«Um Habitante»
Poema de Mario Rivero
774- «UM HABITANTE»
Este homem não tem nada que fazer
sabe dizer poucas palavras
leva nos seus olhos colinas e sestas na relva
Vai em direcção a algum lugar com um pacote debaixo do braço
em busca de alguém que lhe diga "entre"
depois de ter engolido o pó
e o estridente apito dos comboios
depois de ter visto a lista de empregos nos jornais
Não deseja mais do que descansar um por um os seus poros
Há tanta solidão a bordo de um homem
quando apalpa os seus bolsos ou conta os frangos assados nas
vitrinas
ou na rua os cavalinhos que fazem a chuva feliz
E dentro da tibieza as bocas sorriem à meia-noite
algumas se beijam e entesouram desejos
outras mastigam chicletes e brincam com as chaves
Crescem os bosques de ídolos
e o caçador se faz cobrar pela sua melhor peça
Mario Rivero
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