sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

POETAS DO CONCELHO D' ALANDROAL

XII DÉCIMAS

Décimas populares pelo poeta Domingos Mendes Moreira, natural da aldeia de Montes Juntos, freguesia de Santo António de Capelins do concelho de Alandroal. Nasceu no ano de 1906 e foi de profissão trabalhador rural. Começou a fazer poesia ainda muito jovem e é mais um dos poetas que constam do livro «Cantadores de Alegrias, Mágoas e Mangações», editado pela Câmara Municipal de Alandroal no ano de 1993. 
Poet'anarquista
Domingos Mendes Moreira
Poeta Popular

Mote

Ó que desgraça tamanha!
Se por dias não chover
O seareiro fica à pida*
O rico fica a dever.

Glosas

Os campos estão um horror
Não há nada que dê esperança
Parece isto uma vingança
Que nos fez Nosso Senhor.
Se houver algum pecador
Para que é que todos apanha
O vento é uma gadanha
Afiada com bom corte,
Origem de tanta morte
Ó que desgraça tamanha!

Ontem fui ver a seara
As espigas já ardiam
Quase em bica corriam
As lágrimas na minha cara.
Se a virgem nos não ampara
Ai de nós o que há-de ser
Já que Deus não quer saber
Vem tu, Virgem, dar-me a mão,
Triste desta povoação
 Se por dias não chover.

Há adubos a pagar
Há ferragens e madeiras
Pagamos às mondadeiras
Algum trigo temos que o ceifar.
Mas depois ao debulhar
É  sempre pouca a medida
Isto é um chorar em vida
Sem nada remediar,
Se Deus por aqui não passar
O seareiro fica à pida.*

A erva desapareceu
A terra está feita em pó
Isto faz-me lembrar já
Quando a seara ardeu.
Isso não alcancei eu
Senão apenas a ler
Pode o mesmo acontecer
Desde que Deus não acuda,
Se o vento dali não muda
O rico fica a dever.

Domingos Moreira
*Pedir esmola

1 comentário:

Anónimo disse...

BELÍSSIMAS E MUITO VERDADEIRAS !!!

Muito Obrigada.

Uma Alandroalense emocionada... (L...)