O poeta satírico português Nicolau Tolentino de Almeida, conhecido
por Nicolau Tolentino nasceu em Lisboa, a 10 de Setembro de 1740. Exerceu como professor de retórica e poética, e foi membro da Secretaria de Estado dos Negócios do Reino a partir de 1780. Muito bom na
métrica, escreveu sátiras descritivas e caricaturais, sonetos e odes que acabou por reunir em 1801 no volume chamado, «Obras Poéticas». Nicolau Tolentino faleceu
em Lisboa, a 23 de Junho de 1811.
Poet’anarquista
Nicolau Tolentino
Poeta Português
SOBRE O POETA…
Poeta satírico português, natural de Lisboa. Estudou direito
em Coimbra durante vários anos e, em 1767, tornou-se professor de retórica e de
poética. Em 1780, ocupou um cargo de funcionário da secretaria de estado dos
Negócios do Reino.
A obra de Tolentino de Almeida abarca sonetos, odes,
memoriais e sátiras, entre outros géneros; apenas em 1801 o poeta reuniu os
seus textos em volume, com o nome de Obras Poéticas. Após a sua morte, surgiram
algumas edições mais completas da sua obra, incluindo textos até então
inéditos.
A sátira de Tolentino, que o tornou particularmente
conhecido e o distinguiu dos poetas seus contemporâneos (não pertenceu, aliás,
a nenhum dos grupos literários arcádicos), dirige-se à mesquinhez dos costumes,
à pelintrice das aparências, à insensatez de certos grupos sociais e
comportamentos, num humor pitoresco e irónico. O próprio poeta se inclui entre
os cúmplices dessa mediocridade, assumindo a sua pequenez resignada — alguns
dos seus poemas são homenagens a grandes figuras da época, de cuja protecção e
auxílio necessitava. Tolentino apresenta-se como vivendo na miséria, e
assume-se, ele próprio, consciente e ironicamente, personagem da comédia humana
que caricatura.
Do ponto de vista estilístico, a obra do poeta
caracteriza-se pela sua simplicidade, longe da grandiloquência e das métricas
próprias dos poetas neoclássicos. O seu verso aproxima-se das formas populares,
e o seu tom da coloquialidade, o que contribui para os efeitos de denúncia de
vícios corriqueiros, de episódios quotidianos.
É considerado por muitos um dos grandes vultos literários do
século XVIII português e um dos maiores satíricos nacionais.
Fonte: astormentas
SONETOS
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
– «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»
– «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz coa doce voz que o ar serena:
– «Sumiu-se-lhe um colchão? É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»
– «Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?» E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...
Nicolau Tolentino
Vai, mísero cavalo lazarento,
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.
Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.
Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:
«Aqui piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno, a não morrer de fome».
Pastar longas campinas livremente;
Não percas tempo, enquanto to consente
De magros cães faminto ajuntamento.
Esta sela, teu único ornamento,
Para sinal da minha dor veemente,
De torto prego ficará pendente,
Despojo inútil do inconstante vento.
Morre em paz, que, em havendo algum dinheiro,
Hei-de mandar, em honra de teu nome,
Abrir em negra pedra este letreiro:
«Aqui piedoso entulho os ossos come
Do mais fiel, mais rápido sendeiro,
Que fora eterno, a não morrer de fome».
Nicolau Tolentino
Em curto josezinho rebuçado,
Loiro peralta a rua passeava;
Seus votos pela adufa lhe aceitava
Com brando riso um rosto delicado;
O pai da moça, que era ginja honrado,
E o caso havia dias espreitava,
De membrudo caixeiro se escoltava,
Com bengala na mão, chambre traçado:
Fugira o moço, qual ligeira pela,
Se as fivelas, de marca agigantada,
Deixassem navegar a nau à vela;
Mas viu uma entre esquinas encalhada;
E, se ninguém comprou maior fivela,
Também ninguém levou maior maçada.
Loiro peralta a rua passeava;
Seus votos pela adufa lhe aceitava
Com brando riso um rosto delicado;
O pai da moça, que era ginja honrado,
E o caso havia dias espreitava,
De membrudo caixeiro se escoltava,
Com bengala na mão, chambre traçado:
Fugira o moço, qual ligeira pela,
Se as fivelas, de marca agigantada,
Deixassem navegar a nau à vela;
Mas viu uma entre esquinas encalhada;
E, se ninguém comprou maior fivela,
Também ninguém levou maior maçada.
Nicolau Tolentino
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