sábado, 9 de abril de 2011

POESIA - BAUDELAIRE

Charles-Pierre Baudelaire, poeta francês considerado um dos percursores do Simbolismo e reconhecido como  fundador da tradição do Modernismo na poesia, nasceu em Paris a 9 de Abril de 1821. A sua obra teórica influenciou grandemente as artes plásticas do séc. XIX, tendo-se relacionado com várias escolas artísticas do seu tempo. Faleceu a 31 de Agosto de 1867 na capital francesa.
Poet'anarquista
Charles Baudelaire
Poeta Francês

«Retrato de Baudelaire»
Deroy
BIOGRAFIA
9/4/1821, Paris, França
31/8/1867, Paris, França

Órfão de pai aos seis anos, Charles-Pierre Baudelaire viria a odiar o segundo marido da mãe, o general Jacques Aupick (mais tarde, esse sentimento inspiraria a sua atitude rebelde em face das convenções sociais e dos temas frívolos na poesia).

Após anos de desavenças com o padrasto, Baudelaire interrompeu os estudos em Lyon para fazer uma viagem à Índia. De regresso, participou na Revolução de 1848.

Após esse período conturbado, passou a frequentar a elite aristocrática. Envolveu-se com a actriz Marie Daubrun, a cortesã Apollonie Sabatier e a também actriz Jeanne Duval, uma mulata por quem se apaixonou e a quem dedicou o ciclo de poemas «Vénus Negra».

Em 1847, lançou «La Fanfarlo», o seu único romance (trata-se, mais propriamente, de uma novela autobiográfica).

Dez anos depois, quando se publicaram «As Flores do Mal» («Les Fleurs du Mal»), todos os envolvidos com o livro foram processados por obscenidade e blasfémia.

Além de pagarem multa, viram-se obrigados a retirar seis poemas do volume original (só publicado na integra em edições póstumas). Tanto «As Flores do Mal» como «Pequenos Poemas em Prosa» (póstumos, 1869) introduziram elementos novos na linguagem poética, fundindo opostos existenciais como o sublime e o grotesco.

Entre os seus ensaios, destaca-se «O Princípio Poético» (1876), em que fixa as bases do seu trabalho. Nos diários (também publicados postumamente), revela-se profético e radical contestador da civilização moderna.

Literato que avançou as fronteiras dos costumes na sua época, Baudelaire lançou-se como crítico de arte no Salão em 1845, sempre buscando um princípio inspirador e coerente nas obras artísticas. («Salão» era o nome pelo qual se conhecia a mais importante mostra anual da pintura e da escultura francesas.)

De 1852 a 1865, Baudelaire traduziu os textos do poeta e contista norte-americano Edgar Allan Poe, por quem se entusiasmara já no final da década de 1840.

Outro Baudelaire, o sifilítico e usuário de drogas, surge em «Os Paraísos Artificiais, Ópio e Haxixe» (1860), uma especulação sobre plantas alucinógenas, parcialmente inspirada pelas «Confissões de um Comedor de Ópio» (1821), do escritor inglês Thomas de Quincey. Há também obras de cunho intimista e confessional, como «Meu Coração Desnudo».

Baudelaire foi um dos maiores poetas franceses de todos os tempos. Alguns o consideram um antecessor do parnasianismo, ou um romântico exacerbado. Pioneiro da linguagem moderna, impôs à realidade uma submissão lírica. Embora muito criticado, tinha entre os seus admiradores homens como Victor Hugo, Gustave Flaubert, Arthur Rimbaud e Paul Verlaine.

Arrasou os seus bens na boémia e no jogo parisiense. Mergulhado em dívidas, teve de resignar-se a medidas judiciárias tomadas pelos familiares, e um tutor foi nomeado para lhe controlar os gastos.

Os seus últimos anos foram obscurecidos por doenças de origem nervosa. Após uma vida repleta de tribulações, Baudelaire morreu com apenas 46 anos, nos braços da mãe. O seu talento e o seu intelecto só seriam totalmente reconhecidos anos mais tarde. No século 20, tornou-se um ícone, influenciando directa e indiretamente toda a moderna poesia ocidental.
Fonte: UOL Educação
«As Flores do Mal»
Poesia de Charles Baudelaire

SEPULTURA D'UM POETA MALDITO

Se, em noite horrorosa, escura, 
Um cristão, por piedade, 
te conceder sepultura 
Nas ruínas d'alguma herdade, 

As aranhas hão-de armar 
No teu coval suas teias, 
E nele irão procriar 
Víboras e centopeias. 

E sobre a tua cabeça, 
A impedi-la que adormeça. 
- Em constantes comoções, 

Hás-de ouvir lobos uivar, 
Das bruxas o praguejar, 
E os conluios dos ladrões. 

Charles Baudelaire

A MÚSICA

A música p'ra mim tem seduções de oceano!
Quantas vezes procuro navegar,
Sobre um dorso brumoso, a vela a todo o pano,
Minha pálida estrela a demandar!

O peito saliente, os pulmões distendidos
Como o rijo velame d'um navio,
Intento desvendar os reinos escondidos
Sob o manto da noite escuro e frio;

Sinto vibrar em mim todas as comoções
D'um navio que sulca o vasto mar;
Chuvas temporais, ciclones, convulsões

Conseguem a minh'alma acalentar.
— Mas quando reina a paz, quando a bonança impera,
Que desespero horrivel me exaspera! 

Charles Baudelaire

A BELEZA

De um sonho escultural tenho a beleza rara,
E o meu seio, — jardim onde cultivo a dor,
Faz despertar no Poeta um vivo e intenso amor,
Com a eterna mudez do marmor' de Carrara

Sou esfinge subtil no Azul a dominar,
Da brancura do cisne e com a neve fria;
Detesto o movimento, e estremeço a harmonia;
Nunca soube o que é rir, nem sei o que é chorar.

O Poeta, se me vê nas atitudes fátuas
Que pareço copiar das mais nobres estátuas,
Consome noite e dia em estudos ingentes..

Tenho, p'ra fascinar o meu dócil amante,
Espelhos de cristal, que tornaram deslumbrante
A própria imperfeição: — os meus olhos ardentes!

Charles Baudelaire
 

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