terça-feira, 4 de janeiro de 2011

LITERATURA - T.S.ELIOT

Falecia em Londres, no dia 4 de Janeiro de 1965 o poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês Thomas Stearns Eliot (T.S.Eliot). Nasceu nos Estados Unidos e aos 25 anos mudou-se para Inglaterra, onde se veio a naturalizar como cidadão britânico. Venceu o Prémio Nobel da Literatura no ano de 1948.
Poet'anarquista
T.S.Eliot
Poeta, Dramaturgo e Crítico Literário

POR IVAN JUNQUEIRA

T.S.Eliot - o poeta, o crítico, o ensaísta, o dramaturgo - encarna uma das mais estranhas e poderosas permanências literárias da nossa época. Estranha, porque foi ele, acima de qualquer outro, o escritor contemporâneo que mais conscientemente buscou, na tradição cultural do passado, o sentido de um tempo presente que, por estar sempre vindo a sê-lo, fosse também futuro; poderosa, porque a sua obra, a um só tempo clássica e moderna, revolucionária e reacionária, realista e metafísica, está na própria raiz que informa e conforma a mentalidade poética dos nossos dias, tendo exercido fecunda e duradoura influência sobre todas as gerações que se formaram a partir de 1930.
Fonte: culturapara.art.br


MANHÃ À JANELA


Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.
As ondas castanhas da neblina me arremessam
Retorcidas faces do fundo da rua,
E arrancam de uma passante com saias enlameadas
Um sorriso sem destino que no ar vacila
E se dissipa rente ao nível dos telhados.


T.S.Eliot

(Tradução: Ivan Junqueira)


QUATRO QUARTETOS

As palavras se movem, a música se move
Apenas no tempo; mas o que apenas vive
Pode apenas morrer. As palavras, após a fala, alcançam
O silêncio. Apenas pelo modelo, pela forma,
Podem as palavras ou a música alcançar
O repouso, como um vaso chinês que ainda se move
Perpetuamente em seu repouso.
Não o repouso do violino, enquanto a nota perdura,
Não apenas isto, mas a coexistência,
Ou seja, que o fim precede o princípio
E que o fim e o princípio sempre estiveram lá
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo sempre é agora. As palavras distendem,
Sob a tensão, tropeçam, escorregam, perecem,
Apodrecem com a imprecisão, não querem manter-se no lugar,
Não querem quedar-se quietas. Vozes ríspidas,
Irritadas, zombeteiras, ou apenas tagarelas,
Sem cessar as criticam. A Palavra no deserto
É mais atacada pelas vozes da tentação,
A sombra soluçante da funérea dança,
O clamoroso lamento da quimera inconsolada

T.S.Eliot

(Tradução: Ivan Junqueira)


OS HOMENS OCOS

I
Nós somos os homens ocos
Os homens empalhados
Uns nos outros amparados
O elmo cheio de nada. Ai de nós!
Nossas vozes dessecadas,
Quando juntos sussurramos,
São quietas e inexpressas
Como o vento na relva seca
Ou pés de ratos sobre cacos
Em nossa adega evaporada



Fôrma sem forma, sombra sem cor
Força paralisada, gesto sem vigor;



Aqueles que atravessaram
De olhos rectos, para o outro reino da morte
Nos recordam - se o fazem - não como violentas
Almas danadas, mas apenas
Como os homens ocos
Os homens empalhados.

  
II
Os olhos que temo encontrar em sonhos
No reino de sonho da morte
Estes não aparecem:
Lá, os olhos são como a lâmina
Do sol nos ossos de uma coluna
Lá, uma árvore brande os ramos
E as vozes estão no frêmito
Do vento que está cantando
Mais distantes e solenes
Que uma estrela agonizante.



Que eu demais não me aproxime
Do reino de sonho da morte
Que eu possa trajar ainda
Esses tácitos disfarces
Pele de rato, plumas de corvo, estacas cruzadas
E comportar-me num campo
Como o vento se comporta
Nem mais um passo



- Não este encontro derradeiro
No reino crepuscular


III
Esta é a terra morta
Esta é a terra do cacto
Aqui as imagens de pedra
Estão eretas, aqui recebem elas
A súplica da mão de um morto
Sob o lampejo de uma estrela agonizante.



E nisto consiste
O outro reino da morte:
Despertando sozinhos
À hora em que estamos
Trêmulos de ternura
Os lábios que beijariam
Rezam as pedras quebradas.

  
IV
Os olhos não estão aqui
Aqui os olhos não brilham
Neste vale de estrelas tíbias
Neste vale desvalido
Esta mandíbula em ruínas de nossos reinos perdidos



Neste último sítio de encontros
Juntos tateamos
Todos à fala esquivos
Reunidos na praia do túrgido rio



Sem nada ver, a não ser
Que os olhos reapareçam
Como a estrela perpétua
Rosa multifoliada
Do reino em sombras da morte
A única esperança
De homens vazios.

  
V
Aqui rondamos a figueira-brava
Figueira-brava figueira-brava
Aqui rondamos a figueira-brava
Às cinco em ponto da madrugada



Entre a idéia
E a realidade
Entre o movimento
E a acção
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Entre a concepção
E a criação
Entre a emoção
E a reação
Tomba a Sombra
A vida é muito longa



Entre o desejo
E o espasmo
Entre a potência
E a existência
Entre a essência
E a descendência
Tomba a Sombra
Porque Teu é o Reino

Porque Teu é
A vida é
Porque Teu é o



Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Assim expira o mundo
Não com uma explosão, mas com um suspiro.



T.S.Eliot

(Tradução: Ivan Junqueira)

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