«O Outro Eu»
Retrato de JPGalhardas
MOTE
(Inspirado nas décimas de Francisco José Bexiga)
Dentro de mim são dois quem mora
Às vezes só um dentro quer estar
Quando um pensa sair p’ra fora
Logo o outro pensa não abalar.
Penso ter dois dentro de mim
Sempre em grande contradição
Se um deles diz ser assim
Logo o outro pensa que não.
Sinto em ambos agitação
Um desejando ir-se embora
O outro não perdendo p’la demora
Diz então querer ficar,
Deus deu-me este rico par
Dentro de mim são dois quem mora.
É duplamente desigual
Não sei p’rá onde pender
Parece-me uma cena irreal
Nenhum se querer entender.
Se um fala que quer morrer
Está o outro p’ra contrariar
Vivo assim uma vida a dobrar
Como descrevo, foi dado o mote,
Tirar entre dois um à sorte
Às vezes só um dentro quer estar.
Nem p’la noite, se adormeço,
Me livro desta dupla sequela
Um deles em profundo descanso
O outro desperto abrindo a janela.
Fica então de sentinela
Tic-taque, hora após hora,
Só um dos dois dentro mora
O outro anda a vaguear,
Que triste este meu penar
Quando um pensa em sair p’ra fora.
Eu bem tento meter na ordem
Estes dois que tenho cá dentro
Mas certo haverá desordem
Por querer uni-los ao centro.
Sem encontrar um epicentro
Que os ponha a concordar
Resolvo finalmente abandonar
À sorte, estes dois em mim,
Um dia isto há-de ter um fim
Logo o outro pensa não abalar.
Matias José
3 comentários:
SENSACIONAL!
EXCELENTE!!
GENIAL!!!
En Passant
Muito bem caro poeta!
Boas, muito boas!
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