sexta-feira, 7 de novembro de 2014

«PREFÁCIO», POR MANOEL DE BARROS

«Prefácio»
Poeta Brasileiro Manoel de Barros

PREFÁCIO

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direcção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas —
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar 
O silêncio das coisas anônimas —
Passaram essa tarefa para os poetas.

Manoel de Barros

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