«O Pesadelo»
Príncipe, o Perfeito
1243- «O PESADELO»
Todos os dias a rotina habitual de Matias sucedia-se… depois
do almoço no local de trabalho, dirigia-se ao prédio onde morava para apanhar
seu cachorro, e dar o passeio pelas cercanias a fim de o animal fazer as suas
necessidades.
Naquele dia, quando Matias abriu a porta para sair com seu
cachorro, o vizinho da frente interpelou-o bruscamente dizendo vários
impropérios sobre o cão, chegando ao cúmulo de o ameaçar com uma faca de
serrilha.
Não era a primeira vez que tal sucedia, e Matias perdeu a
paciência e o ofendeu. Chamou-lhe canalha, que não tinha coração e que só
estava feliz a arranjar problemas onde não existiam.
Matilde, a vizinha do andar de cima descia as escadas nesse
momento e presenciou a cena pouco amistosa entre o velho homem e Matias, de
quem era amiga há largos anos.
Lá o acalmou conseguindo que ele descesse as escadas do
prédio até ao rés-de-chão, e seguir viagem para dar o passeio habitual com seu
cachorro.
Matias interpelou-a:
- Matilde, você ouviu eu gritar que ele me estava apontando
uma faca?
-Sim, Matias… mas já passou, agora acalma-te e vai passear o
teu Príncipe que não tarda são horas de regressares ao trabalho.
- Obrigado, Matilde… dá cá um beijo, tu tens o condão de me
tranquilizar. Se não fosses tu aparecer na altura certa, parece-me que o velho
não se escapava de levar um par de estalos.
Todas as noites Matias descansava trancado a sete chaves.
Como se não bastasse trancar a porta de entrada da casa, trancava igualmente a
porta do corredor que dava acesso ao quarto, e a porta do seu quarto. Matias
vivia trancado na sua própria casa, e as noites eram de enorme agitação até
adormecer. Para conseguir descansar sem aquela maldita ansiedade que lhe
apertava o peito, engolia como era hábito todas as noites o respectivo
comprimido perto da meia-noite.
Naquela noite de treze para catorze de Março, depois das
ameaças que lhe tinha feito o velho homem pela hora de almoço, Matias estava
mais inquieto do que era normal. Deitou-se perto da meia-noite, tomou em vez de
um, dois comprimidos, e caiu num sono profundo.
Ouviu-se uma primeira chave abrir uma fechadura e o ranger
de porta… depois, sucessivamente, uma e outra fechaduras até se encontrar no
interior do quarto onde Matias dormia a sono solto.
Uma lanterna se acendeu direccionada para a cama onde Matias
descansava focando o seu rosto adormecido. Nesse instante Matias acordou
ficando petrificado e imóvel… não voltaria a acordar novamente para a vida. Uma
primeira facada no peito, seguida de outras quantas na mesma zona, até que se ouviu uma voz suave
e doce deslizar:
- Querido, muitos parabéns pelo dia catorze de Março, dia do
teu aniversário, recebe com agrado a décima quarta facada que te desfiro. Com
amor, tua amiga de sempre…
O Príncipe, encerrado no quarto dos fundos, fazia ouvir os
seus uivos por todo o prédio e arredores…
Não mais teria o prazer de passear com seu amigo Matias.
Leunam d'Orig
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