«Aquela Mulher Loira»
BD/ JPGalhardas
1207- «AQUELA MULHER LOIRA»
Desejos haveria tido, mas amar… Quem? Se, quando passava,
todos se riam e ninguém, ninguém, jamais sorrira para ele!
Quando recordava tempos longínquos, via, como através dum nevoeiro, uma mulher a quem ele estendia os bracinhos magros, que se lhe debruçava sobre o pequenino berço — tão pequenino! — e que o envolvia numa atmosfera de amor, beijando-o muito. Mas essa mulher também não sorria… chorava.
Chorava naturalmente de vê-lo tão fraquinho, tão feio, tão enfezado. Se o visse agora, cheio de rugas precoces, com os cabelos alvejando-lhe nas fontes, e triste sempre, sempre tão triste!
Por isso contemplava aquele retrato, como se fora possível aquela mulher loira, voltar a cabeça no papel e enviar-lhe, só para ele, aquele sorriso que, por todas as esquinas, por toda a parte, ela enviava… para quem? — para coisa nenhuma; que o retrato era a três quartos e ninguém sabia para onde olhava.
João da Câmara
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