sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

HISTÓRIA POÉTICA - MORTE DE INÊS DE CASTRO

Razões de ordem política levam o rei D Afonso IV a mandar executar Inês de Castro, amante do seu filho D. Pedro. Esta cruel tarefa é levada a cabo, a 7 de Janeiro de 1355, por três elementos da nobreza: Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e Pero Coelho. Aproveitando a ausência de D. Pedro numa caçada, dirigem-se ao Paço de Santa Clara, em Coimbra, onde a bela Inês se encontra “posta em sossego” e matam-na.
Fonte: O Leme 


D. Pedro e Inês de Castro

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HISTÓRIA POÉTICA ILUSTRADA

Alguns poetas como Luís Vaz de Camões, Bocage, Miguel Torga e Ruy Belo imortalizaram em poesia a memória de Inês de Castro, agora com publicação no Poet'anarquista, passados que são seiscentos e cinquenta e seis anos desse fatídico acontecimento do dia 7 de Janeiro de 1355.
Poet'anarquista
Inês de Castro
"Súplica"
Em Memória de Inês de Castro

Lusíadas. Canto III

CXX

"Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.

Luís Vaz de Camões

CXXV

"Para o Céu cristalino alevantando
Com lágrimas os olhos piedosos,
Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos;
E depois nos meninos atentando,
Que tão queridos tinha, e tão mimosos,
Cuja orfandade como mãe temia,
Para o avô cruel assim dizia:

Luís Vaz de Camões

CXXX

— Morte de Inês de Castro
"Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo, e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra uma dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais, e cavaleiros?

Luís Vaz de Camões

CXXXV

"As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram;
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água, e o nome amores.

Luís Vaz de Camões
Inês de Castro
"Rogando Clemência"
A ULINA 
Soneto dedicatório

Da miseranda Inês o caso triste
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.

Paixão, que, se a sentir, não lhe resiste
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.

Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.

Tu és cópia de Inês, encanto amado;
Tu tens seu coração, tu tens seu rosto...
Ah!, defendam-te os Céus de ter seu fado!

Bocage
Inês de Castro
"Assassinato"

A lamentável catástrofe de D. Inês de Castro 

Da triste, bela Inês, inda os clamores 
Andas, Eco chorosa, repetindo; 
Inda aos piedosos Céus andas pedindo 
Justiça contra os ímpios matadores; 

Ouvem-se inda na Fonte dos Amores
De quando em quando as náiades carpindo;
E o Mondego, no caso reflectindo,
Rompe irado a barreira, alaga as flores:

Inda altos hinos o universo entoa
A Pedro, que da morte formosura
Convosco, Amores, ao sepulcro voa:

Milagre da beleza e da ternura!
Abre, desce, olha, geme, abraça e c'roa
A malfadada Inês na sepultura.

Bocage
Inês de Castro
"Cantata"

Cantata à morte de Inês de Castro 

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores;
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.

«Mísero esposo,
Desata o pranto,
Que o teu encanto
Já não é teu.

«Sua alma pura
Nos Céus se encerra;
Triste da Terra,
Porque a perdeu.

«Contra a cruenta
Raiva íerina,
Face divina
Não lhe valeu.

«Tem roto o seio
Tesoiro oculto,
Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.

«De dor e espanto
No carro de oiro
O Númen loiro
Desfaleceu.

«Aves sinistras
Aqui piaram
Lobos uivaram,
O chão tremeu.

«Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei, Amores,
Que Inês morreu.»

Bocage
Inês de Castro
"Amor de D. Pedro"

Inês de Castro 

Antes do fim do mundo, despertar, 
Sem D. Pedro sentir, 
E dizer às donzelas que o luar 
E o aceno do amado que há-de vir... 

E mostrar-lhes que o amor contrariado
Triunfa até da própria sepultura:
O amante, mais terno e apaixonado,
Ergue a noiva caída à sua altura.

E pedir-lhes, depois fidelidade humana
Ao mito do poeta, à linda Inês...
À eterna Julieta castelhana
Do Romeu português.

Miguel Torga
 Inês de Castro
"A Morte"
Inês Morreu

Inês morreu e nem se defendeu
da morte com as asas das andorinha
pois diminuta era a morte que esperava
aquela que de amor morria cada dia
aquela ovelha mansa que até mesmo cansa
olhar vestir de si o dia-a-dia
aquele colo claro sob o qual se erguia
o rosto envolto em loura cabeleira
Pedro distante soube tudo num instante
que tudo terminou e mais do que a Inês
o frio ferro matou a ele.
Nunca havia chorado é a primeira vez que chora
agora quando a terra já encerra
aquele monumento de beleza
que pode Pedro achar em toda a natureza
que pode Pedro esperar senão ouvir chorar
as próprias pedras já que da beleza
se comovam talvez uma vez que os humanos
corações consentiram na morte da inocente Inês
E Pedro pouco diz só diz talvez
Satanás excedeu o seu poder em mim
deixem-me só na morte só na vida
a morte é sem nenhuma dúvida a melhor jogada
que o sangue limpe agora as minhas mãos
cheias de nada
ó vida ó madrugada coisas do princípio vida
começada logo terminada.

Ruy Belo

Um último poema de Matias José dedicado aos amantes Pedro e Inês.
Poet'anarquista
Pedro e Inês
"Os Amantes"
Águas Claras

Andavam de noite aos segredos
Os amantes pela rua...
Nos olhares desejos
Com olhos de meia-lua!

Chegou um olhar distante
Devagar, bem de mansinho,
Olhou-os bem de frente
E indicou-lhes o caminho:

Para lá do sol nascente
Um dia há-de chegar?...
Junto a uma «Ponte»
Esse Poeta para te amar!!

E se ele não vier
Deita pedrinhas no Mondego,
Numa estrela qualquer
O amor terá sossego!!!

Matias José

2 comentários:

Anónimo disse...

Mil*****...estrelas esta postagem e toda a poesia nela contida.
Um beijinho ao POETA com votos de um bom ano novo!

Maria

Anónimo disse...

Magnífica Postagem!!!

Bravo POETA, adorei!
Fiquei sem palavras Matias José...
O meu silêncio aqui deixo...

O B R I G A D A !!!

Uma Alandroalense (L...)