sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

POESIA BRASILEIRA

No dia 14 de Janeiro de 1974 falecia o poeta, jornalista e ensaísta brasileiro Cassiano Ricardo Leite. Um representante da poesia modernista, de tendências nacionalistas, com forte participação no movimento de poesia concreta.
Poet'anarquista
Cassiano Ricardo
Poeta Brasileiro
BREVE HISTORIAL

Cassiano Ricardo Leite, poeta, jornalista e ensaísta, nasceu em São José dos Campos, SP, no dia 26 de Julho de 1895, e morreu no Rio de Janeiro a 14 de Janeiro de 1974. Tendo participado do movimento modernista e de grupos que se lhe sucederam, Cassiano Ricardo soube aproveitar como poucos o Indianismo, uma das influências do momento, tomando-o como base de uma autenticidade americana. ‘Martim Cererê’, o seu livro mais conhecido, traduzido para muitos idiomas e ilustrado por Di Cavalcanti,  fundamenta-se no mito tupi do Saci-Pererê, manifestando uma conciliação das três raças formadoras da cultura nacional, a indígena, a africana e a portuguesa. Mesclando essas três fontes linguísticas, elabora o que foi chamado de "mito do Brasil-menino". Modernista e primitiva a um só tempo, brasileira sem ser nacionalista, a sua estrutura lembra alguns elementos da história em quadrinho e dos filmes de animação, prenunciando a pop art. Além de ter escrito esse livro clássico da literatura brasileira, Cassiano Ricardo manteve, até o fim da sua vida, uma pesquisa poética experimental e independente, acompanhando de perto os novos movimentos de vanguarda, sobre os quais escreveu. O seu último livro, 50 anos após o de estréia, exemplifica essa constante inquietação. 
Fonte: Shvoong.com

FICARAM-ME AS PENAS

O pássaro fugiu, ficaram-me as penas 
da sua asa, nas mãos encantadas. 
Mas, que é a vida, afinal? Um vôo, apenas. 
Uma lembrança e outros pequenos nadas. 



Passou o vento mau, entre açucenas, 
deixou-me só corolas arrancadas... 
Despedem-se de mim glorias terrenas. 
Fica-me aos pés a poeira das estradas. 


A água correu veloz, fica-me a espuma. 
Só o tempo não me deixa coisa alguma 
até que da própria alma me despoje! 


Desfolhados os últimos segredos, 
quero agarrar a vida, que me foge, 
vão-se-me as horas pelos vãos dos dedos.

Cassiano Ricardo


DESEJO

As coisas que não conseguem morrer 
Só por isso são chamadas eternas. 
As estrelas, dolorosas lanternas 
Que não sabem o que é deixar de ser. 

Ó força incognoscível que governas 
O meu querer, como o meu não-querer. 
Quisera estar entre as simples luzernas 
Que morrem no primeiro entardecer. 

Ser deus — e não as coisas mais ditosas 
Quanto mais breves, como são as rosas 
É não sonhar, é nada mais obter. 

Ó alegria dourada de o não ser 
Entre as coisas que são, e as nebulosas, 
Que não conseguiu dormir nem morrer.

Cassiano Ricardo

ESPAÇO LÍRICO

Não amo o espaço que o meu corpo ocupa 
Num jardim público, num estribo de bonde. 
Mas o espaço que mora em mim, luz interior. 
Um espaço que é meu como uma flor 

Que me nasceu por dentro, entre paredes. 
Nutrido à custa de secretas sedes. 
Que é a forma? Não o simples adorno. 
Não o corpo habitando o espaço, mas o espaço 

Dentro do meu perfil, do meu contorno. 
Que haja em mim um chão vivo em cada passo 
(mesmo nas horas mais obscuras) para 

Que eu possa amar a todas as criaturas. 
Morte: retorno ao incriado. Espaço: 
Virgindade do tempo em campo verde.
 
Cassiano Ricardo

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