terça-feira, 5 de junho de 2012

POESIA - GARCÍA LORCA

O grande poeta e dramaturgo espanhol Federico García Lorca, nasceu em Fuente Vaqueros, província de Andaluzia a 5 de Junho de 1898. Os seus poemas, muito directos e simples, abordam os mais variados temas, desde a sua querida Andaluzia até à defesa dos valores republicanos na luta contra o Franquismo . Vítima do seu alinhamento à causa republicana e assumida homossexualidade,  foi fuzilado pelo regime fascista espanhol em Granada, a 19 de Agosto de 1936.
Poet’anarquista
Federico García Lorca
Poeta Espanhol
SOBRE O POETA…

«Deixaria neste livro/ toda a minha alma./ Este livro que viu/ as paisagens comigo/ e viveu horas santas./ Que pena dos livros/ que nos enchem as mãos/ de rosas e de estrelas/ e lentamente passam! (...)» Este belo poema de Garcia Lorca chama-se «Prólogo» e foi traduzido por William Agel de Melo.

O poeta Federico García Lorca nasceu na região de Granada, na Espanha, e levou para a sua poesia muito da paisagem e dos costumes da sua terra natal.

Estudou direito e letras na Universidade de Granada. O seu primeiro livro foi publicado em 1918, com o título «Impressões e Paisagens». No ano seguinte, Garcia Lorca mudou-se para Madrid, onde viveu até 1928. Em Madrid tornou-se amigo de vários artistas, como Luis Buel, Salvador Dali e Pedro Salinas. Em 1920 estreou no teatro, com a peça «O Malefício da Mariposa», e em 1921 publicou «Livro de Poemas».

García Lorca viveu dois anos em Nova York. De volta à Espanha, em 1931, criou a companhia teatral «La Barraca», que passou a apresentar-se por todo país encenando autores clássicos espanhóis, como Lope de Vega e Cervantes. Tornou-se também um grande dramaturgo, e criou peças que ficaram conhecidas no mundo inteiro. Entre as suas obras mais encenadas estão «Bodas de Sangue», «Yerma» e «A Casa de Bernarda Alba».

Como poeta, Lorca publicou mais de uma dezena de livros, entre eles «Romance Cigano», «Poeta em Nova York», «Seis Poemas Galegos» e «Cantares Populares». A poesia de Garcia Lorca é simples e direta, e o seu estilo doce e comovente tem encantado gerações de leitores. A sua poesia tocante também registrou o modo de viver das pessoas mais simples e buscou resistir contra todo tipo de opressão.

Em 1936, ano da eclosão da Guerra Civil Espanhola, Federico García Lorca foi preso. Fuzilado por militantes franquistas, tornou-se símbolo como vítima dos regimes totalitários.
Fonte: UOLEducação 

«ESTE É O PRÓLOGO»

Deixaria neste livro
toda minha alma.
Este livro que viu
as paisagens comigo
e viveu horas santas.

Que compaixão dos livros
que nos enchem as mãos
de rosas e de estrelas
e lentamente passam!

Que tristeza tão funda
é mirar os retábulos
de dores e de penas
que um coração levanta!

Ver passar os espectros
de vidas que se apagam,
ver o homem despido
em Pégaso sem asas.

Ver a vida e a morte,
a síntese do mundo,
que em espaços profundos
se miram e se abraçam.

Um livro de poemas
é o outono morto:
os versos são as folhas
negras em terras brancas,

e a voz que os lê
é o sopro do vento
que lhes mete nos peitos
entranháveis distâncias.

O poeta é uma árvore
com frutos de tristeza
e com folhas murchadas
de chorar o que ama.

O poeta é o médium
da Natureza-mãe
que explica sua grandeza
por meio das palavras.

O poeta compreende
todo o incompreensível,
e as coisas que se odeiam,
ele, amigas as chama.

Sabe ele que as veredas
são todas impossíveis
e por isso de noite
vai por elas com calma.

Nos livros seus de versos,
entre rosas de sangue,
vão passando as tristonhas
e eternas caravanas,

que fizeram ao poeta
quando chora nas tardes,
rodeado e cingido
por seus próprios fantasmas.

Poesia, amargura,
mel celeste que mana
de um favo invisível
que as almas fabricam.

Poesia, o impossível
feito possível. Harpa
que tem em vez de cordas
chamas e corações.

Poesia é a vida
que cruzamos com ânsia,
esperando o que leva
nossa barca sem rumo.

Livros doces de versos
são os astros que passam
pelo silêncio mudo
para o reino do Nada,
escrevendo no céu
as estrofes de prata.

Oh! que penas tão fundas
e nunca aliviadas,
as vozes dolorosas
que os poetas cantam!

Deixaria no livro
neste toda a minha alma... 

García Lorca

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