«Teatro Simbólico
dos Contos Maravilhosos»
Ilustração de Gustave Doré
761- «TEATRO SIMBÓLICO DOS CONTOS MARAVILHOSOS»
Pretendeu-se que o conto maravilhoso constituía uma
falsificação da realidade, pura e simplesmente porque narrava mentiras. Mesmo
se entendido simbolicamente, tal género de literatura podia ser
perigoso, pois daria talvez acesso a um sem-número de alienações na idade
adulta: escapismo, perda de sentido do concreto, imaginação doentia,
distanciação da realidade... as crianças, contudo, resistiram.
(...)
O deslumbramento perante o desconhecido, a atracção pelo enigmático e pelo misterioso, a decisão do trabalho e da investigação desinteressada, a capacidade de fugir às tiranias do mundo burocrático e imediato, a virtualidade sempre aberta da intuição, do sonho, do ideal, a conservação de um olhar inocente perante a espessura das coisas ou perante a presença dos males, das angústias e das dificuldades, a sublimação dos impulsos instintivos em obra criadora e fecunda, a disponibilidade diante do inesperado e do insólito são apenas algumas, de entre muitas dádivas que as crianças recebem na infância, dos contos maravilhosos.
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O deslumbramento perante o desconhecido, a atracção pelo enigmático e pelo misterioso, a decisão do trabalho e da investigação desinteressada, a capacidade de fugir às tiranias do mundo burocrático e imediato, a virtualidade sempre aberta da intuição, do sonho, do ideal, a conservação de um olhar inocente perante a espessura das coisas ou perante a presença dos males, das angústias e das dificuldades, a sublimação dos impulsos instintivos em obra criadora e fecunda, a disponibilidade diante do inesperado e do insólito são apenas algumas, de entre muitas dádivas que as crianças recebem na infância, dos contos maravilhosos.
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À laboração misteriosa do inconsciente
se devem muitas vezes, tanto como à própria razão consciente, os inventos da
ciência ou os conceitos da filosofia.
(...)
Talvez que, aos jovens das gerações
de hoje tenham faltado os avós, as mães e as tias que sabiam contar
histórias de fadas, pela calada da noite, a crianças palpitantes e
deslumbradas.
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(...)
Talvez essa oportunidade perdida os
tenha desequilibrado para sempre. Se não ressuscitamos o teatro
simbólico dos contos maravilhosos, talvez o mundo pereça entre escombros, ou
simplesmente se detenha, desgostado com a pobreza espiritual da humanidade
nova...
António Quadros
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