Décimas populares pelo poeta Domingos Mendes Moreira, natural da aldeia de Montes Juntos, freguesia de Santo António de Capelins do concelho de Alandroal. Nasceu no ano de 1906 e foi de profissão trabalhador rural. Começou a fazer poesia ainda muito jovem e é mais um dos poetas que constam do livro «Cantadores de Alegrias, Mágoas e Mangações», editado pela Câmara Municipal de Alandroal no ano de 1993.
Poet'anarquistaDomingos Mendes Moreira
Poeta Popular
Mote
Ó que desgraça tamanha!
Se por dias não chover
O seareiro fica à pida*
O rico fica a dever.
Glosas
1ª
Os campos estão um horror
Não há nada que dê esperança
Parece isto uma vingança
Que nos fez Nosso Senhor.
Se houver algum pecador
Para que é que todos apanha
O vento é uma gadanha
Afiada com bom corte,
Origem de tanta morte
Ó que desgraça tamanha!
2ª
Ontem fui ver a seara
As espigas já ardiam
Quase em bica corriam
As lágrimas na minha cara.
Se a virgem nos não ampara
Ai de nós o que há-de ser
Já que Deus não quer saber
Vem tu, Virgem, dar-me a mão,
Triste desta povoação
Se por dias não chover.
3ª
Há adubos a pagar
Há ferragens e madeiras
Pagamos às mondadeiras
Algum trigo temos que o ceifar.
Mas depois ao debulhar
É sempre pouca a medida
Isto é um chorar em vida
Sem nada remediar,
Se Deus por aqui não passar
O seareiro fica à pida.*
4ª
A erva desapareceu
A terra está feita em pó
Isto faz-me lembrar já
Quando a seara ardeu.
Isso não alcancei eu
Senão apenas a ler
Pode o mesmo acontecer
Desde que Deus não acuda,
Se o vento dali não muda
O rico fica a dever.
Domingos Moreira
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1 comentário:
BELÍSSIMAS E MUITO VERDADEIRAS !!!
Muito Obrigada.
Uma Alandroalense emocionada... (L...)
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