sábado, 17 de setembro de 2011

POESIA - GUERRA JUNQUEIRO

O poeta português Abílio Manuel Guerra Junqueiro, conhecido como Guerra Junqueiro, nasceu em Freixo de Espada à Cinta, a 17 de Setembro de 1850. Considerado o maior poeta popular panfletário da sua época, assim como o mais típico representante da chamada «Escola Nova», Guerra Junqueiro ajudou com a sua poesia o clima revolucionário que levou à implantação da República. Ficou célebre como o poeta anticlerical português. Junqueiro faleceu em Lisboa, a 7 de Julho de 1923.
Poet'anarquista
Guerra Junqueiro
 Poeta Português
BIOGRAFIA

Célebre poeta anticlerical português nascido em Freixo-de-Espada-à-Cinta, Trás-os-Montes, Portugal, de sólida influência francesa e que obteve nas suas sátiras efeitos de caricatura que intensificaram a retórica dos seus versos.

De família rica e severamente católica, frequentou a Faculdade de Teologia (1866-1868) que abandonou para seguir para a Universidade de Coimbra onde se formou em Direito (1868-1873) e passou a frequentar ambientes de intelectuais e políticos. Entrou em contato com os intelectuais do Cenáculo e colaborou na revista Lanterna Mágica (1875). Sua primeira publicação foi Mysticae nuptiae (1866), seguida de A morte de D. João (1874) e a coleção de poemas A musa em férias (1879).

Foi secretário dos governos de Angra e Viana, filiou-se no Partido Progressista, monárquico, que estava na oposição (1879), elegeu-se deputado pelo círculo de Quelimane, Moçambique (1880) e representou o país em Berna.

Ingressou no grupo Vencidos da Vida (1888), de que faziam parte Eça de Queirós e Oliveira Martins, e continuou a escrever até que se retirou para suas propriedades no Douro (1891), onde evoluiu para o misticismo, caracterizado pela piedade para com os humildes.

Morreu em Lisboa, deixando como sua obra mais conhecida, «A Velhice do Padre Eterno» (1875), uma sátira anticlerical de contundente humor e de aspecto caricaturista.

Os romances «Prosas Dispersas» (1921) e «Horas de Combate» (1924) e obras poéticas como «Duas Páginas dos Catorze Anos» (1864), «Vozes sem Eco» (1867), «Baptismo de Amor» (1868), «A Musa em Férias» (1879), «Finis Patriae» (1880), «Os Simples» (1892), «Pátria» (1896), «Oração ao Pão» (1903), «Oração à Luz» (1904) e «Poesias Dispersas» (1920). Após a sua morte, surgiu «Horas de Combate» (1924), reunindo os seus discursos políticos.
Fonte: NetSaber

No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.

Guerra Junqueiro


As crianças têm medo à noite, às horas mortas,
Do papão que as espera, hediondo, atrás das portas,
Para as levar no bolso ou no capuz dum frade.
Não te rias da infância, ó velha humanidade,
Que tu também tens medo ao bárbaro papão,
Que ruge pela boca enorme do trovão,
Que abençoa os punhais sangrentos dos tiranos,
Um papão que não faz a barba há seis mil anos,
E que mora, segundo os bonzos têm escrito,
Lá em cima, detrás da porta do infinito!

Guerra Junqueiro

EVOLUÇÃO

Arde o corpo do sol, brotam feixes de luz: 
O que é a luz? 
Sol que morreu. 

Dardeja a luz, dardeja e pulveriza a fraga: 
Vai nesse pó, que há-de ser terra, 
A luz extinta. 

Gerou a terra a seara verde: 
Hastes e folhas da seara verde 
Comeram terra. 

A seara é grada, o trigo é loiro: 
Deu trigo loiro, 
Morrendo ela. 

O trigo é pão, é carne e é sangue: 
Sangue vermelho, carne vermelha, 
Trigo defunto. 

Em carne e em sangue, eis o desejo: 
Vive o desejo, 
De carne morta. 

Arde o desejo, eis o pecado: 
Que são pecados? 
Desejos mortos. 

Queima o pecado o pecador: 
Nasceu a dor; findou na dor 
Pecado e morte. 

A alma branca, iluminada, 
Transfigurada pela dor, 
Essa não vai à sepultura 
Porque é já Deus na criatura, 
Porque é o Espírito, é o Amor. 

Na vida vã da terra sepulcral 
Só o amor é infinito e só ele é imortal. 

Morreu a luz, pulverizando a fraga, 
Morreu a poeira, alimentando a seara; 
Morreu a seara, que gerou o trigo; 
Morreu o trigo, que deu vida à carne; 
Morreu a carne, que nutriu desejo; 
Morreu desejo, que se fez pecado; 
Morreu pecado, que floriu em dor; 
Morreu a dor, para nascer o Amor! 

E só o Amor na vida sepulcral 
É infinito e é imortal!

Guerra Junqueiro

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