de Bosta fecal.
No desgoverno nacional
É onde se faz notar a valer,
Tudo aí pode acontecer
No meio de tanta porcaria…
Muda o cheiro de noite e dia,
Continua a merda a feder.
POETA
2 comentários:
Outras décimas de enorme qualidade que se aplicam a todos os quadrantes políticos. Ajeitam-se que nem uma luva aos políticos cá do burgo. Bis!
Retrato dos políticos que temos em quatro glosas de excelente qualidade..
Enviar um comentário